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Estado de Minas DA ARQUIBANCADA

Joanita, a guardiã de uma história de amor chamada Palestra/Cruzeiro

O manto sagrado caiu-lhe como segunda pele. Não por menos, Joanita entrava para um escrete de mulheres espetaculares


30/12/2020 04:00 - atualizado 30/12/2020 00:56

Joanita chegará ao centenário do Palestra/Cruzeiro tendo dedicado quase 30 anos de sua vida a preservar as memórias do clube(foto: Gustavo Nolasco/Arquivo Pessoal)
Joanita chegará ao centenário do Palestra/Cruzeiro tendo dedicado quase 30 anos de sua vida a preservar as memórias do clube (foto: Gustavo Nolasco/Arquivo Pessoal)
O ano de 2020 chegará ao fim daqui a algumas horas. Ficará marcado pelo recrudescimento de sentimentos antagônicos do futebol mineiro: o amor (do cruzeirense por seu time) e o ódio patológico (do atleticano de Lourdes em relação ao Cruzeiro).

Do lado de lá, em 2020, personagens insignificantes na história deles, como Sérgio 6+1 Câmara e Lázaro Cândido, decadentemente, se prestaram a destilar ódio e inveja contra o Maior de Minas. Uma grotesca cortina de fumaça para a administração fracassada (ao ponto de serem alçados a “rainhas da Inglaterra”). Um espetáculo vergonhoso até mesmo para a Turma do Sapatênis.

Mas peço licença para deixar sentimentos ruins para trás. Volto o rumo do rabisco para a alma cruzeirense. Para sentimentos de natureza positiva, respeitosos e longe de traumas. Tristezas? Tivemos, óbvio!

Mas não pelo sucesso do outro. Não fosse assim, não teríamos passado 2020 tão determinados em buscar justiça contra os criminosos que mancharam – com a lama deles – a limpa história da instituição Palestra/Cruzeiro.

Mas sem perder a ternura, mesmo no nosso pior capítulo, destinamos o tempo à paixão incontestada pelas cinco estrelas. E para homenagear essa postura da Nação Azul, dedico essa derradeira crônica de 2020 a contar a história de uma personagem incrível.

Primeiro dia de agosto de 1995. O RH do Cruzeiro registrava o contrato de um reforço. Não calçava chuteira. Nenhum gol anotado na carreira. Estatura mirrada para encarar pelejas. Mas a personagem, vinda da pequenina cidade de Ferros, trazia consigo um talento caro ao futebol arte cruzeirense: a paixão por preservar bonitas histórias!

Joanita Souza da Silva. Era seu nome. A moça magra, cabelos loiros nos ombros e um olhar absurdamente tímido. Chegava para compor o time do Departamento de Relações Públicas, setor responsável por multiplicar em milhões a maior e mais bacana torcida de Minas Gerais.

O manto sagrado caiu-lhe como segunda pele. Não por menos, Joanita entrava para um escrete de mulheres espetaculares.

Da primeira Rainha do Palestra, Horizontina Federici Miraglia, que honrando o caráter do Palestra/Cruzeiro dava boas vindas aos adversários lhes entregando flores. Da trinca genial de relações públicas Ignês Helena de Abreu, Ângela Azedo e Rita de Cássia Pereira. Das milhares de cruzeirenses responsáveis pelo eterno recorde de público do Mineirão, em 1997. Da maior torcedora do mundo, Salomé.

Se o Cruzeiro dedicasse uma estrela para cada legado de suas mulheres, não poderia resumir seu pavilhão a apenas cinco.

Com o tempo, Joanita encontrou sua função tática no time: defender a história do clube. Por lutar pela preservação de documentos e objetos raros do Palestra/Cruzeiro, sofreu preconceito e perseguição. Precisou brigar com pessoas que queriam jogar fora as “tralhas” dela.

Numa das mudanças de sede do clube, lançou-se num caminhão para onde taças eram jogadas como lataria velha. Quando implorou para que contratos de atletas do Palestra não fossem queimados, eles foram arremessados no seu rosto como um cuspe de desdém.

De batalha em batalha, Joanita foi resgatando pequenas “fortunas” espalhadas por cantos esquecidos. Foi organizando 100 anos de troféus, publicações e fotografias. Enquanto jogadores davam voltas olímpicas a cada título, a moça derramava lágrimas de alegria pelos olhos tímidos a cada objeto recuperado e transformado – por ela – em acervo histórico para as gerações futuras.

Joanita chegará ao centenário do Palestra/Cruzeiro tendo dedicado quase 30 anos de sua vida a preservar as memórias do maior e mais amado clube de Minas Gerais.

Lembrei-me disso hoje, enquanto brincava de escalar os 11 do meu “escrete de todos os tempos”. Até agora não conseguir decidir quais serão os outros 10 que estarão ao lado de Joanita, a guardiã celeste de toda essa história de amor chamada Cruzeiro.

(*) Divido a autoria dessa homenagem com amigos que me ajudaram a reviver o legado da guardiã Joanita, entre eles, minha companheira de labuta Rita de Cássia, a guerreira Deis Chaves, Marcone Barbosa, Giane Faria, Márcio e Ângela Azevedo.

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