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Estado de Minas PADECENDO

Respira e não pira

Eu jamais poderia dizer que as pessoas que pedem intervenção militar são loucas. Elas podem ser perversas, fascistas, manipuláveis, mas não loucas"


20/11/2022 04:00 - atualizado 20/11/2022 07:21

Bebel Soares

Ilustração
(foto: Depositphotos)

 
Aprendi na semana passada o que é psicofobia.  Depois de compartilhar uma imagem que pedia intervenção psiquiátrica num story no Instagram, uma seguidora, a Ludmila Magalhães me enviou um direct explicando que não era correto dizer aquilo. Ela escreveu:
 
“Ô Bebel, existe toda uma questão quando se fala que pessoas que estão cometendo atos reprováveis são chamadas de loucas. Isso é uma fala psicofóbica. Psicofobia é o medo de quem tem algum transtorno mental. Quando você equipara pessoas de comportamento duvidoso com as que têm um transtorno mental, você está estigmatizando ainda mais essas pessoas em sofrimento.
Não quero parecer pedante em te falar isso, mas a maioria das pessoas fala por não saber mesmo. É um movimento novo, uma nomenclatura nova.”
 
Ela estava certa. Apaguei o story na mesma hora e fui pensar a respeito. Não é segredo para ninguém que eu faço acompanhamento psiquiátrico, que tomo remédios para depressão. Eu também faço análise e estudo psicanálise. Ou seja, intervenção psiquiátrica aqui é mato! Eu jamais poderia dizer que as pessoas que pedem intervenção militar são loucas. Elas podem ser perversas, fascistas, manipuláveis, mas não loucas. 
 
No entanto, o que estamos vendo acontecer no Brasil tem sido descrito como dissonância cognitiva coletiva. Uma construção cognitivo emocional que resulta em uma angústia, um desconforto, devido à inconsistência entre aquilo que acreditamos e a realidade. Quando nossos pensamentos, nossas crenças sobre alguma coisa não são coerentes com as nossas ações. Esta dissonância pode desencadear uma perda de contato com a realidade. Em defesa do ego, a pessoa é capaz de contrariar o nível básico da lógica distorcendo a realidade, ou seja, um surto psicótico.
 
Exemplos dessa dissonância cognitiva não faltam, basta dar uma olhada nos vídeos dos patriotas nos protestos. E, ao que tudo indica, é necessária uma intervenção na área da saúde mental. O que eu não consegui descobrir ainda é, que tipo de intervenção funcionaria para tirar as pessoas desse transe. Sei que diálogo e dados científicos não são suficientes e que, para que eu não surtasse, a solução foi me afastar.
 
Já fiz vários tipos de terapia. Terapia daquelas de falar e psicólogo ficar pontuando questões, de dar tarefas para eu fazer até a próxima sessão.  Terapia corporal, onde eu não falava nada, apenas me deitava numa maca numa sala com duas psicólogas e elas iam conversando com um ser invisível que também estava presente e esse seria orientando no uso de óleos e massagens. Terapia onde depois de falar a terapeuta unia a psicologia com cristais e meditação e um universo místico. Hoje eu faço análise, e tem feito tanto sentido mexer com o meu inconsciente que eu me pergunto, porque comecei tão tarde.
 
Minha psicanalista, a Maria Angélica Tomas, me atende todas as sextas-feiras e, na última sessão, comentei com ela que sinto que voltei para a adolescência, que neste momento a adolescente que habita em mim está se expondo e se curando. Em psicanálise não existe um tempo cronológico, no inconsciente a infância, a adolescência, todas as fases da vida estão ali, coabitando o mesmo corpo, somos todas as nossas versões aqui e agora. Esse é um processo de cura incrível, às vezes dolorido, mas tão necessário. 
 
O Brasil precisa passar por esse processo, precisa revisitar suas edições anteriores, fazer as pazes com os erros do passado para se acertar no futuro. Para revisitar o passado precisamos estudar nossa história, entender que todos temos antepassados que, ou foram pessoas escravizadas, ou foram as pessoas que as escravizaram. Que foram torturadores, ou torturados, ou isentos (aqueles que não torturavam, mas eram coniventes com a tortura). O brasileiro precisa ter consciência de classe, consciência política. Estudar para não acreditar em mitos. Também precisa de terapia, e entender que saúde mental não é menos importante que saúde física, pelo contrário, se a mente não vai bem, o corpo padece.
 
Em algum momento essa dissonância cognitiva coletiva vai passar, ou pelo menos ficar menos intensa. Até lá, eu sigo meditando, tomando minha medicação controlada e respirando para não pirar.

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