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Estado de Minas PADECENDO

A misoginia não é apenas aceita, ela é exaltada no Brasil

Enquanto a mulher segue internada com diagnóstico de bipolaridade, o país está fazendo o mendigo de planaltina um popstar


10/04/2022 04:00 - atualizado 07/04/2022 08:50

Ilustração
(foto: Depositphotos)

 
Eu não queria falar desse assunto, mas ele sempre volta de maneiras cada vez mais absurdas.

A advogada Camila Rufato Duarte escreveu:
“Um homem que expõe em detalhes sórdidos a relação sexual que teve com uma mulher em surto psiquiátrico virou herói nacional.
 
Do fato que está destruindo uma família, além de piadas, vemos memes, camisas e até música. O senhor se tornou uma celebridade, fãs estão indo até ele tirar fotos, ele foi convidado para programas e até para se tornar político.
 
De fato, não acredito que o grande vilão desta história seja este senhor, até porque uma pessoa em situação de rua, por mais que tenha uma boa oratória, não está em condições de avaliar equilibradamente uma situação.
 
O grande erro aqui é dos veículos de comunicação e influencers completamente sem ética que estão explorando desta situação de vulnerabilidade para expor ainda mais essa mulher e ganhar clicks e views. E sabe por que essas pessoas utilizaram esse assunto para gerar mídia? Porque sabem que no nosso país é o que viraliza. A exposição de outro ser humano ao ridículo gera engajamento, monetiza. A humilhação pública de uma mulher é motivo de risada.
 
Toda essa situação é sintomática e evidencia o quão misógina é a nossa sociedade. O quanto é natural e engraçado a ridicularização de uma mulher e a exploração de uma pessoa em situação de vulnerabilidade.
 
Nada disso é piada. Achar graça dessa situação, mesmo entendendo todas as questões envolvidas, só evidencia mau-caratismo.
 
Obs: A fala deste senhor a fim de se defender da acusação de estupro é, sim, superválida, o erro foi ridicularizar uma mulher.”
 
E, conforme a Camila já havia apontado, a história desce cada vez mais. Porque aqui no Brasil, quando achamos que estamos no fundo do poço, descobrimos um alçapão e descemos mais.
Enquanto a mulher segue internada com diagnóstico de bipolaridade, o país está fazendo o mendigo de planaltina um popstar.
 
Transtornos psíquicos são considerados frescura para o brasileiro, que prefere chamar depressão de falta de Deus no coração e dizer que uma mulher casada é capaz de pegar um morador de rua e fazer sexo com ele em sã consciência. Mais fácil acreditar que ela é uma depravada do que entender que ela tem uma doença que causa muito sofrimento.
 
Enquanto ela, que estava em comprovado surto psicótico, é julgada, é condenada, ele vira ídolo.

“Afinal, há tempos que não aparece gente de carne e osso pro povo se divertir, não é? Gente para o povo socar, sangrar e matar já não faz mais sucesso. Virou cotidiano, mas um mendigo para o povo exibir como brinquedo de estimação e brincar de pobre é coisa nova. Juntaram-se aos montes e lhe deram seguidores. Arrumaram convites para shows e uma influenciadora loura para lhe lascar um beijo. Neste momento, acontece o delírio de um povo. E quando o frenesi popular passar, o mendigo ficar um mendigo ainda mais triste e solitário, com certeza será acolhido, aquecido e abraçado por quem é gente como toda gente deveria ser: padre Júlio Lancelotti.” – Odette Castro

A tal influenciadora do beijo tem uma quantidade absurda de seguidores e muitas fotos exibindo o corpão. Quanto mais bunda, mais likes. Mas não sabia que beijar mendigo também aumentava o engajamento. Triste ver uma mulher se prestando a esse papel.
 
E assim caminha a humanidade, uns querendo ser usados, outros usando.

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