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Estado de Minas DA ARQUIBANCADA

Arana, você deu sorte: livrou-se de um encosto

O buraco, no entanto, é mais embaixo, querido Arana. Ou mais acima. Precisamente no lado esquerdo do peito, no escudo: tá lá escrito CBF


10/09/2022 04:00 - atualizado 10/09/2022 06:58

Seriamente lesionado no joelho, lateral Guilherme Arana, do Atlético, está fora da Seleção Brasileira que disputará a Copa do Mundo do Catar
Seriamente lesionado no joelho, lateral Guilherme Arana, do Atlético, está fora da Seleção Brasileira que disputará a Copa do Mundo do Catar (foto: Lucas Figueiredo/CBF)

Arana, meu camarada, venho através desta me solidarizar a você neste momento de dor e tristeza. Há males que vêm para mal. Contudo, há males, bem mais raros, que vêm para bem – é esse precisamente o seu caso, o que explicarei mais adiante. Se me permite, dou-lhe uma sugestão para uso emergencial: aperte o botão do foda-se.

Arana, você é um dos nossos. Outro dia mesmo me foi solicitado, para a reportagem de um canal de televisão, que escalasse o Atlético de todos os tempos. Botei o Oldair na lateral-esquerda, afinal era um dos poucos craques do Galo campeão brasileiro de 1971. Foi dele o gol de falta contra o São Paulo no primeiro jogo da decisão do campeonato, que contava três times na fase final. Fiquei tímido, Arana: eu queria você. Vou pedir uma errata.

Arana, velho, eu sou um canceriano com ascendente em câncer, segundo uma amiga hippie que fez tal aferição há mais de duas décadas. Quis saber o que isso significava e ela, certamente para me poupar do pior, disse apenas “você sofre, hein?”. A que respondi, “bom, sou atleticano, né?”.

Sem entender nada de horóscopo e sem o menor interesse nisso, passei a justificar minha persistente visão do copo meio vazio com o tal do “câncer com ascendente em câncer”. É bom que encerra qualquer questão – muito melhor do que dizer ao seu interlocutor que, se ele está otimista, é somente porque não está entendendo nada.

Pois bem, sou um pessimista – mas um pessimista generoso: ofereço ao outro a metade cheia do copo, visto que dessa água jamais beberei. Por isso, Arana, te convido a pegar a visão: você deu sorte, amigo, e eu posso provar.

Há uma questão estética: você estará livre de vestir a amarelinha. Sim, a amarelinha já foi o seu sonho e o de muita gente. Mas, de uns tempos pra cá, esse símbolo mundial deixou-se levar pela crise estética que nos acomete concomitantemente à crise moral incentivada pelos imbrocháveis da nação.

De repentemente, a camisa que caía como luva agora assemelha-se à arquitetura da igreja universal, à sandália de dedo e ao pão com leite condensado do inominável fanfarrão. Acafonou-se, coitada, as naftalinas que deem conta das minhas, refugos de tecido morto no subsolo da gaveta.

Acanalhou-se também, meu caro Arana. Em outros tempos, quando os fascistas brasileiros eram chamados “integralistas”, usavam preferencialmente o verde do Exército – motivo pelo qual ganharam o apelido de “galinhas verdes”. (Como defensor do Galo e, por extensão, de galos e galinhas, deixo o meu protesto contra o uso indiscriminado das galinhas para fins de destruição das reputações.) Pois agora os fascistas já saíram do armário vestidos de seleção brasileira. Argh!, que nojo, meu amigo...

Fosse apenas a estética fascista, e tudo poderia ser resolvido com um rebranding bem feito, nada que a Nike não pudesse dar uma mão, ainda mais que essa moda começa a passar a partir de 2 de outubro. O buraco, no entanto, é mais embaixo, querido Arana. Ou mais acima. Precisamente no lado esquerdo do peito, no escudo: tá lá escrito CBF. A Casa Bandida do Futebol, conforme o nosso Juca.

A Casa Bandida do Futebol é a inimiga número 1 do Atlético em toda a sua história. Em seus bastidores tramou-se a suspensão de Reinaldo na finalíssima do Brasileirão de 1977. Por obra e graça da CBF, fomos vice-campeões invictos. Depois veio o Flamengo de 80 e 81, de José de Assis Aragão e José Roberto Wright, crias da mesma Casa Bandida do Futebol. O Galo seria campeão do mundo não fosse a CBF. Sem falar de 1999, 2007, 2012...

A verdade é dura, homem Arana: a CBF apoiou a ditadura. Ainda CBD, era comandada pelos generais, inclusive. Sempre do lado errado da história.

De modo, Arana, que você deu sorte. Quem veste a camisa da CBF acaba por receber todo tipo de encosto, urucubacas diversas. Faz pacto com o diabo. Minha seleção é o Clube Atlético Mineiro. A sua, por ora, também. Apenas agradeça.

Aproveito o ensejo, meu bom Arana, para propor sua inscrição no Movimento Corrente Pra Trás, do qual sou membro-fundador desde 1998. Somos milhões em ação, todos juntos, vamos, salve-nos da seleção! De repente é aquela corrente pra trás, parece que todo o Brasil largou mão. Seja bem-vindo, Arana! Hasta la victoria siempre! Da Argentina, por supuesto.

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