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Novo medicamento é esperança para o tratamento do Alzheimer

Enfermidade neurológica atinge 5% da população com mais de 65 anos no Brasil, o que equivale a 1,4 milhão de pessoa


27/09/2021 04:00

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Setembro termina com mais um dia dedicado a um assunto que se transformou em preocupação mundial, depois de muitos e muitos anos sem tratamento especial: a doença de Alzheimer. Como enfrentei o problema durante alguns anos, entendo como a sua chegada pode ser confundida com o comportamento normal do paciente. O Alzheimer não pode ser reconhecido como outros danos no organismo, é confundido com idade, mudança de personalidade e outros males que acometem as pessoas. Depois do problema doméstico, tenho registrado inúmeros casos que ocorrem com pessoas conhecidas e que, antigamente, eram confundidos com idade, etc. Para falar sobre o assunto, profissionalmente, trouxemos hoje para os leitores um artigo apoiado pela neurologista Jerusa Smid, com as últimas informações sobre o problema:
 
“A doença de Alzheimer atinge 5% da população com mais de 65 anos – ou 1,4 milhão de pessoas no Brasil. Ela provoca a perda de funções como memória, raciocínio, juízo crítico e orientação, podendo levar à desorientação espacial, alterações de comportamento e dificuldades para a realização de tarefas corriqueiras, como se alimentar ou se vestir. Em fases mais avançadas, o paciente passa a não reconhecer parentes e amigos, até ficar totalmente dependente.
 
“A pessoa torna-se incapaz de aprender novas informações. Essa alteração de memória é justamente para as novas informações, os fatos recentes. A memória de acontecimentos antigos continua bastante preservada, no início. O paciente pode ainda não reconhecer lugares que antes eram familiares, se perder em datas e também apresentar quadros de depressão, apatia, surtos de agressividade, delírios de roubo e mania de perseguição”, explica Jerusa Smid, doutora em ciências pelo Departamento de Neurologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), neurologista do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento (GNCC) da Divisão de Clínica Neurológica do Hospital das Clínicas da FMUSP, e coordenadora do Departamento Científico de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento da Academia Brasileira de Neurologia (ABN).
 
Até o momento, a literatura médica não descobriu as causas da doença. Sabe-se, no entanto, que é preciso dar atenção às proteínas beta-amiloide, que são consequências de parte da degradação celular. Elas se acumulam no cérebro de pessoas mais idosas e ainda mais nas acometidas por Alzheimer. Provavelmente, são produtos de um mecanismo de reparação celular irregular e, por isso, se acumulam em grande quantidade nesses grupos. Não são a causa exclusiva do Alzheimer, nem sua única consequência, apenas um dos componentes da sua fisiopatologia.
 
Como não tem cura, os especialistas se empenham em fazer o diagnóstico precoce e trabalham no sentido de aplicar medidas consideradas preventivas para retardar o avanço da enfermidade. Mas um novo medicamento, aprovado pela Food and Drug Administration (FDA), o órgão regulatório americano, equivalente à Anvisa no Brasil, vem agitando o cenário científico, oscilando entre a expectativa de um tratamento inédito para a doença e certa limitação em torno da descoberta. A droga em questão é o aducanumab – anticorpo monoclonal que atua sobre o acúmulo de proteína beta-amiloide no cérebro –, que foi submetido a dois estudos clínicos, fase 3, prospectivos e controlados. Eles chegaram a ser interrompidos porque o remédio parecia não fazer efeito. Mas, segundo o fabricante do medicamento, depois da parada, uma análise mais profunda das informações de um dos trabalhos encontrou resultados positivos. E foi a partir daí que o FDA deu parecer positivo. Nessa retomada, o estudo apontou melhora na avaliação laboratorial de imagem dos pacientes com a doença de Alzheimer, porém sem benefício clínico objetivo.
 
“A conclusão a que se chegou é que o medicamento atua sobre o acúmulo da substância beta-amiloide no cérebro de pacientes com deficiência cognitiva leve. O remédio diminui o acúmulo. No entanto, não mostrou eficácia clínica nem benefício evidente para os pacientes, que não tiveram melhora da cognição, a despeito de haver uma melhora no exame”, explica Jerusa Smid.
 
A polêmica começou logo após a aprovação pelo FDA, que desde 2003 não aprovava nenhuma medicação para a doença. Principalmente porque o painel responsável pela avaliação, em sua maioria, votou contra. E mesmo assim o medicamento – administrado por meio de infusão intravenosa – recebeu sinal verde. Por se tratar de uma droga de uso crônico, que vem gerando expectativa social e populacional, com um resultado alvissareiro, mas que deve ser interpretado com cautela, alguns especialistas – inclusive no Brasil – avaliam como arriscada a utilização em larga escala, ainda mais imaginando-se o uso de longo prazo.
 
“A medicação não foi avaliada pela Anvisa. Ou seja, nem a temos por aqui. Além disso, até o momento, foi usada apenas em fase bem leve da doença ou em pré-demência (cognitivo leve). Talvez esse trabalho mais amplo possa revelar melhores resultados. Se acontecer, vai ser muito legal. Mas o fato é que ainda não mostrou”, reforça Jerusa. Até o momento só existem medicamentos que atuam na qualidade de vida de pessoas com Alzheimer: melhoram comportamento ou ciclo sono-vigília ou agressividade ou disposição ou apatia.
 
A doença começa muito antes dos primeiros sintomas. Isso porque temos uma “reserva cognitiva”, uma “resiliência cerebral”. Nessa fase, acontecem ainda bastantes sinapses e ela vai avançando, mas sem manifestar problemas. Inicialmente, o Alzheimer acomete a região do hipocampo, que é portão da memória. No quadro primário, que é chamado comprometimento cognitivo leve, o indivíduo percebe que sua memória está deteriorando.
 
     O primeiro sintoma, na maioria dos pacientes, é o esquecimento para eventos recentes, enquanto fatos remotos seguem preservados. Às vezes, a pessoa é incapaz de lembrar o que almoçou ontem, mas se lembra com detalhes de sua casa de infância, por exem- plo. E isso vai levando à perda de independência e autonomia.
 
     Com a evolução da doença, outras regiões do cérebro vão sendo acometidas e mais alterações cognitivas ocorrendo, piorando a qualidade de vida. Como a doença está bastante associada ao envelhecimento, especialistas recomendam olhar para pessoas muito antes disso: aos 20, 30 anos, e não aos 70. É preciso investir em uma melhor qualidade de envelhecimento cerebral desde jovem.

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