(none) || (none)

Continue lendo os seus conteúdos favoritos.

Assine o Estado de Minas.

price

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e segurança do Google para fazer a assinatura.

Assine agora o Estado de Minas por R$ 9,90/mês. ASSINE AGORA >>

Publicidade

Estado de Minas ONCOLOGIA

Síndromes de predisposição hereditária ao câncer

Uma das grandes cartas na manga é justamente poder rastrear a família toda e, assim, fazer um aconselhamento genético para cada indivíduo


23/05/2021 04:00 - atualizado 02/06/2021 17:56


 
As síndromes de predisposição hereditária ao câncer (SPHC) são caracterizadas por alterações genéticas que aumentam as chances de determinados tipos de tumores se desenvolverem em indivíduos da mesma família. Essas alterações genéticas são transmitidas de geração em geração, com risco de 50% em cada gestação. Estima-se que entre 15% e 20% dos casos de câncer no mundo tenham como causas essas mutações herdadas pela genética da família.
 
A suspeita da existência de uma síndrome de predisposição ao câncer deve ser feita sempre quando houver vários casos de um mesmo tipo ou tipos variados de câncer em parentes de uma mesma família e ocorrendo em idade abaixo de 55 anos.
 
É possível identificar as mutações geradoras dessas síndromes por meio do estudo das tendências familiares de cada pessoa. Para isso, são utilizados exames genéticos realizados com saliva ou sangue. Mais de 200 tipos de síndromes hereditárias já foram identificados pela ciência.
 
Os exemplos mais comuns são: síndrome mama-ovário (BRCA 1 e BRCA2), câncer de cólon não polipose hereditária ou síndrome de Lynch (MSH2, MLH1, PMS2, MSH6 e EPCAM), polipose adenomatosa familiar (APC, MUTYH), neoplasias endócrinas múltiplas (MEN1, RET), câncer gástrico difuso hereditário (CDH1), síndrome de Li-Fraumeni (TP53), carcinoma renal hereditário (VHL, MET, FH), entre outras.
 
O conhecimento sobre essas síndromes é vital para fazer o que chamo de programa de prevenção e checape oncológico, que incluirá medidas preventivas, de rastreamento periódico (que pode incluir exames clínicos, endoscópicos e radiológicos), de diagnóstico precoce e, até mesmo, tratamentos preventivos, com o uso de algum medicamento ou realização de cirurgias, como a remoção profilática do intestino grosso, tireoide, ovários e mamas, nos casos indicados.
 
Há pouco mais de dois anos, tive um paciente relativamente jovem, com cerca de 51 anos, diagnosticado e tratado de um sarcoma (tumor na musculatura da coxa). Um ano depois, detectei um novo tumor, um câncer de próstata. Devido ao histórico familiar dele, com vários tipos de câncer em pessoas abaixo dos 55 anos, suspeitei da síndrome de Li-Fraumeni (LFS), que é causada pela mutação do gene TP53. De fato, o teste genético confirmou a suspeita.
 
As pessoas que nascem com essa síndrome têm predisposição a vários tipos de câncer como sarcoma, câncer cerebral, próstata, trato digestivo, mama e outros. E uma vez curado do câncer de próstata, um terceiro tumor apareceu, um câncer cerebral chamado glioblastoma multiforme. Após o tratamento, ele ficou um tempo bem, mas, infelizmente, veio a falecer. “Para que serviu o teste genético, então?”, o leitor deve estar se perguntando.
 
Uma das grandes cartas na manga é justamente poder rastrear a família toda e, assim, fazer um aconselhamento genético para cada indivíduo. Por isso, a filha desse paciente buscou orientação, apesar de ser totalmente assintomática. Fizemos o teste genético nela e confirmamos a presença de mutação no mesmo gene TP53, mas com uma variante chamada de R337H.
 
A partir disso, realizamos um rastreamento completo, inclusive, do abdome com uma ressonância nuclear magnética. Detectamos, então, um nódulo ainda bem pequeno na glândula adrenal (ou suprarrenal) direita com grande sugestividade de malignidade, que se confirmou como carcinoma adrenal.
 
A paciente, após a cirurgia, foi tecnicamente curada. Anualmente é submetida a uma ressonância de corpo inteiro. Normalmente, a síndrome de Li-Fraumeni (LFS) torna as pessoas muito sensíveis à radiação, inclusive, às radiações de mamografia e de tomografia, que podem ser o gatilho para o aparecimento de um câncer. Então, substituímos esses exames por uma ressonância.
 
Esses são cuidados possíveis e que reforçam a importância do diagnóstico das síndromes hereditárias mesmo que o paciente esteja em metástase, e mesmo para pessoas sem nenhum sintoma. A prevenção é uma grande aliada contra o câncer.

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)