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Estado de Minas DA ARQUIBANCADA

Como um menino revolucionou venda de ingressos no Cruzeiro

Com Maranguape, que vivia da renda de sua bicicleta, nasceu o programa de sócio-torcedor para os cruzeirenses


16/02/2022 04:00

Torcida do Cruzeiro no Mineirão
Detalhe da China Azul: meta é chegarmos aos 50 mil sócios-torcedores para fortalecer os projetos celestes (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press - 1/10/17)


Quando chegarmos à marca dos 50 mil sócios-torcedores, sem mesada de bilionário do Brasil Miséria, sem narrativa criada pela “aldeia”, lembre-se: essa história começou em 2004, com um menino da zona norte de Belo Horizonte. De joelhos, cabeça e coração enormes, ele acalentava o sonho de sempre ter um ingresso para assistir ao Cruzeiro.

Na década de 1990, o pior castigo para uma criança era o sofrimento de ser obrigado – pelos pais – a torcer para outro time que não o Cruzeiro. Mas para os cruzeirenses, campeões a toda hora, esquina ou torneio, a vida também não era só de céu azul. Havia um drama quase semanal: conseguir ingresso para os jogos do escrete multicampeão.

Filas dobravam quarteirões no Barro Preto, no posto do PSIU da Praça Sete e no velho Mineirão. Horas de espera, confusões, chuva e sol forte. Nós, do interior, ainda dependíamos dos organizadores das caravanas, que dormiam madrugadas à espera da abertura das bilheterias.

Não à toa, muitos ainda guardam os ingressos de papel com a mesma euforia de Ademir, Nonato ou Gottardo erguendo as taças. O meu canhoto do 3 a 0 sobre o River Plate, em 1991, declaro no Imposto de Renda.

Se as filas atingiam a todos, para muitos, a dificuldade financeira tornava mais difícil o desejo de estar dentro do Mineirão. Muitas vezes, abafado – num choro silencioso –  pela falta de dinheiro, contado para o básico da família.

Cristiano cresceu com as filas e a luta da vida. Por amor incondicional ao Cruzeiro, desde criança meteu o pé e deu seus corres. Enquanto a bicicleta era brinquedo para uns, para ele, era meio de ganhar um salário como entregador da farmácia e ajudar em casa.

Para o ingresso, às quartas-feiras e domingos ia para as redondezas do Mineirão. Vigiava e lavava carros. Dos trocados recebidos, inteirava para assistir a Douglas, Careca, Boiadeiro, Marcelo Ramos, Roberto Gaúcho e tantos outros ídolos. Se não juntasse o suficiente, o jeito era o muro alto. Saltava e corria. Coração disparado. Gritando “Cruzeiro” nas arquibancadas ou na geral.

Cristiano “Maranguape” virou homem-feito na mesma época em que o drama das filas quilométricas também marcou a trajetória da Tríplice Coroa.

Porém, em 2004, o amigo Boia, funcionário de uma empresa aérea, conseguiu para eles um ano de passagens grátis. O menino da bicicleta poderia voar pelo Brasil para assistir ao seu Cruzeiro. Sem filas. Mas e o ingresso? A Boia e Maranguape se juntaram outro amigo – Bruno – e um rapaz de nome Bernardo Mota. Ele trabalhava no clube e arrumaria ingressos promocionais para o quarteto.

Formaram o bonde para São Paulo, numa noite fria de julho. A derrota por 1 a 0 para o São Caetano não foi tema da resenha no voo de volta. Os novos amigos só falavam do amor pelo Cruzeiro. A alegria incontida deu coragem a Bernardo para dividir com Maranguape uma segredo profissional. O clube estava estudando lançar um cartão por meio do qual quem se tornasse uma espécie de “sócio” teria direito ao ingresso para os jogos sem enfrentar o trauma das filas.

Maranguape olhou pela janela do avião. Fascinado. “Cara, peraí. Todo jogo eu vou ter meu ingresso pra ver o Cruzeiro? Isso é o sonho da minha vida!”

No dia seguinte, Bernardo entrou na sede do Barro Preto correndo, esbaforido. Moleque ainda, saltou à frente dos chefes. “Estamos no caminho certo! Esse é o sonho de quem ama o Cruzeiro”.

Meses depois, era lançado o Cartão Cinco Estrelas, primeiro programa de sócio-torcedor. Maranguape comprou o “Sócio Platina”. R$ 33 pagos com os bicos de chapa, descarregando carretas de quartzo.

Há 16 anos, o menino da Zona Norte foi o estalo para a concepção do programa. Para o amigo Bernardo Mota, Cristiano Maranguape, sem saber, foi um dos idealizadores “da parada”, o primeiro sócio-torcedor do Time do Povo Mineiro.

A partir de hoje, sempre contarei a história do menino da bicicleta que só queria ter um ingresso para ver o Cruzeiro jogar. Até nos tornarmos 49.999 sócios torcedores ao lado do Maranguape.


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