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Estado de Minas DA ARQUIBANCADA

Gigante um dia com Felício Brandi, o Cruzeiro se curvou aos paquidermes

A eleição do novo presidente do Conselho Deliberativo é um tapa na cara do torcedor. Reforça o sistema ultrajante de castas e conivência com o mal


02/12/2020 04:00

Felício Brandi foi responsável por uma verdadeira revolução não só no Cruzeiro, mas no futebol brasileiro(foto: O Cruzeiro/Arquivo Estado de Minas - 3/2/1969)
Felício Brandi foi responsável por uma verdadeira revolução não só no Cruzeiro, mas no futebol brasileiro (foto: O Cruzeiro/Arquivo Estado de Minas - 3/2/1969)


“Depois da vergonha e da frustração da Copa do Mundo, nenhum acontecimento teve a importância e a transcendência da vitória de anteontem. Por outro lado, não foi só a beleza da partida, ou seu dramatismo incomparável. É preciso destacar o nobre feito épico que torna inesquecível o feito do Cruzeiro. Não tenhamos medo de fazer a sóbria justiça: aí está, repito, o maior time do mundo”.

Na preguiçosa manhã daquela sexta-feira, 9 de dezembro de 1966, o Jornal dos Sports estampou essa ode à Academia Celeste, assinada por Nelson Rodrigues, o maior cronista brasileiro de todos os tempos. O escrete mágico, montado por um dirigente italiano de nome Felício Brandi, havia colocado de joelhos o Santos, de Pelé, conquistando a Taça Brasil. Naquele dia, apresentou ao país algo desconhecido até então: o futebol mineiro.

Foi apenas um dos feitos de Felício, contemporâneo de uma geração de palestrinos e cruzeirenses, como seus amigos da Família Fantoni, que jamais se colocava acima do clube ou da torcida. Nessa toada, ele honrou e ampliou – exponencialmente – o legado de seus antecessores.

Ao Cruzeiro, tudo. Do Cruzeiro, nada. Às vésperas das partidas, era corriqueiro testemunhar Felício assinando um cheque de sua fábrica para comprar centenas de ingressos. Entregava-os aos operários e torcedores mais humildes, como um treinador distribui as camisas aos jogadores titulares.

Por amor e exemplo, ele convocava conselheiros do clube a fazerem o mesmo. Assim, aos domingos, a geral e as arquibancadas do Mineirão se pintavam de azul e branco, com a torcida dos trabalhadores e operários.

Se os palestrinos deram ao povo um time; Felício fez do povo o time do Cruzeiro. Anteontem, a Toca da Raposa I ganhou o nome oficial de seu criador: Centro de Formação Felício Brandi. Guardado sob o olhar do busto do ex-presidente aos pés da escadaria construída por ele mesmo. O dia entraria para a história do Cruzeiro apenas como sendo de festa e justiça, não fosse uma trama que iria ocorrer horas depois no Barro Preto.

O enredo de traições, vaidades, omissões, covardias e tramoias para a eleição do novo presidente do Conselho Paquiderme Deliberativo transformou-se num tapa na cara do torcedor. Um escarro no legado de gente como Felício Brandi.

Foi como uma biópsia comprovando o quanto ainda está vivo o câncer da gestão Wagner Nonato Pires Machado de Sá, assim como dos grupelhos das diretorias anteriores e de famílias que há décadas sugam o corpo apodrecido do Cruzeiro.

Não se tem aqui qualquer defesa a outro candidato ou corrente política. Há, sim, um desabafo sobre como nada mudou e tampouco se alternará nos próximos anos. O CNPJ do time fundado para ser de todas e todos continuará sendo o curral ou a mesa de carteado de gente que assinalou “não ter visto nada de irregular” na gestão dos canalhas de 2018/2019.

A eleição dos Amigos de Wagner e Itair (homologada por seus velhos e novos cúmplices) se deu graças ao arcaico sistema de castas, em que um paquiderme benemérito ou nato vale cinco, seis vezes mais do que um efetivo comum. Em que sócios, sócios-torcedores e nós, torcedores da geral e da arquibancada, que sustentamos essa máquina sangrada, somos os fiadores desse zoológico.

Esse mesmo sistema de castas higienista, que de forma omissa e sapatênis, foi mantido na proposta do “novo (sic), moderno (sic) e democrático (sic)” estatuto. Admito. Aos poucos, vou perdendo as forças até para ter ódio. Com relação a cada um dos personagens desse dia macabro da eleição do novo presidente do Conselho Paquiderme Deliberativo, seja ele omisso, conivente, covarde ou cúmplice, o meu sentimento é de tristeza pela pobreza de caráter.
 
Se hoje Nelson Rodrigues estivesse a rabiscar uma crônica sobre o atual Cruzeiro, certamente, escreveria: “Se o busto de Felício Brandi pudesse, estaria chorando”.
 

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