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O pontinho para o título do Galo virá aos 52 do segundo tempo

De acordo com a minha tese, coisas estranhíssimas acontecerão para o Atlético no Brasileiro, milagres diversos, forças transcendentais


19/12/2020 04:00

Com o Atlético, tudo se dá fora do normal, e será assim com a aparentemente improvável conquista do Brasileirão(foto: ALEXANDRE GUZANSHE/EM/D.A PRESS %u2013 25/11/20)
Com o Atlético, tudo se dá fora do normal, e será assim com a aparentemente improvável conquista do Brasileirão (foto: ALEXANDRE GUZANSHE/EM/D.A PRESS %u2013 25/11/20)

O Atlético é uma máquina demolidora de sonhos. É o trenó desgovernado passando por cima do Papai Noel.

Você não tem culpa: ainda na primeira infância te enfiaram isso na cabeça, sem que um Estatuto da Criança e do Adolescente pudesse protegê-lo da perversão dos adultos. Você acreditou: havia um velho batuta descendo pela chaminé inexistente. E era preciso aguardá-lo pendurando suas meias em um pinheiro de plástico.

A verdade, no entanto, sempre vem à tona, e aquele senhor com barba de Karl Marx, vestido em trajes de esquimó durante o tórrido verão, acabaria desmascarado. Tratava-se, agora se sabe, de um porco capitalista. Saído da propaganda da Coca-Cola, Papai Noel, o velho batuta, rejeita os miseráveis – presenteia os ricos e cospe nos pobres. A vida é Drurys, Chester tampouco existe na floresta, e assim passamos a conviver com os "fatos reais" nos dias que antecedem a Sidra Cerezer do Réveillon.

Por essa mesma época, digo, na primeira infância, muitos pais, talvez um tio, tenha lhe falado também sobre o Atlético. Você acreditou. Lembro de mim mesmo subindo a rua Ramalhete, eu e um primo atleticano, crianças. O Galo precisava vencer um jogo decisivo. Não cogitávamos outra coisa que não fosse a vitória. Não era torcida. Era uma certeza absoluta que advinha do fato de o Atlético ser o maior time do mundo – enfiaram isso em nossas cabeças. Na verdade, nem era apenas o maior time. Era a maior coisa do mundo, aquilo que não se explica direito, um sentimento, um pertencimento, a instituição que funciona. Não importando se aquilo descia pela chaminé inexistente. Aguardávamos, sem sombra de dúvidas, com nossos pinheiros de plástico.

Claro que perdemos. Ganhamos outras tantas, é verdade, mas o velho normal é a gente se lascar. Quantas vezes fomos desmascarados, pegos de calça curta. Mas, diferentemente do caso em que se enquadra o velho batuta, jamais colocamos a barba de molho. Com o Atlético a patologia é mais grave. Aos 50 anos, adentrados na trigésima quinta infância, não apenas seguimos achando como temos a inarredável certeza: nada no mundo é maior do que o Atlético, e por isso estamos predestinados a vencer, vencer, vencer. É como se, adultos, encontrássemos com o Papai Noel do shopping e boquiabertos disséssemos a nós mesmos e aos passantes: “Eu acredito”.

Jesus voltará. Dom Sebastião também. E o Atlético será campeão brasileiro outra vez, mais dia, menos dia – eu nem acredito, eu tenho certeza. Não havendo pandemia, o título chegará por essa época. Heróis desfilarão em trenós a céu aberto. A taça descerá pelas chaminés.

Lembro de mim mesmo, ali pela décima segunda infância, a celebrar o título do Corinthians sobre o Crüzeiro em 1998 no Bar do Salomão: “Doutor, eu não me engano, Papai Noel é atleticano!”. Mesma época em que cantávamos “O Crüzeiro tem cinco estrelas, cinco estrelas eles têm, só falta uma, a amarela, quem sabe ano que vem”. Em 99, o Corinthians ganhou a final da gente. O trenó desgovernado tinha alcançado o Papai Noel outra vez. A gente só se lasca.

Mas agora mesmo, olha o velho normal, tava a gente acreditando de novo – e a bem da verdade, confessem, ainda acreditamos. Sim, eu acredito! Porque o dia que for pra ganhar essa bagaça vai ser de um jeito que ninguém acredita. E pra isso tinha que perder do São Paulo, ficar sete pontos atrás, desacreditado, comendo pão que o Sete Peles amassou.

De acordo com a minha tese, daqui pra frente coisas estranhíssimas acontecerão, milagres diversos, forças transcendentais. A estatística, nossa inimiga desde sempre, será jogada às favas. O pontinho que faltava virá aos 52 do segundo tempo, para o infarto geral da nação. Gol do Hyoran, anotem. Sérgio terá acabado de chegar, e como bom Coelho, terá chegado na frente.

Na hora do título, abraçaremos nas ruas os desconhecidos, e nos beijaremos entre perdigotos de felicidade – porque já se poderá morrer de COVID, tudo bem, a missão estará cumprida. Se um cabeludo aparecer na sua rua, a túnica branca que é a armadura reserva do nosso Galo, acredite: é Jesus que voltou, sofredor como todo atleticano, mas sempre, sempre nesse exercício inabalável da fé.

Feliz Natal a todos! Papai Noel não existe. Fica, Sampaoli! Fora, Bolsonaro! Vacina já! Seremos campeões.

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