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Estado de Minas DA ARQUIBANCADA

Pra variar, nada continua sendo fácil para o Galo. Que a maré vire

Quando o atleticano pensa que vai somar três pontinhos aqui, três pontinhos ali e ser campeão, eis que vem o meteoro em forma de COVID


21/11/2020 04:00 - atualizado 21/11/2020 07:49

Com um time completamente desfigurado pelo coronavírus, o Atlético foi preso falso para o xará paranaense na última rodada(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
Com um time completamente desfigurado pelo coronavírus, o Atlético foi preso falso para o xará paranaense na última rodada (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
O azar do atleticano é alguma coisa que deve ser estudada como prova da ciência quântica – ou a partícula de Deus. Não é que o pão do atleticano tenha uma tendência a cair com a manteiga virada pro chão. O pão do atleticano é um pão de fôrma, e passaram a margarina em ambos os lados. A Lei de Brooks, aquela que versa sobre a possibilidade sempre maior de tudo dar errado, é a nossa Carta Magna. Oh, vida, oh, céus, oh, azar...

O azar do atleticano é de tal monta, que o antecede a sorte grande, o bilhete premiado. Se fosse o azar advindo de uma fase de vacas mais ou menos magras, não seria o azar do atleticano. O azar do atleticano é sempre precedido de tempos de vacas gordas, a metade cheia do copo, a sensação do triunfo inevitável.

É nessa hora que o homem lá em cima, o sósia de Karl Marx, surge entre as nuvens cavucando sua barba de comunista: “Hum, Minas Gerais não é o Egito, mas eu vou mandar uma praga nesse pessoal”. Aí, machuca o Marques antes da final, a bola entra contra o Coritiba e o juiz não vê, o céu desaba sobre São Caetano, Wright, Aragão, a Ditadura, e por aí vai.

Desta feita a praga estava disponível, facinha, acessível, mesmo àqueles com histórico de atleta. A senha foi a festinha. Que fase, senhores! Uma reles baladinha de aniversário, um recatado rega-bofe – porém, contudo, no entanto, demos mole pra ele, o azar. O azar do atleticano.

Não será este escriba, um ativista da boemia, a criminalizar a comissão técnica pela aglomeração aniversariante. Mas, carajo, deveriam estar todos dentro de escafandros, envoltos por chapas de acrílico, e banhados num ofurô de álcool gel. Agora, estamos contaminados – eles, pela COVID. A gente, pela sensação de sermos abatidos na hora crucial.

Não me culpem, mas cantei a bola na coluna da semana passada: quando tudo estivesse justo e encaminhado, um meteoro nos atingiria, e a Terra plana despencaria no cosmos como um grande frisbee abatido por caças da Força Aérea. Como era urgente foder o atleticano, o meteoro veio na forma da COVID, o expediente que estava mais à mão.

''Não é que o pão do atleticano tenha uma tendência a cair com a manteiga virada pro chão. O pão do atleticano é um pão de fôrma, e passaram a margarina em ambos os lados''


Agora, vamos nós, com Leleu e Berola, dirigidos pelo suplente do estagiário do administrativo, treinados pelo Zoom, cada qual em seu escafandro. Normal. Estranho seria o desenrolar comum das coisas, três pontinhos aqui, mais três pontinhos ali, a gente subindo os degraus da tabela como tantos outros que levantaram o caneco. Mas o normal do atleticano é o anormal.

Este escriba, ateu como Saramago, cético como o doutor Dráuzio, crente apenas na reciclagem da matéria, a Terra como uma enorme composteira, fica agora a se perguntar: o que terá feito o atleticano em outras vidas? Guerras? Holocaustos? Teria o atleticano queimado as bruxas na fogueira? O azar do atleticano seria um lance cármico? Uma maldição?

Por isso me espanta a Canhota de Deus. Quando Victor defendeu o pênalti de Riascos, alguma coisa de extraordinário estava a se passar, além da defesa em si. Teria Deus (ou o diabo) se ausentado naquele instante, talvez ocupado com outros assuntos, guerras, terremotos, epidemias?

Quando se deu a canonização de São Victor, todo atleticano se imaginou livre dos azares monumentais. Acreditou-se também que a reforma do Mineirão havia eliminado a cabeça de burro enterrada naquele endereço, alguma santa escavadeira teria operado a nosso favor. Sabe nada, o inocente.
 
 

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