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Estado de Minas padecendo

Sabores da Terra

Quando a gente olha a vida com mente de principiante, conseguimos ser mais leves. Deixamos os preconceitos de lado e abrimo-nos para o diferente


25/07/2021 04:00 - atualizado 22/07/2021 10:36

(foto: Arquivo pessoal)
(foto: Arquivo pessoal)


O que vem à sua mente quando você pensa em assentamento de sem-terra? Meu bisavô era fazendeiro, meu avô herdou a fazenda dele. Minha mãe nasceu na fazenda. Eu passei minha infância indo à fazenda, mas sempre com aquele olhar de herdeira. Vendo floresta ser transformada em pasto. Vendo gado para todo lado. Indo acompanhar a ordenha.

Tinha horta, tinha pomar, tinha galinheiro. A gente nadava em açude, subia em árvore, colhia ovos no galinheiro, bebia leite tirado na hora, colhia frutas no pé.

Quando ouvia falar em assentamento de sem-terra, era sempre de uma forma negativa. A gente tem uma ideia de bandidos roubando terras produtivas. Barracas. Bandeiras vermelhas.

Com o passar dos anos, comecei a ver notícias diferentes. Sobre o cultivo de legumes e verduras, sobre pessoas vivendo da terra, sobre agricultura familiar. Toda história tem muitas versões, resolvi conhecer uma diferente da que me havia sido apresentada originalmente.
 
“O último Censo Agropecuário, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2006), constatou que 84,4% das unidades de produção agrícola brasileira correspondem à agricultura familiar. Apesar de ocupar pouco mais de 24% do território nacional, ela é responsável pelo fornecimento da maior parte dos alimentos básicos da população e por cerca de 70% dos empregos no campo.” (Fonte: Sebrae)

Falta-nos ver o mundo com mente de principiante. Com a percepção atenta do momento presente, sem julgamento, com curiosidade e aceitação. Mente de principiante é olhar as coisas como se fosse a primeira vez. Quando a gente olha a vida com mente de principiante, conseguimos ser mais leves. Deixamos os preconceitos de lado e abrimo-nos para o diferente.

Há uns dois anos, uma amiga se casou e foi viver com o marido, um assentado, no Assentamento Pastorinhas. Adalto já vivia havia quase 20 anos, boa parte deles acampado. Ele se formou em biologia e tem uma produção agroecológica, ele mesmo planta, colhe e entrega os produtos aos clientes em Belo Horizonte.

Graças à Elisa, tive a oportunidade de conhecer de perto a história dessa ocupação. Estive lá tomando um café com ela, e fui apresentada aos seus cachorros, galinhas, porcos e estive na plantação.

A ocupação da Associação Pastorinhas começou como todo movimento sem-terra. Um grupo de pessoas busca terras improdutivas e vai para lá com a intenção de produzir. O governo entra em contato com os proprietários, e compra essas terras que são repassadas aos titulares. Atualmente, eles estão finalizando o processo, aguardando para receber a titularidade da terra.

O Assentamento Pastorinhas está consolidado. As pessoas chegaram lá há 20 anos, não existe mais ninguém acampado. Todos têm suas casas. São 20 famílias numa ecovila. O movimento deu início a uma comunidade que se desenvolve como qualquer outra comunidade. Cada família tem liberdade sobre o que vai cultivar e qual o tipo de cultivo. Tem produção convencional, agroecológica, orgânica e agroflorestal.

A terra é a principal fonte de renda dessas famílias. A quinta área de agrofloresta está sendo implantada. Um sistema agroflorestal é um sistema de plantio de alimentos que é sustentável e ainda faz a recuperação de uma floresta.

A gente se surpreende quando vai conhecer. Viver do campo não é fácil. Não tem nenhum glamour. O trabalho é pesado. Enquanto Adalto cuida da plantação, Elisa cuida da casa, das galinhas, das mídias sociais da Sabores da Terra, do site da associação, das vendas, e cozinha maravilhosamente. Ela levou para a comunidade o olhar de quem vivia na cidade.

Antes da pandemia existia um turismo pedagógico, escolas de Belo Horizontem iam lá conhecer e aprender. Hoje, eles estão trabalhando na melhoria da estrutura para receber visitantes, dar cursos e fazer eventos para a comunidade, que fica a 2,5 quilômetros do Córrego do Feijão, afetado pelo rompimento da barragem de Brumadinho.

Saí de lá com uma caixa com acelga, espinafre, brócolis, couve, cenoura, agrião, compotas e o coração cheio de alegria pela oportunidade de ser apresentada àquela realidade tão diferente da minha e apresentar tudo aquilo ao meu filho, que foi comigo e amou o passeio, que foi uma aula.

Olhe para o mundo com mente de principiante, você vai se surpreender.


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