(none) || (none)

Continue lendo os seus conteúdos favoritos.

Assine o Estado de Minas.

price

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e segurança do Google para fazer a assinatura.

Assine agora o Estado de Minas por R$ 9,90/mês. ASSINE AGORA >>

Publicidade

Estado de Minas RASGANDO O VERBO

As cobras da linguagem


postado em 20/04/2020 04:00


Na semana passada, postei uma foto, no meu Instagram, com a seguinte legenda: “Eu daria um rim para estar em um salão de beleza agora”. Mas, para o meu espanto, o que deveria ser apenas uma hipérbole tipicamente feminina se transformou em motivo de discussões entre os meus seguidores. Cheguei até a apagar os comentários mais enraivecidos.

Para que possamos iniciar o raciocínio sobre esse colóquio virtual, é preciso clarificar o significado das figuras de linguagem, as quais dizem respeito aos recursos linguísticos, como a metáfora e a metonímia, utilizados para se obterem determinados efeitos na língua. Entre esses recursos, destaca-se a hipérbole, que consiste no exagero quantitativo de algo, como “estou morrendo de cólica”, “sou louca por ele” e “chorei rios de lágrimas”. Simples, né?

Todavia, os patrulhadores linguísticos de plantão, amparados por uma hipocrisia vitimista, são capazes não somente de proferir baboseiras inacreditáveis, mas também de as defender com unhas e dentes, leitor. Eu disse que daria um rim para estar no salão e fui acusada de brincar com a situação de quem espera por um transplante. Era só o que me faltava... Daqui a pouco, não poderemos sequer dizer que morremos de rir, pois seremos acusados de não ter empatia com quem está à beira da morte ou com quem está em sofrimento. Quanta babaquice!

Mais fácil seria me tachar de fútil ou de alienada por desejar, como noventa por cento das mulheres, ir para o salão de beleza em plena pandemia mundial (e pandemia mundial não é pleonasmo, OK? Para ser pandemia, segundo os dicionários, não precisa ser mundial). Eu até refletiria sobre essa crítica. Mas procurar chifre em cabeça de cavalo com o intuito exclusivo de atender a uma cartilha politicamente correta cuja dissimulação parece infindável? Aqui não, violão. Primeiro dominam o que falamos; depois, o que pensamos. Mais tarde, o que fazemos. São as cobras da linguagem. E isso não foi uma hipérbole. Foi uma metáfora.

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)