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Estado de Minas

Eu vi o PIC, que comemora hoje seus 60 anos, nascer

A inauguração oficial contou com a participação de 20 mil pessoas e a presença de JK, que foi paraninfo da cerimônia


26/01/2021 04:00 - atualizado 25/01/2021 21:37
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Juscelino Kubitschek foi recebido com festa na inauguração do PIC
Juscelino Kubitschek foi recebido com festa na inauguração do PIC (foto: PIC/DIVULGAÇÃO)

Devo a Múcio Athayde o primeiro Fusca que tive, comprado junto com colegas da redação do saudoso Diário da Tarde. A compra foi financiada pelo Banco Nacional e paguei as prestações mensais com o salário que recebia de Múcio, para participar de toda a programação que antecedia a um sonho louco – a criação de um novo clube na capital, com projeto de Oscar Niemeyer e, posteriormente, com a participação de Candido Portinari (no grande mural do clube) e Roberto Burle Marx, nos jardins. O empresário pensava grande e o projeto foi crescendo com muito trabalho – mas também muito sucesso. O PIC – Pampulha Iate Clube – está fazendo hoje 60 anos de sua inauguração oficial – se bem que extraoficialmente realizei um baile de réveillon antecipado para a moçada – que foi sucesso absoluto.

Minha participação na criação do clube foi absoluta, passava a tarde inteira, depois que saía daqui do jornal, no escritório do PIC. E a cabeça de Múcio não parava de funcionar, ele não tinha medidas para o que queria. Um dos financiadores do projeto era o Banco da Lavoura, dos irmãos Aloisio e Gilberto Faria. E quando a grana prometida custava a entrar, foram várias as vezes que ele mandava imprimir alguns folhetos, falando mal do banco, e queria que eu fosse, de madrugada, de teco-teco, jogar os papéis pela cidade. Ele me ligava tarde da noite e eu tinha de racionalizar, convencê-lo de que os folhetos seriam piores, impedindo que o fornecimento de fundos continuasse.

Como ele não entendia muito de sociedade, festas, conhecimento da cidade em seu projeto, era preciso promover o tempo todo o que o clube significaria para BH. Meu apoio incluía conversas com Niemeyer por meio de uma sobrinha, que aparecia sempre em seu lugar. Mas Burle Marx vinha sempre discutir os belos jardins e, para atender à sua estada na cidade, eu o levava para almoçar no restaurante do Hotel Normandy, de cuja comida ele gostava muito. Fui com ele várias vezes às obras do PIC, para discutir o que usaria nos jardins, mas, para falar a verdade, não me lembro mais de como escolheu e por que escolheu as plantas que usaria. Outro lance que precisou ser vencido, com sucessivas reportagens em jornais, foi o protesto da vizinhança, achando que o clube iria influenciar negativamente a região.

O antecipado baile de réveillon foi uma ideia de Múcio para apresentar o clube à juventude da cidade. A festa foi muito bonita, porque planejei cobrir todo o teto com balões em branco e azul, cores que iriam identificar o clube. E a moçada não só adorou a festa, como muitos terminaram a noite naquela piscina imensa, novidade por aqui. A inauguração oficial contou com a participação de 20 mil pessoas e a presença de JK, que foi paraninfo da cerimônia. Múcio botava assim o pé na política. E o primeiro presidente do PIC foi meu amigo pessoal José Olímpio de Castro, marido da minha amiga querida Helena Castro.

Antes de o clube ser aberto, consegui, num passe de mágica, trazer até o aeroporto da Pampulha o ator Kirk Douglas, que ia de Brasília para o Rio. Queria que fosse conhecer o PIC, mas ele não quis de maneira nenhuma. Confraternizou-se com as pessoas que o esperavam na pista e minha irmã, fã dele, tem uma foto cumprimentando-o, dentro do avião. Quem fez foi Rodolfo Rocha, fotografo oficial do DT e grande amigo meu. Naqueles tempos, as coisas eram muito mais fáceis, fico impressionada com o que conseguíamos fazer apenas com um ou outro conhecimento. Como é que eu conseguiria hoje parar um avião que ia de Brasília para o Rio, na Pampulha?

Outro lance importante desse trança-trança nos bastidores foi fazer de Stael Abelha Miss Minas Gerais, representando o estado no concurso nacional. Cuidei de tudo, do guarda-roupa à viagem, mas quem foi com ela para o Rio foi outro colega de saudosa memória, Nicolau Neto. Stael veio do Rio com uma boa classificação, desfilou em carro aberto pela Avenida Afonso Pena e foi hospedar-se no Hotel Normandy. Naquela altura dos acontecimentos, já estava de namoro com Múcio Athayde, com quem se casou mais tarde, indo morar em Brasília.

Depois de toda essa função, só voltei ao PIC uma vez, para o casamento de amigos. E nesses seus 60 anos de funcionamento constante, fico sabendo que o atual presidente é Wilson Alvarenga Oliveira Filho, que comanda o clube até o próximo ano. Na lista de ex-presidentes temos ainda José Cabral (in memoriam), Sandoval Soares de Azevedo Filho, Paulo Mafra (in memoriam), José Luiz Santos Azevedo (in memoriam), Felix Ricardo Gonçalves Moutinho, Edison Simão (de 1990 a 1994), Antonio Mafra, Tiago Jacques Gonçalves, Evandro Veiga Negrão de Lima, Carlos Augusto Passos, Edison Simão e Antonio Eustáquio da Rocha Soares.

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