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Estado de Minas DA ARQUIBANCADA

Robinho com a 10 pode ser a solução para o Cruzeiro

Para o esquema de Rogério Ceni, com ponteiros de explosão, nos falta um camisa 10 de lançamentos imprevisíveis


postado em 18/09/2019 04:00 / atualizado em 18/09/2019 13:04

Apesar de não estar em plena forma, os lançamentos de Robinho para Pedro Rocha e David podem ser o toque que falta à estratégia de Rogério Ceni(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press - 5/6/19)
Apesar de não estar em plena forma, os lançamentos de Robinho para Pedro Rocha e David podem ser o toque que falta à estratégia de Rogério Ceni (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press - 5/6/19)


Quando se trata de clube e torcida gigantes como o Cruzeiro, mesmo no desespero momentâneo, no fundo, nos falta muito pouco para sairmos desse estado de letargia, dessa sensação semanal de espera sem fim por um sinal de recuperação. Por isso, matutei e lasco um palpite: o que nos falta é encontrar o nosso número 10 e seguir uma receita de resiliência a qual que dei o nome de “Daniela”.
 
Essa poção mágica, meio maluca, me veio à cabeça no domingo passado, sentado no cinema à espera do anúncio dos filmes vencedores da edição número 10 do Cinefoot, o maior festival de cinema de futebol das Américas.

Enquanto o evento não se iniciava, lancei-me à difícil missão de entender como, no dia anterior, o Cruzeiro deixou de vencer o Palmeiras do Manobol. Tínhamos jogadores agudos e rápidos, e verdadeiras avenidas nas laterais do time paulista, mas nos faltou um 10. Um ponta de lança, porque ponteiros velozes e dribladores não foram feitos para carregar a bola no meio campo, mas, sim, para serem lançados no contrapé dos marcadores.

Abandonei o raciocínio tático-corneta quando uma menina guerreira de cabelos ruivos soltou a voz para iniciar a solenidade. Pouco antes, com os olhos marejados de saudade, ela havia relembrado o ritual dos jogos do Cruzeiro na casa de sua Vovó Ivone, uma cruzeirense apaixonada pelas cinco estrelas. Bastava iniciar a transmissão da TV para que a vovó fugisse da sala. Não assistia aos jogos, só se permitia escutá-los pelo rádio.

Aos primeiros gritos do locutor, Vovó Ivone corria pela ponta direita do alpendre. Centralizava pelo corredor até fazer um corta-luz, lançando-se pela cozinha. Tudo sob o atento olhar da netinha Daniela, vidrada no rito encantado da vó cabulosa.

Gol do Cruzeiro! Enquanto uns vibravam com o replay pela TV, longe dali, colada ao rádio, Vovó Ivone lançava sua canequinha ao chão. O tilintar do metal no assoalho era seu grito de gol.

Foi assim até o dia em que caiu doente, em estado de coma. Não havia esperança de um sinal de recuperação. Mas a netinha Daniela fez como a torcida do time de sua Vovó Ivone. Foi ao CTI todos os dias. Sentava ao lado do leito, como quem senta na arquibancada do Mineirão. Sonhava um dia chegar e encontrar a avó com os olhos abertos. Criou seu ritual. Sabia por onde a alegria pelo Cruzeiro deveria invadir o corpo e a alma de sua avó e, escondida das enfermeiras, Daniela colocava seu telefone bem coladinho ao ouvido da Vovó Ivone e fazia tocar o hino cruzeirense.
 
Vovó Ivone e sua neta, Daniela(foto: Cleo Fernandes)
Vovó Ivone e sua neta, Daniela (foto: Cleo Fernandes)
 
 
Assim como seremos nessa semana de pré jogo contra o Flamengo, naquele tempo Daniela foi resiliente e, num certo dia, Vovó Ivone, ao som do “existe um grande clube na cidade”, abriu os olhos e deu à netinha o gol mais bonito de sua vida: um sorriso.

Revivi essa história quando a própria Daniela, na sala de cinema, anunciou: Azul Escuro, do Coletivo 1921, era o grande vencedor do Cinefoot. Logo um filme sobre Seu Lúcio, o cruzeirense cego que vive na Amazônia. Um personagem que, como Vovó Ivone, só acompanha o Cruzeiro pelos sons.
 
Os integrantes do Coletivo 1921, vencedores do Cinefoot com o filme
Os integrantes do Coletivo 1921, vencedores do Cinefoot com o filme "Azul Escuro", com Daniela Fernandes, organizadora do evento em BH (foto: Fransergio Paiva)
 
 
Deixamos o cinema com taça, lágrimas e a linda história da netinha de cabelos ruivos. No caminho, voltamos à vida real, à espera por um sinal de recuperação do estado de coma em que se encontra o nosso escrete no Brasileirão.

Voltamos a pensar na falta de um camisa 10 dos lançamentos em profundidade, dos rumos imprevisíveis, da sequência de jogada em direção à meta adversária, do inesperável nascedouro de gols incríveis. A figura do maestro.

Quando Rogério Ceni perceberá a falta desse regente para realmente aproveitar o potencial de explosão de Pedro Rocha e David? Hoje, no elenco abalado do Cruzeiro, só temos um jogador com características para tal. Gostemos ou não, esteja ele fora de forma ou não, esse possível maestro é Robinho.

Se a função tática do 10 irá para ele, dependerá do comandante. Já nós, torcedores, nos manteremos resilientes como Daniela. Aguardando a peleja do próximo sábado cantando, pra nós mesmos, o nosso hino de amor às cinco estrelas. Pacientemente, esperando que após o embate contra o Flamengo nos retornem sorriso e brilho nos olhos, enchendo nossos corações incrivelmente apaixonados pelo Cruzeiro como era o da Vovó Ivone.

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