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Estado de Minas Padecendo

Padrasto abusador


10/07/2022 04:00

Criança sentada
(foto: Depositphotos )

A mãe de Clarissa – nome fictício para preservar a identidade – engravidou aos 21 anos de um playboy pertencente a uma " tradicional família mineira”. Ele era separado e já tinha uma filha com a ex-mulher. Ele não cumpriu o papel de pai. Como sempre vemos, a mulher não engravida sozinha, mas o ‘Espírito Santo’ não se responsabiliza por seus atos, nem se preocupa com métodos contraceptivos, porque sabe que não vai ser responsabilizado. 

Clarissa não sabia dessa história. Quando ela tinha 4 anos, sua mãe engravidou novamente de um traste. Esse homem, que ela acreditava ser seu pai, a estuprou dos 4 até os 13 anos. Não houve penetração, mas precisamos lembrar que “de acordo com o Código Penal Brasileiro, em seu artigo 213 (na redação dada pela Lei 12.015, de 2009), estupro é: constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso.”

Clarissa não sabia que aquilo era errado, ninguém tinha contado para ela, ela não tinha coragem de contar para ninguém. Sentia que não era certo, mas ele dizia que era segredo. Não contou para ninguém, nem para sua mãe, nem para amigas ou professores. Sempre tirava notas baixas, não gostava da sua casa, não gostava da sua mãe, não gostava nem dela mesma. Se achava feia, burra e gorda.

Não gostava dele, mas tinha que chamá-lo de pai. Carregava uma culpa enorme, porque nas missas o padre sempre dizia: “Honre seus pais”. E ela pensava: “E eu? Quem me honra?”.

No fundo, sentia que aquele infeliz não era seu pai. Só entre os 11 e os 12 anos ela se deu conta de que o que acontecia era abuso sexual, graças à Revista Querida e ao livro de ciências da antiga sexta série.

Em 1992, sua mãe se separou, mas Clarissa tinha muito medo de que ela reatasse e, por isso, decidiu ir morar com seus padrinhos. Alguns meses depois sua mãe contou que aquele homem não era seu pai. No mês seguinte, ela conheceu seu pai biológico, foi a primeira e última vez que o viu. Ela tinha 13 anos.

Depois de todos os acontecimentos, ela reuniu toda a sua coragem, passou por cima de toda a vergonha que sentia de si mesma, contou para sua mãe, seus padrinhos e sua tia-avó tudo o que havia acontecido.

“Se aconteceu esse tempo todo, por que só agora você está contando?” 

“Tem certeza disso? Você sempre gostou de fantasiar as coisas. Imaginação muito fértil.”

“Como ele fez isso? Ele assumiu sua mãe grávida, com uma filha no colo! Quanta ingratidão da sua parte por todos os anos que ele colocou comida na sua casa. Você tem que dar graças a Deus por tudo o que ele fez!”

“Quando você ficou moça, começou a usar umas roupas muito curtas. Com homem não pode.”

“Você tem certeza disso? Porque isso é uma acusação muito séria!.”

Como sempre acontece, a vítima é desacreditada. É culpabilizada. Até pela própria família. Todos os adultos com quem ela convivia na época reagiam dessa maneira. Fazem a vítima acreditar que fantasiou tudo. 

Uma noite, ela chorou muito, muito mesmo. Pediu perdão a Deus por ter feito aquilo, se sentia culpada.

A sociedade sempre culpa a vítima em casos de estupro. Não importa se ela é uma criança, não importa como acontece. A culpa é sempre da vítima. Sempre acham motivos para que ela tenha passado por aquilo. Sempre tirando a responsabilidade do estuprador.

A vítima continuará sendo vítima. Mas carregará, para sempre, dentro dela, todos os traumas que essa situação acarretou. Os acontecimentos das últimas semanas foram gatilhos para muitas mulheres que reviveram situações de abuso do passado.

Essa é uma história real compartilhada por uma mãe, que faz parte do nosso grupo. Apenas um dos casos em centenas já relatados por outras mães que padecem no paraíso. Outras histórias como essa foram publicadas no meu livro “Sem paraíso e sem maçã”. Lembre-se, a maioria dos abusos acontece dentro de casa e a culpa NUNCA é da vítima!

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