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Encontro do presidente com embaixadores reprisa a maldição do filme B

Refilmagem da trapaça eleitoral de Trump por Bolsonaro desperta a sociedade civil organizada


24/07/2022 04:00 - atualizado 24/07/2022 09:52

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Bolsonaro em reunião com embaixadores em que tentou desacreditar a segurança das urnas eletrônicas (foto: Clauber Caetano/PR/AFP)

O mundo está virado do avesso, questionando os sábios e verdades, e nós aqui discutindo a refilmagem do filme trash encenado pelo ex-animador de reality show Donald Trump como alvo de fraude eleitoral bolada pelos seus roteiristas trapalhões – de advogados golpistas a ideólogos amalucados. Ronald Reagan, ator medíocre de Hollywood antes de virar político – inspiração de autocratas trainees –, pelo menos era charmoso... E competente.
 
A comédia montada contra a urna eletrônica e a apuração dos votos pelo TSE, Tribunal Superior Eleitoral, pelo presidente candidato à reeleição, no Palácio do Alvorada, para uma plateia de embaixadores acreditados no Brasil, reprisou denúncias jamais comprovadas e teve até um mal-ajambrado Power Point, assassino da reputação de figurão demudado em figurinha após alguns slides com acusações supostamente definitivas. Procuradores da Lava Jato caíram assim do pedestal.
 
Assessorado por gnomos sem brilho, Bolsonaro conseguiu a proeza de reunir contra suas denúncias vazias quase uma centena de entidades da alta burocracia, de juízes a delegados federais, de procuradores a ministros do Tribunal de Contas e arapongas da Abin. E despertou a sociedade civil organizada, que andava desorganizada e calada.
Era para ter sido, conforme a epifania dos fardados palacianos, a desmoralização dos ministros do STF que dão expediente no TSE, em especial Alexandre de Moraes, Edson Fachin e Luís Roberto Barroso, respectivamente, futuro, atual e anterior presidente da Corte eleitoral. Terminou com o Judiciário fortalecido pelo empresariado e pela miríade de entidades que atuam como guardiães cívicas da integridade do Estado de Direito. Deu tudo errado para Bolsonaro.
 
Foi bizarro o desespero de analistas na TV. Indagavam: por que Bolsonaro ignorou prendas eleitorais como os R$ 200 adicionados ao Bolsa Família ou Auxílio Brasil pela PEC da compra de votos, já que válida apenas até dezembro, para desancar o Judiciário, um dos poderes da República, ao lado do Executivo e do Legislativo, com os três atuando com independência e harmonia, como diz a Constituição?
Ele passou de acusador a acusado com seu bestialógico. O que virá? Difícil saber. Com tudo de ponta-cabeça no mundo, distrações trazem altos riscos. E país a esmo pressagia impasses destrutivos.

Destempero mobilizador

Bolsonaro se excedeu em suas diatribes contra o inimigo imaginário – e o fez à revelia dos aliados do Centrão, como fizeram manifestar por meio de interlocutores, em especial Arthur Lira, presidente da Câmara, e Ciro Nogueira, presidente de seu partido, PP, e chefe da Casa Civil. Ambos disseram confiar nas urnas eletrônicas e no TSE.
 
Não quer dizer que o Centrão vá desembarcar da candidatura. Ela é o que PP, PL e Republicanos, base de apoio político de Bolsonaro, têm para hoje. Ao menos enquanto o “orçamento secreto”, naco da lei orçamentária entregue a eles pelo presidente, tiver saldo num total de R$ 16,5 bilhões este ano e projetados R$ 19 bilhões para 2023.
 
Só esta faceta da lei orçamentária, razão histórica da criação de um parlamento (ou seja, fiscalizar os atos do “rei” e arbitrar seus devaneios), já escancara a disfuncionalidade da governança do país.
Ao chamar atenção para as suas intenções golpistas, o presidente mobilizou setores influentes e majoritários da sociedade a defender a democracia e o Estado de Direito. E a criticar as impropriedades de um sistema político voltado para seus interesses privados, e em geral amorais, não para os dos eleitores que os elegeram.
 
O destempero de Bolsonaro pode vir a lhe render votos, mas também gerou um debate sobre a centralidade do Estado de Direito em nosso ordenamento político, jurídico e social, além do desenvolvimento, outro pilar de sustentação da coesão nacional. Não menos que isso.

Os valores republicanos

Frações do empresariado haviam desaprendido de se verem como parte da sociedade, preferindo delegar a políticos e tecnocratas o que, a rigor, é pivô a suas atividades na democracia liberal e na economia de mercado. Daí a estranheza de uns poucos, manifestando, mas sob a capa do anonimato, contrariedade com a defesa da democracia.
 
Se estivessem convencidos do que reclamam, poriam a cara para fora em vez de ruminarem em reservado plantando notas na imprensa contra um dos enunciados das propostas entregues aos presidenciáveis pela Fiesp, dirigida pelo industrial Josué Gomes da Silva, da Coteminas.
 
Um conceito tão cristalino como a defesa da luz elétrica, da água encanada e as vacinas é o que incomodou. Esse aqui: “A estabilidade democrática, o respeito ao Estado de Direito e o desenvolvimento são condições indispensáveis para o Brasil superar seus principais desafios”. Será possível que haja quem se oponha a isso? Sim, há.
 
O cientista político Creomar De Souza diz que “um problema central do debate público é a confusão de conceitos. Reacionários se acham conservadores, libertários se alcunham de liberais, stalinistas se consideram progressistas. A resultante é uma destruição perigosa de políticas públicas eficazes”. A gestão moderna tem uma solução.
ESG, a sigla em inglês para meio ambiente, social e governança, é o sucessor no mundo corporativo do conceito da “sustentabilidade”, desgastado pela sua apropriação pelo marketing das boas ações. Ela pressupõe empresas conscientes de seu papel. Ou, de outra forma, guiadas pelos valores republicanos expressos na Constituição. É do que se trata a mobilização contra a difamação do Judiciário.

O que merece atenção


A nova direita não trumpista nos EUA despertou para essa realidade e faz da defesa da democracia voltada ao bem-estar das famílias seu pilar fundamental. Difere dos liberais do Partido Democrata de Joe Biden pela pauta dos costumes, sobretudo na crítica à ideologia de gênero. De resto, tal como Biden, prega política industrial e apoio público às novas tecnologias e ao investimento em infraestrutura.
 
Esse contraponto aos reacionários, conforme definição do professor Creomar De Souza, ajuda a entender por que estamos há 40 anos com indústria definhando, população dependente de bolsas crescendo a cada geração, a elite política desorientada e o lado moderno do empresariado buscando no mundo o que o Brasil deixou de inspirar.
 
É o que merece atenção. As insolências de candidato conduzido por interesse daninho, como de corporações estatais que noutros tempos se revoltavam com o subdesenvolvimento, se resolvem no voto.

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