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Estado de Minas COLUNA

Pichadores

Pichadores atuais são seres bem mais perigosos e gananciosos do que imaginávamos. Não há tíner no planeta que apague a tragédia e as lambanças deixadas por eles


17/09/2022 06:00

Pichação em pedra na praia
(foto: Arquivo Pessoal)

Pichadores sempre me intrigaram. Seres estranhos e soturnos. Sem limites, fazem suas marcas nos lugares mais inusitados. Rabiscos que só os da mesma espécie entendem. Dialetos depredatórios e criminosos.

Andando pelas areias brancas e quase desertas de Aquiraz (Ceará), minhas pegadas irregulares na areia permaneciam por alguns minutos e logo sumiam.

Ao retornar o caminho era outro, sem as pegadas da ida. Maravilha de cenário. Palco da existência perfeita, na qual a natureza coloca ordem nas coisas e apaga o que não mais interessa à continuidade da existência. Maravilhas do efêmero.

Praia paradisíaca com a qual sonhei e viajei através do meu livro de geografia nas tardes sonolentas de estudo de um semi-internato no colégio.

O branco da areia, vez por outra, era interrompido por pedras enormes, cuidadosamente esculpidas, durante séculos, pelo vento e pelo mar. Habitat perfeito de moluscos e siris, formando piscinas naturais conforme o movimento das marés.

Paraíso para deixar o olhar viajar e encher a alma de poesia!

De repente, "Jesus te Ama". Meu olhar perdido tropeça na estupidez humana poluindo a obra natural do Senhor.

E novamente, "Jesus Salva", repetiu Wilton na pedra seguinte, onde deixou registrado seu telefone: 9.8752-1472.

Esqueceu de pichar o prefixo!

Wilton violentou o patrimônio divino e poluiu o visual do paraíso. Provavelmente, num devaneio paranoide, incorporou Moisés e lascou tinta branca nas pedras do criador.

Wilton não se deu conta do espaço alheio e tomou para si o espaço coletivo.

Certamente, na contabilidade divina, Wilton acrescentou pecados a mais em seu curriculum espiritual. Se arvorou de porta-voz de Jesus e pichou o patrimônio do Senhor.

Nada que uma lata de tíner e uma boa multa não resolvam.

Wilton me tirou o sossego por 24 horas, a ponto de me motivar a registrar aqui o meu protesto.

No dia seguinte, 7 de setembro, após conhecer a blasfêmia do Wilton, me deparei com uma atrocidade ainda maior.

O Messias pichou a história, se apropriou do verde-amarelo e almeja reinventar a democracia. A democracia à moda Messiânica. Bateu de longe a paranoia do Wilton. O coro do Messias, com pichações contra as instituições democráticas, invadiram o 7 de setembro em todo país e, posteriormente, as redes sociais.

Pichações eletrônicas orquestradas e com DNA bem conhecido. Curioso, nas ruas as faixas tinham uma caligrafia muito semelhante. Pareciam ter a mesma origem.

Nas redes sociais as fakenews de sempre.

Para azar do Messias, no dia seguinte morre a Rainha Elizabeth II, monarca democrata, quase secular e eterna.

O fato silenciou a pichação política de nossa data maior.

Sem perder tempo, ele logo se prontificou a ir ao funeral para disputar uma alça do caixão e sair bem na foto.

A falta de pudor é tamanha que só falta voltar do enterro com uma parte qualquer da monarca para passear em palanques pelo país. Experiência é o que não lhe falta.

Pichadores atuais são seres bem mais perigosos e gananciosos do que imaginávamos.

Não há tíner no planeta que apague a tragédia e as lambanças deixadas por eles. Não há milagre que ressuscite os quase 700 mil mortos pela COVID- 19, aquela gripezinha de um pessoal cheio de mi-mi-mi. Dialeto depredatório e criminoso, que só os da mesma espécie compreendem.

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