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Estado de Minas DA ARQUIBANCADA

O Brasil é um hospício e o Galo é doido

"O Galo sempre foi o antídoto contra a nossa dura realidade. Nossa cachaça, nosso Rivotril, o ópio do povo. Agora, porém, estamos imersos na demência geral, acometidos por um surto coletivo"


postado em 27/07/2019 04:00

(foto: Bruno Cantini/Atlético)
(foto: Bruno Cantini/Atlético)


Encontro-me novamente exilado do Brasil. O Brasil me obriga. Verdade que exílio de pobre não acontece em Paris, tampouco em Santiago ou Montevidéu, muito menos em Havana. O exilado perseguido pelos boletos foge do Brasil recolhendo-se no Brasilzão perdido no mapa. Pois aqui estou, em algum lugar da Bahia, essa terra de flamenguistas e atleticanos. A ideia é empreender um movimento guerrilheiro, derrubar o governo e instaurar a ditadura comunista. Não sem antes eliminar os flamenguistas, em quem nunca se pode confiar. Essa tarefa, no entanto, está a cargo dos bravos companheiros do Emelec. Hasta la victoria siempre! Se bem que venceremos até com uma derrota simples.

Por enquanto, cumpro a árdua tarefa de fazer o reconhecimento do território. Afinal, é minha Sierra Maestra em versão litorânea. De forma a misturar-me à comunidade local, tenho passado os dias na praia, obrigado a doses generosas de caipirinha, cervejas infinitas e queijo coalho. Sem falar no forró. Para não chamar a atenção, envergo sempre, por óbvio, o manto sagrado do Atlético, tão comum por essas plagas como a calça bege no Carandiru. Culpa do Movimento dos Sem Praia, que ocupou a região com levas e mais levas dos melhores mineiros, 100% Galoucura.

Bem, o Brasil nos obriga ao exílio. Vejo a ministra Damares, aquela que só pensa naquilo, certa de que resolverá a questão do estupro em Marajó – onde, segundo o DataDamares, 100% das meninas andam sem calcinha. Elementar, meu caro Watson: o negócio é empreender fábricas de calcinha na ilha maranhense. Não tem erro.

Mesmo distante, me chegam as notícias do hospício. Depois do incrível roubo de La Casa de Papel, a cargo de Helsinque, Tóquio, Nairóbi, Rio, Denver, Oslo e Moscou, eis que a nossa valorosa PF prendeu o Araraquara, o hacker que chupinha mensagens de autoridades e deixa tudo no desktop. Ah, vampiro brasileiro... E o Moro, que editou uma portaria pra extraditar o jornalista Glenn Greenwald e o número da portaria é 666? Coitado do roteirista de House of cards perto da Casa da Mãe Joana.

O Galo sempre foi o antídoto contra a nossa dura realidade. Nossa cachaça, nosso Rivotril, o ópio do povo. Agora, porém, estamos imersos na demência geral, acometidos por um surto coletivo. E a nossa loucura pelo Galo – nossa galoucura – está a potencializar o sentimento de que botaram alguma coisa no Aquífero Guarani. Sim, estamos todos numa grande viagem de ácido. Uma bad trip, no caso.

O problema é que o Galo é bipolar. Veja o que foram nossos últimos três jogos. Vencemos o Cruzeiro e ficamos felizes, embora o normal fosse ter ficado triste, visto que ao fim e ao cabo fomos desclassificados. Cheios de um brio insuspeito, ficamos certos de que passaríamos por cima do Fortaleza, e de fato passamos. Mas ao final da contenda o morto-vivo tinha saído da tumba e por pouco não atropela a gente. Distraídos empataremos, já dizia o poeta. Especialistas em fazer defunto acordar, desembarcamos no Rio certos de que a má fase do Botafogo era ponto a favor do adversário, ademais, uma pedra em nossa chuteira desde o assalto de 2007. Vencemos com o único Jair que respeitamos a jogar o fino da bola. Pro Botafogo ganhar, só quando tem votação no Congresso.

E agora, José?, já se perguntava o poeta Deltan Dallagnol. Agora temos o Goiás amanhã. Se achar que ganha, perde. Se achar que perde, ganha. Votei contra no bolão. Eh, Galo doido... Depois tem o Botafogo de novo. Todo cuidado é pouco, porque há coisas que só acontecem com o Botafogo e, bem sabemos, há coisas ainda piores que só acontecem com o Atlético. Pela nossa sanidade mental: chega dessa bipolaridade! Com a exceção do Patric, que todos voltem ao seu normal!.

Da minha parte, seguirei na defesa da soberania nacional, a guardar a extensa costa da Bahia. Enquanto me concentro no trabalho de cooptação dos futuros guerrilheiros do movimento revolucionário, sigo obrigado às caipirinhas e pastéis de camarão. Embora pouco provável, rogo para que o Atlético colabore nessa difícil missão de reencontrar a plena consciência que o Brasil me roubou. Vamo, Galo, pelo amor de Deus!



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