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Estado de Minas CARLOS STARLING

Evidências ou aparências?! Reflexões sobre a pandemia em BH

'Tenho sido questionado se não propusemos o isolamento social muito cedo em Belo Horizonte. A resposta é simples: não!'


(foto: Arquivo/EM)
(foto: Arquivo/EM)

Ao ver minhas filhas correndo pela sala, brincando e espalhando bonecas por todos os cantos, tenho certeza que os anjos moram aqui. Às vezes, a bagunça é tanta que chego a duvidar da angelical companhia.

Mas, quando me abraçam e me fazem um carinho, tenho certeza da divindade.

A certeza debaixo deste céu azul serve apenas aos obtusos.
A incerteza é inerente à ciência. Viajamos num espaço onde não sabemos o princípio, nem o fim.

Somos viajantes a mirar paisagens que desaparecem rápido diante de nossos olhos. Captamos o flash de um tempo que passa no mesmo instante que o percebemos.

Degustamos uma poeirinha da divindade que nos habita. Certezas nunca, dúvidas sempre...

Assim, quando vejo a eloquência dos convictos, duvido! A verdade não precisa de eloquência. Quando é, simplesmente é! Até não ser mais. Pronto, revelado um mistério, nasce uma nova dúvida a ser respondida.

Assim é a ciência! Verdades temporárias para dúvidas eternas.
O contrário é a morte. Para quem crê, um novo começo, quem sabe?!
Segundo Benjamin Disraeli, parafraseado pelo saudoso Ariano Suassuna, existem três grandes mentiras: a mentira, a mentira deslavada e a estatística.

Com a estatística, provamos o improvável e criamos verdades que escondem as lágrimas de muita gente.

Números são apenas números, até serem nós, ou partes indivisíveis de nós.

Ao debocharmos do lado fúnebre de um número, desprezamos a nós mesmos. É só uma questão de tempo...

A pandemia evidenciou a unicidade do tecido humano que cobre o planeta.

A dor de qualquer ser, é minha e sua. A brasa que queima na China ilumina e previne a nossa escuridão logo depois.

Esta é a beleza do conhecimento científico compartilhado. O sofrimento de uns é o alívio de outros. Porém, a reciprocidade é que nos insere no humano, que vai além da carne e osso. Somos 75% água e 100% dependentes do tecido vegetal que nos permeia.

Portanto somos um só indivisível com intervalo de confiança, desvios padrões e incertezas.

A face mais cruel de uma epidemia e do isolamento social, necessário à sobrevivência, é a solidão.

A solidão dos que amam gratuitamente.

Como a minha função é tratar feridas, compartilho como eu trato as minhas.

Sempre, nos momentos mais tristes, acho uma árvore solitária no alto de uma montanha. Fixo o olhar e imagino estar sentado ao pé daquele ser...

Depois de alguns segundos, já estou lá. Somos idênticos em missão, em lados biológicos complementares. Respiro para que ela respire... os meus pulmões são os dela e a clorofila o nosso elemento vital comum.

Tente achar a sua árvore! Geralmente ela aguarda o seu olhar no alto de alguma montanha. Cada um tem a sua árvore nesta vida. Mas tem que procurar. Ela é sua e você é dela.

Amar é, de fato, um exercício solitário. Vai passar.

Quando passar, você estará pronto para enfrentar novas incertezas.
Em Minas, como dizia Drummond em Cidadezinha Qualquer, a vida vai devagar...eu completaria, até a epidemia vai devagar.

Ainda bem! Os apressados que me perdoem, mas o prazer de estar vivo, deve ser degustado.

Dias corridos não geram memória, particularmente, memória afetiva.
Com o tempo, a vida acaba virando um amontoado de dias sem sentido. Assim, somos devorados por Cronos e, ao percebermos, passou...

Acho que já era tempo de darmos uma freada. Talvez não tão brusca e imposta por um vírus. Mas, consciente e movida pela necessidade de reflexão sobre o estar vivo!

Curioso, mas tenho sido questionado se não propusemos o isolamento social muito cedo em Belo Horizonte. A resposta é simples: não! Ou, coerente com as incertezas do ineditismo pandêmico, talvez não.

Vejam a mortalidade no mundo ao nosso redor! Temos a menor mortalidade do país em cidades com mais de 1 milhão de habitantes e uma das menores do mundo para cidades deste mesmo porte.

Ou seja, a nossa chance de morrer em BH por COVID é menor do que na maioria das cidades da Europa com o mesmo número de habitantes. Apesar de todos os argumentos do sofrimento gerado pelo isolamento social, de fato, muito chato, estarmos vivos é um privilégio, principalmente considerando as mazelas que nos permeiam. Não termos perdido alguém que amamos, uma dádiva.

Mas, e a economia?!

CNPJs são recuperáveis, CPFs não.

Portanto, a prioridade é mantermos CPFs ativos!! Quando pensamos assim, percebemos que os números que compõem estes documentos, choram, sorriem, cantam, vivem e amam!!

Tem gente neste número!!Gente que atravessa o Liso do Sussuarão, conforme Guimarães, em busca de paz e felicidade, mesmo que tenham que batalhar por isto.

Muita luta! Muito espinho a rasgar a pele. Muita miragem a nos confundir.

CNPJs também são estruturas vivas, sem rabo preso...Porém, nascem dos CPFs e não sobrevivem sem eles.

Assim, preservar a vida das pessoas não é excludente da manutenção das empresas e negócios. A engrenagem não parará se as pessoas continuarem vivas e sonhando. O infinito é real!

A epidemia, atrasa, mas não mata os sonhos. Estes continuam com as pessoas, as quais criam empresas, empregos e valores!!

Mas, o valor principal é o homem que vai devagar, o cachorro que vai devagar, o burro que vai devagar e da vida que vai devagar, mas vai..., mesmo que besta, vai... graças a Deus! 

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