O escalonamento dos salários dos servidores públicos estaduais levou ontem cerca de 2 mil policiais e bombeiros militares e civis a protestarem contra o governo de Minas Gerais, fechando por 40 minutos todas as pistas da MG-10, em frente à Cidade Administrativa. É a segunda manifestação da categoria, que ameaçou uma paralisação geral dos servidores de segurança pública, caso o governador Fernando Pimentel (PT) não revogue a medida que vem sendo adotada desde janeiro. Eles já marcaram nova mobilização para 1º de abril e também prometem em ir a Ouro Preto no dia 21, quando o ex-presidente do Uruguai José Mujica vai receber a medalha da Inconfidência das mãos do petista.
Os manifestantes chegaram à sede do governo mineiro às 16h50 e bloquearam a MG-10 nos dois sentidos, deixando o trânsito completamente interditado por 40 minutos e causando transtornos para quem seguia em direção ao aeroporto de Confins. Alguns passageiros que ficaram presos no engarrafamento preferiram deixar os ônibus e andar com as bagagens até passar pela barreira formada pelos policiais.
“Os motoristas que estão irritados com o protesto e atrasados para pegar voos em Confins podem ligar para o governador Fernando Pimentel e reclamar com ele. Avisem que não aceitaremos o parcelamento do nosso salário”, afirmou de cima do carro de som Cabo Coelho, um dos organizadores do protesto.
Os líderes do protesto que se revezaram no carro de som fizeram ameaças de que o parcelamento dos salários não será aceito pela categoria e poderá trazer transtornos para a população, inclusive com paralisação total dos órgãos de segurança. Segundo disseram, o ato foi realizado com policiais de folga, mas os próximos podem incluir uma greve. “Se o governo não pagar, a polícia vai parar”, gritavam os policiais.
Caravanas
Com motos, carros, ônibus e vans, os policiais partiram da Assembleia Legislativa pouco antes das 15h. Desde meio-dia, veículos de várias regiões do estado começaram a chegar à Assembleia. Havia caravanas de Montes Claros, Passos, Teófilo Otoni, Governador Valadares, Juiz de Fora e outras cidades, segundo os policiais, contratados pelas oito associações que organizaram a manifestação. Vários vestiam camisas brancas com os dizeres “Pelo 5º dia útil”. Alguns também foram vestidos com as cores da bandeira, que decoraram os carros na hora da carreata.
Durante todo o percurso, acompanhado pela PM fardada, os líderes do movimento diziam ao microfone que o protesto pode aumentar. Eles também pediam apoio da população, dizendo que ali estavam policiais cobrando do governador que não parcele seus salários. “Nós que damos a vida pela sociedade queremos respeito do governador. Estamos pagando juros no cartão de crédito”, bradaram.
Além do pagamento no quinto dia útil, o grupo pediu reposição das perdas com a inflação nos salários. Na lista pedem garantia de direitos conquistados, da aposentadoria aos 30 anos e direitos previdenciários, além da política remuneratória. O escalonamento foi estabelecido em janeiro, segundo o Executivo, por causa da crise econômica pela qual o estado passa. Pela forma adotada, 75% dos servidores que recebem até R$ 3 mil recebem no 5º dia útil. Os demais recebem em duas ou três parcelas, sendo pagas nos dias 5, 12 e 16.
Um dos organizadores do movimento foi o deputado estadual Sargento Rodrigues (PDT), que é do bloco de oposição a Pimentel na Assembleia. Coube a ele algumas das principais críticas feitas. Rodrigues disse que se o governo tivesse reduzido o número de secretarias e cortado cargos comissionados, estaria pagando os salários em dia.
Também aderiram ao protestos dos policiais alguns integrantes dos movimentos que pedem o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), Brasil Livre e Avança Brasil. Às 17h30 o trânsito foi liberado na MG-010, mas os reflexos da paralisação foram sentidos até o início da noite nas avenidas Cristiano Machado, Pedro I e Antonio Carlos.
O governador Pimentel não estava na sede do governo mineiro durante o protesto. Na tarde de ontem ele foi a Brasília para assinar acordo entre União, os estados de Minas Gerais e do Espírito Santo e a Samarco para ações de recuperação da bacia do Rio Doce e das áreas atingidas pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana. Por meio da assessoria de imprensa, o governo de Minas informou que “as propostas da categoria serão devidamente avaliadas tão logo forem formalmente apresentadas ao governo do estado”.