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Estado de Minas padecendo

Abandono paterno, mais do mesmo...

"Em uma sociedade machista e homofóbica como a nossa, a sensibilidade de um homem tem conotação negativa"


29/01/2023 04:00 - atualizado 26/01/2023 13:20

Ilustração

 
Culturalmente, é atribuído às mulheres o papel de cuidadora, o que é uma construção social e não uma capacidade. Mulher cuida, amamenta, protege. A mãe é aquela que alimenta, que cuida da casa, que leva para a escola, que marca consultas médicas e odontológicas. Mãe é a fonte do afeto. O pai trabalha e sustenta a família, e, se faz mais que isso, vira paizão. Afinal, ele não é obrigado. Pai é fonte de dinheiro. Mãe é fonte de todo o resto.
 
Na infância, os meninos são incentivados a brincar com blocos de montar, com carrinhos, com bola. Boneca? Boneca não! Isso é coisa de menina! Fogãozinho, panelinha, casinha? Isso é para as meninas.
 
Joãozinho foi à loja de brinquedos com seu pai escolher seu presente de Dia das Crianças. Escolheu um fogão, ele queria brincar de fazer comidinha. Ele ganhou o fogão, brincou bastante, adorava. Agora Joãozinho é adulto e tem um restaurante, ele adora cozinhar. Em casa sempre vai para a cozinha e faz pratos deliciosos para sua esposa e filhos.
 
Pedrinho pediu uma boneca de Natal. Ganhou a boneca. Trocou fraldas, deu papinha, ninou. Quando sua filha nasceu, ele fez com ela tudo que tinha aprendido com aquela boneca. Cuidou da filha com muito amor.
 
É isso que acontece com meninos que brincam de casinha, se tornam adultos amorosos, pais carinhosos, maridos companheiros. Aquele pai presente que não vai se esquecer da paternidade caso se separe da mãe da criança. O pai que acolhe o filho, que coloca para dormir, que troca fraldas, que ensina matemática. Aquele homem que se responsabiliza por suas atitudes. Aquele profissional da saúde que cuida das pessoas com empatia. Aquela pessoa que se preocupa com o outro.
 
Brincando de casinha os meninos aprendem a não depender de mulheres para fazer o serviço doméstico. Tornam-se homens capazes de colaborar com as atividades da casa como limpar, lavar roupas, fazer comida. Brincar de casinha ensina a dividir as responsabilidades. Aprendem a trabalhar suas emoções. São brincadeiras que ensinam a viver a masculinidade saudável e evita a violência doméstica no futuro.
 
Em uma sociedade machista e homofóbica como a nossa, a sensibilidade de um homem tem conotação negativa, mas todo ser humano tem sentimentos e precisa ter liberdade de se emocionar. Sim, meninos choram.
 
Os estereótipos de gênero acabam limitando as vivências dos meninos e das meninas. Quando adultos, isso gera a sobrecarga materna. E cá estamos nós, mães, reclamando dessa sobrecarga. Mas não adianta continuar fazendo tudo igual e querer um resultado diferente. É preciso ensinar os meninos sobre autonomia doméstica para que eles entendam que são igualmente responsáveis pelo lugar onde moram.
 
Brincar com bonecas não interfere na sexualidade de ninguém. Tanto os meninos quanto as meninas, brincando ou não de boneca, podem se tornar adultos hetero, homo ou bissexuais. E isso não é problema. O importante é que sejam pessoas honestas, éticas e responsáveis.
 
Se os homens adultos tivessem brincado de casinha e de boneca como as mulheres brincaram quando eram crianças, talvez hoje não estivéssemos vendo tantos pais abandonando suas esposas, seus filhos, como é tão comum. E as desculpas que eles inventam para justificar o abandono paterno, senhor? É muita falta de vergonha!
 
Essa semana repercutiu, e repercutiu mal demais, a fala do ator Luis Navarro que deixou a mulher no puerpério, com uma filha de 4 meses e outra filha de quatro anos, segundo ele porque "ser pai, marido, artista e ser um dos alicerces de uma família preta não é para poucos. Meu espírito sucumbiu, enfraqueceu, e peço perdão para todas as pessoas que desapontei. Talvez seja um erro essa decisão, mas estou sendo verdadeiro. Não lembro a última vez que fiquei sozinho para refletir, que li um livro ou que me olhei no espelho e me orgulhasse de mim. Preciso me reconectar comigo para poder voltar mais forte. Talvez seja tarde, mas tudo bem. Deus sabe de todas as coisas."
 
Não vou reproduzir o resto do que ele disse por que minha cota de vergonha alheia termina aqui. A mãe não tem escolha, mãe fica. Pai resolve brincar de casinha depois de adulto e acha que pode abandonar a brincadeira dessa forma inconsequente só porque é homem. Espero que encontre um bom livro para ler, um livro que ensine uma coisa que deveria ser distribuída gratuitamente no SUS; bom senso!
(Texto inspirado pelo @vaitereducacaosexual)

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