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Estado de Minas PADECENDO

Abraços guardados

Abraços guardados para quando a gente puder voltar a se abraçar. A gente só tem medo de algum desses abraços ficar vazio


(foto: Depositphotos)
(foto: Depositphotos)

Fui guardado numa caixa pequena. Uma caixinha de papelão. Não entendi por que fui parar ali. Nasci de um sentimento, mas não cheguei ao meu destino. Ela me guardou na caixinha e fechou a tampa.

No dia seguinte, a tampa se abriu, e mais dois me fizeram companhia. Aos poucos foram chegando outros, enchendo a caixinha. Centenas de nós, esperando. Guardadinhos. Sem entender o motivo. 

Um dia, a menina abriu a caixa para guardar mais um. Então, perguntamos por que ela estava deixando a gente ali. Ela disse:

– Tenho colecionado abraços. Todos os abraços que não pude dar no último ano. Todos vocês, guardados na minha caixinha. Os abraços de saudade das minhas amigas. Os abraços de saudades dos meus avós. O abraço no amigo que perdeu a avó. E na amiga que perdeu o avô. E na outra que perdeu um tio. O abraço em quem perdeu alguém querido e eu não pude estar por perto.

Minha caixinha de abraços guardados é pequena por fora, mas internamente ela cresce, um pouquinho todo dia.

Cada abraço que nasce no meu coração e eu não posso dar, eu guardo.

Tem abraço para o vovô, que desconfiava da vacina, mas acabou entendendo como ela é importante e se vacinou. O abraço na vovó, que não sabia usar a máscara direito, mas que aprendeu comigo numa conversa de vídeo. Tem o abraço nos meus professores, porque eu estou com muita saudade de levar torra deles na aula presencial. E abraço para os meus colegas que tomam torra junto comigo porque a gente conversa demais. Tem até abraço para minha bicicleta que deve estar achando que não gosto mais dela.

Tem até abraço para aquele meu tio que acredita que o tratamento precoce está funcionando. Acho fofo alguém tão mais velho que eu ser tão inocente, me sinto tão adulta que fico com vontade de abraçar.

E os abraços em quem trabalha nos hospitais e está cuidando de tantos doentes. Os abraços na minha vizinha, que agora não pode mais vir tomar um café com a minha mãe aqui em casa. O abraço na minha dentista, estou com saudades até de fazer limpeza nos dentes. E o abraço na minha psicóloga, que agora só me atende por chamada de vídeo.

Contei para minha mãe que estava colecionando abraços, e ela gostou da ideia, também fez uma caixinha e está colecionando os abraços dela lá. Tem abraço para a amiga dela que perdeu o pai. Tem abraço para todas as amigas que ela sempre adorou encontrar, e esses abraços vêm com uma taça de vinho ou uma xícara de café. Tem abraço para amiga que está fazendo quimioterapia. Tem até um abraço enorme para você.

Abraços guardados para quando a gente puder voltar a se abraçar. A gente só tem medo de algum desses abraços ficar vazio. Abraço vazio de quem não pode se despedir.

Guarde seus abraços, e se cuide para que você possa receber os abraços que guardei para você. Ele está aqui, guardadinho na minha caixinha esperando tudo isso passar.

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