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Estado de Minas

Blocos se movimentam para garantir estrutura para o Carnaval em BH

Os grupos oferecem agenda diária de ensaios para os foliões e já discutem com a prefeitura segurança, fechamento de ruas e banheiros químicos


postado em 10/01/2016 06:00 / atualizado em 10/01/2016 07:57

Cerca de mil foliões participaram, neste sábado, do ensaio geral do bloco de rua Baianas Ozadas, no Largo da Saideira, com direito a um bom batuque e ao gostinho do acarajé(foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
Cerca de mil foliões participaram, neste sábado, do ensaio geral do bloco de rua Baianas Ozadas, no Largo da Saideira, com direito a um bom batuque e ao gostinho do acarajé (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)

O dionísio belo-horizontino Guto Borges abriu o baú carnavalesco, os frequentadores da Praia da Estação já colocaram as roupas de banho e, de agora para frente, os repiques, xequerês e tamborins poderão ser ouvidos nos quatro cantos de Belo Horizonte. O carnaval será na segunda semana de fevereiro, mas está aberta a temporada de ensaios. Embora a Belotur ainda não tenha divulgado o número esperado de foliões para curtir os três dias da festa de Momo, os blocos apostam que a curva de público continuará ascendente. Com mais foliões nas ruas, uma das preocupações são as estruturas de som que possam atender o público crescente. As negociações com a prefeitura estão em andamento para definir segurança, fechamento do trânsito e número de banheiros químicos, mas algo parece certo: os blocos de rua deverão dar o tom da festa mais uma vez. “Os blocos tendem a manter a ideia de carnaval na rua e sem cordas. No Tchanzinho Zona Norte, também temos uma preocupação com a diversidade e com o respeito à mulher”, diz uma das fundadoras, Laila Heringer Costa, de 32 anos.


Com o evento de comemoração dos seis anos da Praça da Estação – que foi realizado ontem – movimento cultural e político que está na gênese do carnaval de rua de Belo Horizonte, a temporada de ensaios está simbolicamente aberta. Para quem tem energia e disposição, é possível acompanhar os ensaios de segunda a segunda (veja quadro). Momento para que os ritmistas ganhem harmonia para tocar o repertório, os ensaios são o termômetro do que será a festa. No Baianas Ozadas e Então, brilha!, a média é de 400 ritmistas a cada ensaio. No Chama o Síndico, o número varia de 150 a 200 instrumentistas. Números que podem crescer.

Folião onipresente e um dos símbolos do carnaval de rua da capital, Guto mantém o ritual de abrir o mobiliário onde guarda as fantasias que são usados para desfilar nos blocos da capital quando começa a temporada de ensaios e preparativos. Ele já trabalha para sair, em 30 de janeiro, no bloco Mamá na Vaca, tradicional pela irreverência do desfile no Bairro Santo Antônio, na Região Centro-Sul e por ter como fonte de inspiração a vaquinha da Rua Leopoldina. Como participante orgânico dos movimentos culturais da cidade, Guto também faz reflexão sobre o processo cultural aberto pela festa na capital, que surgiu pelo desejo de ocupação e democratização dos espaços públicos da cidade. Para ele, para além da festa, o reflexo do carnaval na produção cultura de Belo Horizonte “é um dado irrefutável”. Durante todo o ano de 2015, bandas que se formaram a partir dos blocos se apresentaram.

Os integrantes dos blocos querem manter o carnaval como uma festa de rua, livre e aberto à experimentação. “A história começa a ser contada. Não existe uma história. São várias. Temos divergências e tentativas de apropriação. Mas é importante perceber que a maneira como ela é contada determina o futuro”, ressalta. Na avaliação do historiador, propostas de fazer o carnaval nos moldes como ocorre, por exemplo, em Salvador (com circuitos fechados e camarotes) não combina com o espírito libertário da festa mineira. “A ideia de camarote é o oposto disso. É algo que é exclusivo, de privilégio, festa paga e que segrega.” Guto acredita que o número de blocos aumentará, assim como o de foliões. “Muita gente fazendo bloco. Todos compartilham da ideia de um carnaval popular.”

