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Estado de Minas

Dicas de português


postado em 17/07/2019 04:00

Recado
“Quando completei 15 anos, meu compenetrado padrinho me escreveu uma carta muito, muito séria: tinha até ponto e vírgula! Nunca fiquei tão impressionado na minha vida.”

Mário Quintana

Terrivelmente desnecessário
O presidente se encontrou com a comunidade evangélica. Entre os seus, sentia-se feliz, descontraído. Sorriu muito. Posou para selfies. Deu abraços e beijos. No discurso, disse que nomearia para o Supremo Tribunal Federal um ministro “terrivelmente evangélico”. Aplausos ecoaram. Vivas se ouviram nos quatro cantos do recinto. A imprensa divulgou a fala. Foi um auê. Ops! Não foi o critério religioso para escolher o juiz da mais alta corte de Justiça do país que chamou a atenção. Bolsonaro havia revelado o fato uns dias antes. Nem a inoportunidade do anúncio. Faltam quase dois anos para a abertura da vaga. A vedete foi o advérbio. Terrivelmente evangélico – o que é isso, companheiro? É isto: muiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiito evangélico. Evangélico na cara, nos gestos, nas palavras, no modo de agir. O advérbio inusitado causou estranhamento. Valeu como frase de efeito. Caiu na boca do povo.

Por falar em terrivelmente...
Há uma praga teimosa na praça. Como quem não quer nada, ela foi avançando e ganhando espaço. Hoje, aparece em frases a torto e a direito. Trata-se de advérbios terminados em –mente. Cortados, não fazem falta. Melhor: deixam a frase mais leve e elegante. Quer ver?

João deve sair (provavelmente) ao meio-dia.

Cumpriu a ordem (exatamente) como o diretor determinou.

(Atualmente) todo mundo tem celular.

A reclamação era (completamente) inoportuna.

Disse (exatamente) isso, sem tirar nem pôr.

Os clientes odeiam (principalmente) ter de esperar.

Ministro (terrivelmente) evangélico.

Viu? Como disse George Simenon: “Corto adjetivos, advérbios e todo tipo de palavra que está lá só para fazer efeito”.

Que bom!
Eufonia, eugenia, eutanásia e evangelho pertencem à mesma família. São formadas pelo prefixo eu. As duas letras querem dizer bom. Elas aparecem em montões de palavras. Eufonia é uma delas. Significa som bom, agradável. Eugenia, outra. Tem a acepção de melhoramento genético. Eutanásia, mais uma. Quer dizer boa morte. Evangelho idem. Aí, o eu se disfarçou de ev. Mas mantém o significado. É boa-nova.

Que ruim!
O contrário de eutanásia? É distanásia. Valha-nos, Deus! Trata-se de morte com dor, sofriiiiiiiiiiiiiida. O Senhor nos proteja!

Outra do Bolsonaro
Jair Bolsonaro disse que vai indicar o filho embaixador do Brasil nos Estados Unidos. “É nepotismo”, disseram uns. “Não é”, responderam outros. E daí? Enquanto juristas palpitam, vale a questão. Qual a origem do polissílabo? Nepotismo nasceu do latim nepos, nepotis. Quer dizer sobrinho. Na Roma dos Césares, os sobrinhos dos papas gozavam de privilégios. Um deles: preferência nas nomeações para cargos importantes, com salários nas alturas. Com o tempo, nepotismo virou palavrão. Tornou-se sinônimo de políticos nomearem parentes para postos cobiçados. Xô!

E ela?
Eduardo Bolsonaro será embaixador do Brasil nos Estados Unidos? Talvez. Caso chegue lá, a mulher dele será embaixatriz ou embaixadora? As duas palavras existem, mas têm acepções diferentes: embaixadora é o feminino de embaixador, mulher que exerce a função de embaixador. Embaixatriz é a mulher do embaixador. É o que será Heloísa Wolf Bolsonaro caso o maridão vire embaixador.

Leitor pergunta
Às vezes, dizem “cada vestido”. Outras vezes, “todo vestido”. Qual a diferença? Quando usar um pronome ou outro? 

Beatriz Noronha, São Vicente

Usados a torto e a direito como sinônimos, os dois pronomes dão recados diferentes:
Cada indica diversidade de ação, particulariza: Usa cada dia um vestido (não repete o traje). Cada filho tem um comportamento. Cada macaco no seu galho. Dava brinquedos a cada criança.
Todo generaliza. Significa qualquer: Todo dia é dia. Dava brinquedos a toda criança. Para o guloso louquinho por doce toda sobremesa é bem-vinda.

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