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Estado de Minas BRASIL S/A

Inovação, a rota para superar o retrocesso brasileiro

No passado recente, o Brasil criava o futuro no presente. O desafio é recriar o Brasil inovador


25/07/2021 04:00 - atualizado 25/07/2021 08:46

Vacinas do Butantan: com o laboratório paulista, a Fiocruz e distribuição via SUS, Brasil tem destaque internacional no setor, mas imunização chegou a ser demonizada pelo presidente da República(foto: Nelson Almeida/AFP 14/1/21)
Vacinas do Butantan: com o laboratório paulista, a Fiocruz e distribuição via SUS, Brasil tem destaque internacional no setor, mas imunização chegou a ser demonizada pelo presidente da República (foto: Nelson Almeida/AFP 14/1/21)

 

Quem pousa os cotovelos na janela para assistir distraído ao tempo passar não se pode queixar de que a vida lhe foi ingrata. É isso o que se passa conosco, lá se vão 40 anos, e mais rápido o tempo vai passando, já que as inovações avançam a passos largos no mundo.

 

Não se concebe que uma potência regional que já ostentou o maior e mais diversificado parque industrial do mundo, só menor que o dos países ricos ao final dos anos 1980, que ocupou o 6º lugar na lista das maiores economias e hoje se humilha na 12ª posição, esteja em franco retrocesso, penalizada por governantes e políticos toscos e despreparados, políticas econômicas erradas e o desprezo da minoria privilegiada em relação à pobreza secular.

 

Não se acuse a carência de inteligência nacional. Ela sempre houve e há, só que canalizada para atividades pouco geradoras de valor, o caso dos setores extrativista e financeiro, ou deu no pé, buscando segurança, reconhecimento e fortuna não mais disponíveis no Brasil.

 

Fomos pioneiros em áreas críticas do conhecimento, como as vacinas desenvolvidas pelo Butantan e Fiocruz e aplicadas com uma logística copiada mundo afora antes que o SUS começasse a ser demolido neste governo e a imunização fosse demonizada pelo presidente da República.

 

Na tecnologia da informação, fomos o primeiro e único país a ter o Mac, então recém-lançado pela Apple, em 1984, 100% nacional, clonado no ano seguinte por meio de engenharia reversa pelo que hoje seria chamada de startup, na Freguesia do Ó, periferia de São Paulo.

 

A Apple reclamou, os EUA ameaçaram retaliar, impondo barreiras a nossas exportações (citaram sapatos e suco de laranja), e a extinta Secretaria Especial de Informática cedeu, abafando o mesmo processo de “copy-paste” que fez China, Japão, Coreia titãs tecnológicos.

 

Fomos pioneiros em caixas eletrônicos, o Bradesco já tinha home banking em 1988, ainda hoje nossas operações bancárias são as mais ágeis no mundo. Tudo obra de jovens técnicos civis e militares que fizeram época com o pioneiro Brasil On-line, a Embraer, o salto do agronegócio com a Embrapa, a inovação da urna eletrônica, o ciclo da energia nuclear estava à vista. O futuro estava no presente.

 

Por que regredimos? Os talentos viraram financistas – e a economia estagnou, a indústria murchou, venceu a ideologia da vulgaridade.

 

Símbolo do retrocesso

 

A discussão sobre a segurança da urna eletrônica simboliza o nosso retrocesso, combinando má-fé com demência política em relação ao que tendíamos a ser – uma potência econômica e social, interrompida pelo abandono do pragmatismo na condução da economia, substituído pelo fundamentalismo de mercado e outras crenças falidas.

 

O desajuste das finanças públicas, iniciado com a ruína do modelo de crescimento do período militar (1964-1985) bancado por dívida externa, e emissão monetária na fase final, explicam a inflação endêmica que se seguiu, a desconfiança quanto ao papel do Estado no desenvolvimento e a frustração das políticas de bem-estar social previstas na Constituição. A reforma monetária de 1994 era para ser a redenção do progresso, mas acabou sendo o seu epitáfio.

 

Não há no mundo exemplo de nação desenvolvida sem a cumplicidade e mesmo a participação direta do Estado na formação da riqueza real. Aí todos os regimes convergem. Separam-se na partilha dos frutos. A utopia de que o mercado seria resposta para tudo veio dos EUA sob a forma do tal “neoliberalismo” contra o qual Trump se elegeu e não se reelegeu ao fracassar na entrega, e Biden tende a levar a cabo.

 

Onde foi que erramos

 

O olhar para trás, movido pela clássica dúvida sobre “onde foi que erramos”, ajuda a elucidar os desvios equivocados, entendidos às vezes como atalhos, tomados pelo país depois dos anos 1980. Não por coincidência, é o tempo que marca o início da desindustrialização em decorrência do abandono da fabricação no país de componentes e partes mais intensivas em tecnologia, substituídas por importações, conformando uma indústria montadora com baixa competitividade.

 

Gestão macroeconômica é como xadrez, movimente-se a peça errada e o jogo está perdido. E nem dá para reabrir o tabuleiro se mesmo os fundamentos da teoria econômica mudaram, como no Brasil André Lara Resende expõe e defende, contrariando a ortodoxia fossilizada. Mas basta olhar-se para o que não se fez lá atrás para intuir que, se o progresso estagnou, antes dele estagnou a nossa “intelligentsia”.

 

O passado ajuda a entender outras coisas como a descoberta de que os militares, sobretudo do Exército, não estão bem com Bolsonaro, estão é contra a alta possibilidade de que Lula e o PT retornem. O que aconteceu? Cultura militar insulada na caserna, baixa interação com a sociedade, falta de propósito maior, sequelas do equívoco dos últimos governantes de que bastaria ceder alguns benefícios etc.

 

O país ficou decrépito

 

A situação do Brasil virou preocupação internacional, e não apenas pela destruição metódica da Amazônia e perversão com os indígenas, mas pela deterioração social e do Estado nacional, em que governos e crime organizado se combinam, como no México e na Colômbia.

 

É neste ambiente que a política foi criminalizada num combate que arruinou a construção pesada, para gáudio de concorrentes da China, dos EUA, da França, um dos poucos setores em que o capital nacional tinha competitividade global, e minou as empresas estatais.

 

Hoje, o PIB potencial encolhe onde mais gera emprego, mas sugere ampliar-se graças às commodities de exportação, que empregam pouco e quase nada recolhem de impostos. Ah! Mas vamos reformar... O quê, se a tal administrativa não muda o desenho da governança pública e federativa claudicante? A tributária é feita para gerar receitas?

 

A realidade é que quase tudo no país está decrépito, falta sentido de missão à governança eleita, que só pensa em se reeleger e trata a burocracia permanente ora como estorvo, ora como cúmplice, e mal sabe o que ela faz ou deixa de fazer. Como mudar para valer?

 

É a isso que algumas lideranças empresariais se dedicam, buscando com inovações, não reformas do século passado, a expectativa de que possamos sentir a vida nos chamar para desfrutá-la comme il faut. É essa perspectiva que importa, não os devaneios de gente sem noção. 

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