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Mineira conta a experiência de viver a pandemia em Madri e em BH

No Diário da quarentena, a empresária Luiza Toledano, que mora na Espanha, revela sua apreensão com a forma como o Brasil está enfrentando o coronavírus


postado em 23/03/2020 04:00

DIÁRIO DA QUARENTENA

Sorrindo com os olhos

Luiza Toledano, empresária


Sem nenhuma vaidade, tinha terminado de arrumar a mala enquanto já me esperavam na porta da minha casa para irmos para o aeroporto. Estava me atrasando inconscientemente, porque uma parte de mim não queria ir. Entrei no avião no dia 10 de março com um sorriso amarelo no rosto. O coração apertado e dividido.

Quando tudo começou a acontecer em Madri, tínhamos referência apenas do que estava ocorrendo na Itália. E vimos, dia após dia, os mesmos fatos acontecerem em nossa cidade, num cenário onde a contaminação e o medo só cresciam de forma exponencial. As informações chegavam em tempo real, os sites de notícias nos atualizavam a cada minuto. O panorama ia mudando sem dar tempo da nossa cabeça processar o que estava acontecendo. Não deu nem tempo de negar, não deu tempo para aquele sentimento de negação do que estava acontecendo se instalar. Reagimos nos protegendo como podíamos, preparando a casa para os dias de quarentena obrigatória que viriam.

Peguei o voo sabendo que estava indo para o Brasil com a grande possibilidade de não poder voltar para casa tão cedo. É difícil fazer uma escolha assim. Quando entrei no avião, estava cansada. Cansada da incerteza, do estresse vivido nos últimos dias, mentalmente cansada de toda a situação, e, sobretudo, da vivência do pânico geral da população. Não se falava de outro assunto além do COVID-19. Parecia um filme.

Resolvi viajar de máscara, a máscara correta para a situação FPP2, protegendo quem estava ao meu lado no avião. Afinal, mesmo sem qualquer sintoma, estava saindo de um dos maiores focos de contaminação de coronavírus do mundo. Quando entrei no avião, sorri, como era meu costume, e cumprimentei todos ao meu redor. Naquele momento, percebi que só sabiam que eu estava sorrindo pelo meu olhar. Os passageiros, também de máscara, sorriram de volta com o olhar. A máscara veda tudo, mas não tampa o nosso amor.

Não voltei fugindo do coronavírus. Sempre passo março e abril, novembro e dezembro trabalhando no Brasil. Era hora de vir trabalhar na Páscoa do Les Juliettes, um dos projetos mais planejados dos últimos meses. Já tinha a viagem agendada há bastante tempo. Provavelmente, se ela não fosse programada, não teria vindo. Meu marido está em Madri, a minha casa e grande parte da minha vida é lá. Senti, inclusive, grande culpa quando o avião decolou, com o pensamento de que deveria viver este momento junto do país, dos amigos e da família que me acolheram como se eu tivesse nascido na Espanha.

Aterrissei no Brasil emocionada. Quando desci do avião, encontrei um cenário bem diferente daquele que imaginava. Pensei que mediriam a nossa temperatura, fariam perguntas sobre os locais onde estávamos, sintomas. Mas nada disso ocorreu. Foi aí que percebi: assim como tive a iniciativa de viajar de máscara, eu mesma deveria tomar outras iniciativas, como impor a minha própria quarentena, mesmo sem ter qualquer sintoma, e conscientizar as pessoas ao meu redor e ao meu alcance.

Realmente espero – de coração – que o pânico não chegue por aqui da mesma forma como chegou a Madri. Ou que, pelo menos, passemos por este momento difícil de uma forma mais leve. Cada um deve, mais do que nunca, ser responsável por seus atos, pensar no bem comum.

Meu lema agora, já que não sei quando poderei voltar para casa e ver meu marido, é viver um dia por vez. Viver com serenidade e calma para tomar minhas decisões, e com muito mais carinho e amor por todos que me cercam. Um ato de carinho, neste momento de tantas incertezas e frustrações, acalma o coração de quem está passando por essa situação. 

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