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Estado de Minas OPINIÃO

Retranca ou ataque na economia

'Desempenho da economia indica outra década de estagnação, se for mantida a ortodoxia econômica'


05/03/2023 04:00 - atualizado 05/03/2023 06:58

notas de real
(foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

Time que joga na retranca pode até vencer, mas o futebol é feio, não empolga torcida, não lota estádio nem arruma patrocínio. Com governos e empresas é igual. Empresa acomodada vai para o brejo – o cemitério corporativo está cheio de Kodaks orgulhosas. Governo indeciso sobre que caminho tomar ou intimidado pelo status quo também se dá mal.

O desempenho da economia no ano passado, divulgado pelo IBGE, serve de alerta sobre os riscos de jogar na defensiva. A economia cresceu 2,9% em 2022, mas fechou o quarto trimestre em queda de 0,4% sobre o período trimestral anterior, indicando para este ano e os seguintes, mantida a política econômica tradicional, outra década de estagnação.

Como a economia é dinâmica e estamos inseridos no mundo globalizado da produção, estagnação significa retração, comparada tanto com o PIB mundial quanto com os nossos principais parceiros, como China e EUA.

Olhando-se o indicador do PIB para períodos maiores, que é o jeito certo de acompanhar as transformações da economia, o resultado não permite otimismo. Nos quatro anos do governo Bolsonaro, segundo análise do economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, o PIB teve crescimento médio anual de 1,5%, só acima das taxas na gestão Dilma, de pífio 0,4%, e da retração de 1,3% no breve mandato de Collor.

Os oito anos de Lula foram marcados pelo crescimento médio anual de 4,1%, contra 2,4% nos dois mandatos de FHC. Na gestão Temer, de parte de 2016 a 2018, o PIB cresceu 1,4% ao ano em média – todos abaixo dos resultados médios anuais dos governos Itamar, 5%, e Sarney, 4,4%.

Não faltam indicadores para atestar que algo muito errado nos desvia do anseio coletivo por progresso, sendo o PIB a soma das realizações dos entes privados e públicos, além de famílias. O índice de volume trimestral do PIB calculado pelo IBGE, com o dado de 1995 igual a 100, registra que a atividade econômica no trimestre passado, com índice 178,4, repetiu a do 3º trimestre de 2013. Leia-se: passaram-se dez anos e o PIB real nem se mexeu. Isso é chocante.

O que o mundo nos ensina

O quadro fica mais dramático nos comparativos internacionais. Nosso PIB, em dólar corrente, era o sétimo maior em 2010. Em 2022 fomos o décimo, seguidos de Rússia, Coreia do Sul, México e Indonésia.
Em mais um par de anos, a Indonésia, último grande mercado de consumo de massa inexplorado, restando nesta categoria apenas Brasil, deverá nos passar, graças a uma política agressiva de indústria com pegada tecnológica e duas tentativas malsucedidas de industrialização. Para um país gigante e populoso, como o nosso, erros de industrialização não devem implicar desistência.

Na métrica da paridade de poder de compra, que elimina distorções do câmbio, tínhamos em 1980 o sexto maior PIB do mundo num ranking em que os EUA eram o número 1 – e abaixo de nós vinham Inglaterra, México, Índia e China. Quarenta e dois anos depois, China passou os EUA, Índia vem em terceiro, Indonésia já tem o sétimo maior PIB e caímos para a nona posição. China avançou quase 100 vezes no período, EUA, nove, e Brasil, 6,5. Opa!, dirá o otimista: “Estamos na cola dos EUA”. Não.

Os EUA sempre praticaram política industrial manejando o maior orçamento militar do mundo, maior que dos sete países seguintes neste ranking. Hoje, a estratégia desenvolvimentista sobre a qual não se deve chamar pelo nome, segundo ironia de estudo antigo do FMI, impulsiona a reindustrialização nutrida por investimento público e subsídio fiscal – pouco mais de US$ 2 trilhões em 10 anos, US$ 200 bilhões ao ano. E o que aconteceu? Já está dando frutos.

"Economia de alta pressão"

Ao assumir em 2021, o presidente Joe Biden se deparou com o mesmo mau-humor dos economistas neoliberais que fazem a cabeça do Partido Democrata desde o governo Clinton, gente como Larry Summers. Ele foi contra a volta de políticas ativas e continua cético, ora falando do risco de inflação, ora preocupado com o tamanho da dívida dos EUA.

Desse ouvidos, Biden não teria ampliada a pequena maioria no Senado e a perda da Câmara teria sido acachapante nas eleições de novembro. A maioria foi perdida por exatos 6.675 votos, frustrando as pesquisas e a certeza de Trump de que a vitória republicana seria esmagadora.

A retomada da economia dos EUA explica a força do octogenário Biden. A taxa de desemprego, de 3,4%, é a menor em mais de meio século, com a população ocupada chegando a 80,2% do total em idade de trabalhar. E nem por isso os salários correm à frente da inflação. É notável também o investimento em fábricas: saltou de US$ 70 bilhões no fim de 2020 para US$ 105 bilhões em 2022, segundo o BEA. O gasto em equipamentos industriais foi de US$ 250 bilhões para US$ 320 bilhões.

Pode estar se viabilizando a teoria da secretária do Tesouro, Janeth Yellen, sobre benefícios de deixar a economia esquentar num período inflacionário. Ela expôs a hipótese quando estava à frente do Fed em 2016, ao arguir se seria possível “reverter efeitos adversos do lado da oferta executando temporariamente uma ‘economia de alta pressão’, com demanda agregada robusta e mercado de trabalho apertado”.

Paulo Guedes de esquerda

Com governo sem maioria parlamentar, aliados do centrão nem um pouco confiáveis e acossado por uma oposição aguerrida, o presidente Lula parece ansioso por alternativas para além da narrativa que põe seu ministro da Fazenda como dublê de Palocci amigo dos fiscalistas e do mercado financeiro e ele mesmo como um Paulo Guedes de esquerda.

Só que o enredo de 2003 previa a economia em ascensão. O legado de Bolsonaro é de terra arrasada. Lula recebeu um país em que o emprego precário é a regra, miséria está exposta nas grandes cidades, renda domiciliar per capita é muito baixa, de R$ 1.625 por mês em 2022, com mais de 70 milhões de inadimplentes, nos dados da Serasa, dívidas de empresas de R$ 260 bilhões, e contando, e bancos trancados.

Uma multinacional centenária no Brasil precisou de fiança bancária de R$ 400 milhões, dinheiro de troco para ela, e só a conseguiu com um consórcio de bancos. Bastava um banco em tempos normais.
Este é um país para o presidente e o Congresso acharem os meios para investir, por ano, mais de R$ 370 bilhões em transportes, energia, telecomunicações e saneamento, 4,31% do PIB, mas pelo último dado, de 2021, investiu apenas R$ 148 bilhões, 1,71%, segundo o mapa da Abdib.

A indústria de transformação, que já foi a maior no mundo emergente, é a 34ª no ranking de exportações. No PIB, a sua participação caiu de 17,4% em 2005 para 12,9% em 2022. Com fatia de meros 7,9% no PIB, a agropecuária é um sucesso para gerar dólares, não para a arrecadação tributária nem criação de empregos fartos. Só a indústria, mesmo não sendo hoje grande empregadora, é capaz de dinamizar os serviços, cuja fatia de 68,2% no PIB depende da dinâmica industrial e de obras.

Por onde começar a resolver? Não é mais solução esperar pela “fada da confiança” do mercado. Lula vai jogar na retranca ou no ataque?

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