(none) || (none)
Publicidade

Estado de Minas

Medo do escuro

Hoje, com o trem aos poucos voltando aos trilhos, a população, farta e traumatizada, parece ignorar o risco ainda presente


09/09/2023 09:00
988

Quarto escuro
(foto: Freepik)

Quando menino, fui para o quarto escuro. Castigo tremendo e apavorante para uma criança. Não me lembro da travessura, nem do algoz.

O escuro era apavorante, cruel e inexpugnável. Pedagogia das trevas e do submundo da incontinência urinária. Não havia saída para a escuridão.

Só me restava esperar pela chegada da luz, que uma hora ou outra brotaria com o barulho da fechadura.

Com o tempo e os quartos escuros, fui descobrindo que a escuridão não era tão terrível assim.

Ao fechar os olhos a imaginação diluía o medo e a luz explodia dentro dos meus olhos.

Ao abri-los, fui percebendo que a luz penetrando pela fresta da janela projetava na parede o mundo e a vida de cabeça para baixo.

Lembrança fotográfica da descoberta do mundo às avessas. A escuridão seria uma constante, o limite da realidade.

Perdi o medo do escuro. Não era mais um castigo que me metesse medo.

Aprendi a andar no escuro sem tropeçar nas sombras. Com o tempo, claro, escuro, verdade, mentira, crueldade, perdão, viraram uma coisa só - vida.

Aprendemos a duras penas a caminhar no claro. No escuro é preciso imaginação. Para enxergar um palmo a frente do nariz, precisamos mais do olfato e paladar do que da visão.

O quarto escuro me ensinou de forma cruel e precoce a conviver com a solidão dos dias de uma vida inteira, descobrir beleza no deserto sem oásis e noites sem luar.

O pânico coletivo do escuro se assemelha muito ao momento da pandemia que vivemos hoje. O tempo sem tempo vivido permitiu que charlatões explorassem o breu do conhecimento científico e disseminassem mentiras, discórdia e a baba de Caim.

Hoje, com o trem aos poucos voltando aos trilhos, a população, farta e traumatizada, parece ignorar o risco ainda presente.

O vírus, alheio às neuroses humanas, segue seu curso natural. Mutante convicto, a cada volta ao mundo conhece melhor nossas entranhas e fragilidades.

Como um camaleão se transforma de tempos em tempos, dando a entender aos menos atentos, que agora é inofensivo. Não vacinados, imunossuprimidos, idosos e crianças abaixo de dois anos, continuam sendo suas vítimas prediletas.

Para clarear o momento atual e ensinar a dar passos seguros nessa frágil aurora que nos encontramos, vou reproduzir a seguir o texto que recebi do meu querido colega e amigo de décadas, Julival Ribeiro.

Juliva, como eu o chamo, é também infectologista e coordena o Núcleo de Controle de Infecções Hospitalares do Hospital de Base de Brasília.

"8 de setembro de 2023.

Embora a OMS tenha decretado, em maio de 2023, o fim da emergência global de saúde causada pela COVID-19, o status de pandemia permanece exigindo cuidados para evitar o surgimento de novas mutações e frear a disseminação do vírus.

Devido à transmissão sustentada do SARS-COV-2, um vírus RNA, possui grande tendência a sofrer mutações, que levam a alterações de suas proteínas, e com isso ao surgimento de novas variantes.

Apesar de a maioria das variantes não alterar as características dos vírus ou da doença causada por eles, sempre que uma nova variante do coronavírus é identificada, também são investigados alguns aspectos considerados importantes em relação ao vírus com o hospedeiro. São eles: transmissibilidade, patogenicidade, virulência e analisar como se comporta a COVID-19 em pessoas já vacinadas ou em pessoas que já tiveram anteriormente a infecção (reinfecção).

Para fazer o acompanhamento dessas novas variantes do SARS-COV-2, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica essas variantes de preocupação, de interesse ou variantes sob monitoramento. Dessa forma, a OMS está constantemente avaliando os riscos impostos por variantes do SARS-CoV-2, levando em consideração a evolução do vírus e mudanças epidemiológicas.

