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Estado de Minas DA ARQUIBANCADA

Cruzeiro precisa aprender com as lições solidárias de sua velha guarda

Figuras como Antônio Tropia, Plínio Barreto e Felício Brandi deveriam ser espelho para a nova geração de torcedores e dirigentes


20/01/2021 04:00 - atualizado 20/01/2021 08:49

O jornalista e cronista Plínio Barreto, autor do livro De Palestra a Cruzeiro, um dos símbolos da genuína paixão celeste(foto: MARCOS MICHELIN/EM/D.A PRESS - 11/9/02)
O jornalista e cronista Plínio Barreto, autor do livro De Palestra a Cruzeiro, um dos símbolos da genuína paixão celeste (foto: MARCOS MICHELIN/EM/D.A PRESS - 11/9/02)


A hombridade em estender a mão sem rancor ou desejo de vingança. A dignidade em pedir ajuda, se despindo de vaidade ou prepotência. São dois atos distintos e complementares vindos do berço cruzeirense. Oriundi do caráter palestrino. Deveriam ser praticados por todos os dirigentes, ex-dirigentes (os não bandidos), conselheiros (os não paquidermes) e torcedores influentes nesse instante de sangramento do único grande clube de Belo Horizonte nascido do desejo popular.

A essas pessoas dedico a história de um humilde sapateiro, que um dia estendeu a mão a um garoto e, sem imaginar, abriu o caminho para forjar a paixão cruzeirense de dois ícones de nossa história.

***

Chapéu à cabeça. Malas e ferramentas nas mãos. Antônio Tropia chegou a Belo Horizonte, vindo de Ouro Preto. Era 1919. Parou na esquina da Rua da Bahia com a Avenida Paraopeba (hoje, Augusto de Lima), no Barro Preto. Um dos bairros populares para onde a oligarquia da nova capital empurrava imigrantes e operários.

A pequena casa geminada abrigou a família e a oficina. Por entre moldes e tiras de couro, o sapateiro participava ativamente do burburinho que tomava conta da comunidade italiana. Criariam um clube para jogar futebol e torcer. Dois anos depois, em 2 de janeiro de 1921, Antônio celebrava a fundação da Società Sportiva Palestra Italia.

Tornou-se palestrino fervoroso. Um dos primeiros sócios do clube. Doava-lhe tudo. De dinheiro ao trabalho. Nos treinos, compunha o time reserva para dar tarimba ao escrete titular. Na sua posição, o Palestra contava com Ricardo Pieri Chiari, o genial Piorra.

Anos depois, o estadinho do Barro Preto ficava lotado em todas as pelejas. Já se praticava a hombridade de estender as mãos. Os sócios tinham o direito de entrar com duas crianças vindas de famílias sem condições para pagar ingressos. Antônio sempre dava a sua oportunidade a um garotinho de nome Plínio. O menino não perdia nenhum treino do Palestra e, aos domingos, seu coração disparava na beira do campo ao chegar pertinho de seu ídolo, Niginho Fantoni.

De moleque, Plínio foi a rapazote. O Palestra passou a dividir seu coração com uma moça chamada Elim. Enamoram-se e, um dia, ao vê-la no balcão da oficina de Antônio, o moço descobriu: o amor de sua vida era a filha do sapateiro.

Nesse mesmo tempo, não se sabe se por confiança ou pelo jeito palestrino de pedir e oferecer ajuda, coube ao mesmo Plínio a função de estender a mão. Em dia de treino ou jogo, Dona Rosa, “a senhora do macarrão”, vivia a ansiedade de seu pequeno filho por descer correndo até o campo do Barro Preto. Então, ela mandava chamar Plínio. Só confiava a ele a tutoria da marcha ao estádio.

A diferença de seis anos não impedia a resenha entre os dois jovens pelo caminho. A defesa de Geraldo II, o gol de Niginho, o drible de Alcides. Na companhia de Plínio, os olhos de Felício brilhavam como estrelas de tanta paixão por um time.

Foi assim, do simples ato de fazer o bem pelo time do coração que o sapateiro Antônio Tropia ajudou a forjar o maior cronista e pesquisador da história do Palestra/Cruzeiro, Plínio Barreto. Esse guardião, por sua vez, foi o companheiro do fervilhar do coração estrelado de Felício Brandi, o maior presidente do clube.

Um sapateiro, um cronista e um dirigente. Hombridade para oferecer ajuda e dignidade para pedi-la. Na sua obra-prima, De Palestra a Cruzeiro, escrita em parceria com o filho, Luiz Otávio, Plínio descreveria esse tipo de gente assim:

“O Palestra era a agremiação dos que arregaçavam as mangas nas indústrias da panificação, nos andaimes das construções civis, nas oficinas de calçados, nas serrarias, marcenarias e serralherias, na condução de carroças. Onde houvesse um setor cuja mão de obra – especializada ou não – fazia-se necessária, lá estava um palestrino – italianos e brasileiros – colaborando com o seu trabalho para o progresso da nova capital. Lado a lado, clube e cidade caminhavam rumo ao progresso. Lado a lado arregaçavam as mangas.”? 

Tristes dirigentes, ex-dirigentes, conselheiros e torcedores influentes que não conhecem e tampouco praticam o “pedir e oferecer” da história do Palestra/Cruzeiro.

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