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Estado de Minas DA ARQUIBANCADA

Morte, mesmo do inimigo, merece compaixão dos bons. Não é, Cruzeiro?

Por falência generalizada, o Cruzeiro veio a óbito. O velório ocorre no subsolo da Série B. O enterro pode ter lugar um piso abaixo, nas catacumbas da Terceirona


postado em 23/05/2020 04:00

Antes do último clássico, em que o Atlético venceu por 2 a 1, torcedores alvinegros festejam a queda do rival para a Série B(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press %u2013 7/3/20 )
Antes do último clássico, em que o Atlético venceu por 2 a 1, torcedores alvinegros festejam a queda do rival para a Série B (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press %u2013 7/3/20 )
Eu gostaria de rir da morte do Cruzeiro. De seu assassinato, digo. Por vezes, confesso, até me assalta o manejo cínico no canto da boca. Aconteceu ao reler a manchete de uma entrevista antiga de Zezé Perrella cujo título dizia “se o Atlético acabar, vou rir de quem?”. Não devia, mas achei graça no pescotapa que um torcedor lhe conferiu, além de um suposto chute no traseiro (a imagem não mostra, mas, pelo movimento observado numa barriga de chope que surge na retaguarda, suponho que tenha sido inevitável o pé na bunda). No divórcio entre torcedor e cartola, vê-se que Perrella tem as costas quentes. Não é pecado que se ria um pouco. Mas só um pouco.

Já o cuspe na cara, com seus possíveis perdigotos de coronavírus, me trouxe de volta à realidade: eu não vou rir da morte, para isso já temos o Bozo no picadeiro presidencial, sempre pronto a escarnecer das milhares de vítimas da pandemia e de seus familiares. Quem precisa do meme do caixão, se temos a Regina Duarte a nos assombrar com sua “leveza” diante dos torturados, mortos e desaparecidos? “Eu não quero ficar olhando pra trás”, disse a nova responsável pelo maior “museu” do cinema nacional, a Cinemateca, enquanto sorria e manuseava a cabeleira adolescente.

Regina poderia ser uma doida de manicômio. Infelizmente, é também a cúmplice de um genocida que ri enquanto prescreve cloroquina e tubaína. À receita tão eficaz quanto a água ungida de um pastor, certo povo ainda acresceu o princípio ativo dos remédios antipulgas. Sim, o gado tem se tratado nas petshops. Em matéria sobre o assunto, a Folha de S.Paulo destacou uma bolsonarista convicta dos efeitos da ivermectina usada nos cães. Seu nome: Marley. Marley & eu. Não há ficção que supere o Brasil. Na impossibilidade de rir, choramos.

Voltando à vaca fria. Zezé Perrella chegou para votar nas eleições do Cruzeiro acossado por seu próprio torcedor, cuspido e atingido pelo Pedala Robinho. Saiu vitorioso, tendo eleito seu candidato a presidente. No posto mais alto do Conselho Deliberativo, ganhou o antigo mandatário do Conselho Fiscal responsável por... fiscalizar a gestão de Wagner Pires de Sá, um dos autores do latrocínio cometido contra o clube. Em suma, botaram a raposa pra tomar conta do galinheiro; tendo o lobo comido as galinhas com anuência da raposa, agora elegem a raposa para botar os ovos. Que morte horrível, Cruzeiro.

Em mensagem cifrada, houve quem tentasse avisar sobre a situação terminal do paciente. Roger Flores foi um deles. Certa vez, ao deixar o gramado, o então jogador estendeu seis dedos sobre a carcaça craniana. Todo mundo achou se tratar de chifres impostos pela Bruna Surfistinha. Claramente, Roger estava a denunciar o que veríamos agora, a punição da Fifa, que retirou seis pontos do time antes mesmo de começar o Brasileiro da Segunda Divisão. Muitos outros repetiram o gesto e o alerta, como a pedir socorro aos demais presentes. Nada foi feito. Por falência generalizada, o Cruzeiro veio a óbito. O velório ocorre no subsolo da Série B. Até o fim do mês, o enterro pode ter lugar um piso abaixo, nas catacumbas da Terceirona.

O atleticano é um azarado crônico. Quando ganha o terreno pra fazer seu estádio, o lote mostra-se um paraíso perdido de Darwin, onde jorram fontes milagrosas e abundam pássaros que se achavam extintos. Liberada a obra, um vírus ameaça transformar as arenas em equipamentos obsoletos. Isso pra não falar no passado distante, quando raios caíam nos mesmos lugares, preferencialmente sobre as nossas cabeças. Agora, quando seu maior rival vai à Segunda Divisão, os campeonatos são paralisados e, para completar, esse rival entra em estado de coma, respira por aparelhos e morre. Pode-se rir do moribundo, mas rir do falecido só faz atrair o mau agouro e leva diretamente ao inferno.

“E daí?”, perguntam os atleticanos inspirados pelo mito do pau oco. E daí que a morte, mesmo do inimigo, merece a compaixão dos bons, exceções feitas aos estupradores e pedófilos, conforme o “proceder” das cadeias, e aos genocidas. Assim sendo, meus sentimentos ao Tibete Azul. Força, guerreiros! É vida que segue e ainda tem o vôlei.

Aos que ficam, uma pergunta: de quem vamos rir agora?

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