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Estado de Minas

Governo de Minas fecha Palácio da Liberdade para visitação pública

Executivo suspende entrada de turistas na antiga sede do poder e retira do local a obra Memória e História, causando indignação no curador. Secretário diz que será feita uma revisão do espaço


postado em 29/04/2015 06:00 / atualizado em 29/04/2015 07:15

De forma interativa, o museu no Palácio da Liberdade mostrava aos visitantes fatos marcantes da história de MG(foto: Crsitina Horta/EM/D.A Press)
De forma interativa, o museu no Palácio da Liberdade mostrava aos visitantes fatos marcantes da história de MG (foto: Crsitina Horta/EM/D.A Press)

Os portões fechados do Palácio da Liberdade e as modificações feitas na antiga sede do poder do governo mineiro despertaram mais uma batalha entre as administrações passada e a atual. As medidas, que incluem a retirada da exposição Memória e história do palácio, atiçaram também a ira do designer e curador de exposições Marcello Dantas — um dos mais respeitados do país –, que usou uma rede social para manifestar sua indignação, ao ser informado de que a exposição dele teria sido “destruída”.

“Fiquei estarrecido com a notícia de que o governo do PT de Minas Gerais mandou destruir a exposição feita por mim e uma grande equipe no Palácio da Liberdade em Belo Horizonte. A exposição foi inaugurada há dois anos, e usava tecnologia de ponta para contar a história daqueles que passaram pelo Palácio desde 1906 e os episódios que aconteceram a partir daquele espaço que afetaram a história do país”, escreveu em sua página pessoal no Facebook. Até o final da tarde dessa terça-feira o post dele tinha mais de 70 mil visualizações e quase 2,5 mil compartilhamentos. O secretário de Cultura, Angelo Oswaldo, considerou a exaltação do curador precipitada. “O trabalho foi retirado e será feita uma revisão. Não é intocável e é passível de revisão”, afirma Oswaldo.

Perguntado se a exposição poderia ter algum componente político que desagradaria ao PT, que governa o estado pela primeira vez, o curador Marcello Dantas disse que não há nada nesse sentido. “Todos os personagens já estão mortos. Em momento algum fala do Aécio Neves”, frisou o curador. Ele lembra alguns trabalhos que faziam parte da exposição, como a gravação representando um telefonema do então governador Magalhães Pinto articulando os momentos finais do golpe militar de 1964 e um diálogo entre Juscelino Kubitschek e Oscar Niemeyer.

O secretário Angelo Oswaldo também nega que exista algum elemento político na retirada da exposição concebida durante o governo tucano. “Quem dá conotação política são as pessoas que defendem o governo anterior e não aceitam críticas”, entende o secretário.

A ex-secretária de Cultura Eliane Parreiras, que ocupou a pasta entre 2011 até 2014, nos governos de Antonio Anastasia (PSDB) e Alberto Pinto Coelho (PP), acredita que sua gestão tomou o cuidado para que a exposição não pudesse ser aproveitada politicamente e, por isso, trata apenas dos governantes que já faleceram. “Para não vincular com gestões em curso”, destaca Eliane. “Os governantes são tratados com equilíbrio e não há nenhuma exacerbação”, completa a ex-secretária.

Para Eliana, a exposição e a abertura do palácio ao público deveriam continuar, pois, na análise dela, sáo “um símbolo grande de Minas e as pessoas ficavam emocionadas quando viam”. A exposição foi inaugurada em agosto de 2013 e custou ao Sesi, que foi o patrocinador, cerca de R$ 800 mil. “Foi feita com recursos do Sesi sem ônus aos cofres públicos e permitiu que o palácio tivesse visitação pública pela primeira vez em sua história. Uma vergonha e tanto para um governante fechar o acesso do público ao mais antigo e principal ícone da capital mineira”, escreveu Marcello Dantas, que também foi responsável pelo Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo.

O museu funcionava de forma interativa, mostrando, em cada um dos 30 cômodos do palácio, gravações de discursos e conversas dos ex-governadores falecidos feitas por atores. As imagens e sons estão em telefone, porta-retratos, armários, espelhos e até em um piano. Na exposição, havia várias referências ao ex-governador Tancredo Neves, avô do senador Aécio Neves. No salão vermelho era possível ver, em um quadro, a comoção popular na hora do anúncio da morte de Tancredo, que acabava de ser eleito presidente. Também no vídeo, a escolha de Tancredo para governar Minas nas primeiras eleições diretas e outros fatos de sua carreira política eram mostrados.

O designer lembra que o trabalho da exposição começou em 2011, dois anos antes da inauguração. “Foi um trabalho de chinês. Sem intervir no patrimônio histórico”, detalha. Marcello explica que foram feitas réplicas de molduras para adornar as telas, foram passados cabos por baixo dos rodapés e fios por dentro dos armários. “Os visitantes podiam tirar foto do local e não perceberiam nenhuma alteração”, explica o designer.

Análise

O Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG), que cuida do patrimônio do Palácio enviou uma nota dizendo que a visitação está interrompida “para análise e avaliação da nova gestão do Circuito Cultural Praça da Liberdade”. Informou também que fará um projeto de reestruturação do espaço, mas ainda não tem uma data definida para a reabertura do Palácio.

A reportagem do EM entrou em contato direto com o Palácio da Liberdade e foi informada por uma atendente de que a visitação está suspensa porque o espaço vai passar por reforma. (Colaborou Flávia Ayer)


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