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Estado de Minas DA ARQUIBANCADA

Ser Cruzeiro na era das "lives" e da pandemia do novo coronavírus

Como sobreviver à abstinência dos encontros nos estádios de futebol


postado em 15/04/2020 04:00

Ademir, ex-volante e ídolo da torcida cruzeirense nos anos 1980 e início dos anos 1990(foto: Marcos Michelin/EM/D.A Press - 2/9/12)
Ademir, ex-volante e ídolo da torcida cruzeirense nos anos 1980 e início dos anos 1990 (foto: Marcos Michelin/EM/D.A Press - 2/9/12)


Sou dos tempos dos caderninhos de autógrafos, onde cada página tinha um rabisco e ao lado, com minha letra de forma, o nome do autor da assinatura inelegível. Guardo o do Ademir até hoje. Jogado numa caixa de lembranças, em meio às revistas Placar, das quais recortava escudos para enfeitar os goleiros de caixa de fósforos do meu escrete de futebol de botão. Por passar infância e adolescência numa cidade interiorana, longe do meu time amado, não entrei para o hall dos mais sortudos colecionadores de relíquias junto aos velhos ídolos. Não guardo fotos, camisas de jogo, entradas em campo de mãos dadas com os jogadores nem tampouco visitas semanais à velha Toca da Raposa para assistir de perto aos treinos.

Neste tempo de quarentena, lembrei-me do quanto a ausência dos jogos nos priva de construir também essas memórias afetivas. Arranca-nos o prazer de fazer parte dos espetáculos, onde as pelejas são apenas cenário para emoldurar os encontros entre os jogadores e nós, torcedores.

No fundo, futebol é a arte do estar junto. Nunca se limita ao 11 contra 11. Ao lado dos títulos, as histórias construídas pelos torcedores com seus ídolos é o ápice desta aventura de amar o esporte das multidões.

Talvez por isso, hoje, em tempos de isolamento, as “lives” têm suprido – de certa forma – essa abstinência. Tenho conduzido várias delas a convite do Cruzeiro e da Cruzeiro Esporte Tour. Estar ali, mediando o encontro entre ídolos e torcedores comuns, como eu, me leva de volta aos tempos de autógrafos e encontros guardados na memória como troféus.

Numa “troca de histórias” que venho promovendo entre cruzeirenses, me deparei com um desses sortudos colecionadores dos encontros com os ídolos, o amigo querido Renatão Gomes. Deixo a ele mesmo o papel de narrar a relíquia da sua caixa de lembranças.

“Era 1988. Eu tinha 16 anos. Vivia a doloridíssima saída do meu ídolo de todos os tempos, Douglas, para o Sporting. Foi quando também o Cruzeiro chegou a quase ser campeão da Supercopa, perdendo a final para o Racing.

Mesmo com essas tristezas, não deixava de ir a todos os jogos na Toca 3. Foi quando surgiu a oportunidade de acompanhar o primeiro jogo fora de Belo Horizonte. No dia, no saudoso e emblemático ônibus Trovão Azul, junto da delegação, apenas eu e o Cachu representando a nossa torcida, a Garra Azul. Iríamos para Sete Lagoas enfrentar o Democrata.

Ao entrar no ônibus, ainda dentro da Toca da Raposa, meu coração quase parou ao ver, na primeira cadeira, Ademir, o capitão e mestre da raça e da seriedade na prática do futebol. Com um breve balançar de cabeça e um sorriso, ele quase me levou às lágrimas de felicidade. Tímidos e novinhos, sentamos no primeiro conjunto de bancos para a viagem. Vestidos com a camisa branca da Garra Azul e segurando o saco com as bandeiras. Na minha cabeça, um boné simples do Cruzeiro.

Viajamos sem falar uma palavra sequer, emocionados e pasmos com a oportunidade. Ao entrar na avenida principal de Sete Lagoas, rumo ao antigo estádio, o motorista precisou andar muito lentamente, arrastado, diante da multidão a cercar o ônibus. Milhares de torcedores passavam pedaços de papel e caneta pelas janelas para os jogadores autografarem, numa histeria mágica e contagiante.

Na primeira janela do lado direito, eu assistia àquela cena com um sentimento de orgulho por estar junto daqueles ídolos que representavam a maior paixão de Minas Gerais. De repente, recebi um papel e uma caneta pela janela. Não pestanejei. Assinei meu nome e devolvi à torcedora, me sentindo um herói. Após o jogo, depois de voltar da arquibancada para o ônibus, ocupei meu lugar e ao meu lado sentou o espetacular lateral-direito Balu, outro grande ídolo meu na época. Ele me pediu o boné do Cruzeiro que usava. Retirei da minha cabeça e coloquei na dele, como se fosse uma coroa para celebrar o rei da margem direita dos campos”.

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