A variante EG.5- é altamente transmissível, entretanto, segundo a OMS, ela representa um risco baixo para a saúde pública, sem evidências de que cause quadros mais graves do que outras variantes que circulam no momento. Atualmente é o tipo mais comum no mundo. Segundo a OMS, já registou casos de infecção com essa cepa em 51 países, incluindo Estados Unidos, Reino Unido, Portugal, Japão e, em 17/08, o Ministério da Saúde confirmou o primeiro caso da variante EG. 5, em São Paulo.

Detectada uma nova SARS-CoV-2 variante, denominada BA. 2.86, também conhecida como Pirola - a sequência genética de BA. 2.86 tem alterações que representam mais de 30 diferenças de aminoácidos em comparação com BA.2, que era a linhagem Omicron dominante no início de 2022. Permanecem algumas grandes questões sobre BA.2.86, incluindo a sua transmissibilidade, o comportamento em relação a pessoas já vacinadas ou em pessoas que já tiveram anteriormente a infecção (reinfecção) e em relação se causa doenças graves.

Estão sendo analisadas essas questões, disse o CDC, acrescentando que é provável que a resposta imunitária humoral e celular proteja contra doenças graves. Afirmou ainda que, com base nos dados atuais, os testes existentes utilizados para detectar o vírus e os medicamentos utilizados para tratar a COVID-19 continuam sendo eficazes contra essa variante.

Até 23 de agosto de 2023, nove sequências da variantes BA.2.86 foram relatadas globalmente: Dinamarca (3); África do Sul (2); Israel (1); Estados Unidos (2) e Reino Unido (1).A identificação destes casos em vários países, evidencia transmissão internacional.

Vacina monovalente contra a COVID-19

A vacina monovalente contra a COVID-19 adaptada a variante Ômicron XBB. 1.5, recebeu parecer favorável do Comitê de Medicamentos de Uso Humano da Agência Europeia de Medicamentos (EMA), sendo aguardada a publicação de Autorização de Introdução no Mercado por parte da Comissão Europeia. Aguarda-se para meados de setembro a aprovação pelo FDA/EUA.

Segundo a EMA, foram apresentados dados que asseguram a sua qualidade, segurança e eficácia. A vacina monovalente contra COVID-19 adaptada a Omicron XBB.1.5 gera uma resposta contra múltiplas sub-linhagens relacionadas ao XBB, incluindo XBB.1.5, XBB.1.16, XBB.2.3 e EG.5.1 (Eris), que continuam a dominar globalmente.

As empresas fabricantes da vacina comunicaram que novos testes em relação a vacina monovalente mostrara que ela é altamente eficaz contra as versões atualmente em circulação do SARS-CoV-2, incluindo a nova variante BA.2.86.

A vacina - conhecida como Ômicron XBB. 1.5 - destina-se a prevenção da COVID-19 em adultos e crianças a partir dos seis meses. Os sintomas da doença com essas novas variantes permanecem os mesmos de outras variantes: febre, tosse contínua, alteração no olfato ou paladar, fadiga, coriza e dor de garganta.

Como se proteger?


É importante ressaltar que a vacina permanece sendo a principal forma de prevenção contra as formas graves e óbitos. Portanto, aqui no Brasil temos a vacina bivalente.

Outras medidas são: ficar em casa, se estiver doente; fazer o teste para COVID-19; há tratamento para a COVID-19 de acordo as recomendações do Ministério da Saúde (grupo de risco); usar máscara, que se ajuste bem ao nariz e à boca e higienizar as mãos e evitar locais aglomerados e com pouca ventilação.

Tal como acontece com outras variantes da COVID-19, o risco de doenças graves permanece maior para pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, doenças cardíacas, doenças respiratórias crônicas graves ou descompensadas, doenças renais crônicas, imunossupressão (transplantados de órgãos sólidos e de medula óssea; imunossupressão por doenças e/ou medicamentos), gestantes, diabetes, entre outras."

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)