Reconhecido por apresentar clássicos do axé, o bloco Então, brilha! terá novidade no repertório, que é cuidado por músicos independentes, como o Di Souza, Gustavito, Leandro César e Glauco Gonçalves. Os músicos deverão executar trilha sonora de desenhos animados, como Tom e Jerry e Super-Homem. Outra surpresa serão os naipes de sopro que se juntarão aos instrumentos de percussão da bateria. O Brilha é responsável por um dos desfiles mais democráticos da cidade, que ocorre na Rua dos Guaicurus. “Desde 2012, se destaca como um bloco muito diverso. É para preto, branco, índio, gay, rico, pobre, as pessoas encontram na diversidade motivos para brilhar”, destaca Di Souza. O trajeto deste ano está sendo discutido, mas deverá ser na região do Baixo Centro. “A Guaicurus é a rua mais malfalada da cidade. Mas o Então, brilha! a ressimboliza e ressignifica”, lembra.

O Baianas Ozadas, bloco que arrastou mais de 100 mil foliões no carnaval de 2015, também promete novidades. “Estamos cuidando do som, do repertório”, diz Heleno Augusto, um dos fundadores e vocalista. O grupo, que sempre faz referência a um nome da cultura baiana, homenageará os Doces Bárbaros – grupo que era formado por Gal Costa, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Maria Bethania. “Vamos colocar músicas do grupo e também de cada um dos intérpretes.” Ao longo do ano, o bloco realizou oficinas para formação de ritmistas e participou de eventos culturais. Ainda há tempo para quem quer participar das oficinas. Basta levar um instrumento, como xequerê, timbal, surdo, caixa e repique.

A Bahia também é aqui

Ao som de xequerês, agogôs, timbales, surdos e caixas, entre outros batuques, o carnaval se antecipou neste sábado em Belo Horizonte. O ensaio geral do bloco carnavalesco Baianas Ozadas levou cerca de mil foliões ao Largo da Saideira, na Região Nordeste da capital. E como o próprio nome do grupo já diz, o ritmo baiano dominou a festa em todos os sentidos, a começar pela música e pela animação, com direito ao legítimo acarajé soteropolitano. A pequena Giovanna Carneiro Xavier, de 4 anos, já entrou no clima de Carnaval. “Baianinha ozada” desde os 2 anos, ela levou seu tarol de brinquedo para suas primeiras aulas de batuque, já pensando em fazer parte da banda um dia, segundo o pai, o engenheiro Pablo Xavier, de 31.

No carnaval de 2015, o Baianas Ozadas arrastou mais de 100 mil foliões pelas ruas do Centro de BH, segundo estimava da polícia. Este ano, os organizadores prometem alegria e amor em dobro. Amor, claro, já que esse será o tema da festa. O bloco vai fazer uma homenagem aos 40 anos do álbum Doces Bárbaros, de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa e Maria Bethânia, de 1976. Trata-se de uma releitura do verso “livre para amar”, da música Seu amor. “Vamos discutir o amor em todas as suas formas, livre de preconceito de cor, de gênero e de tantos outros”, conta um dos fundadores e vocalista do bloco, o publicitário Geo Cardoso, baiano que adotou BH como lar.

E como em festa baiana não pode faltar acarajé, o cenotécnico de teatro e maquinista Bílio Santos, de 33, viajou de Salvador (BA) especialmente para o ensaio de ontem em BH. “Sou vendedor de acarajé nas horas vagas”, brincou Bílio, preparando a iguaria. “Só falta a roupa de baiana, mas o gosto é baiano legítimo. Se quiser quente, sai quente”, disse, mostrando a panela de barro com pasta de pimenta. Para refrescar a garganta, os foliões experimentaram o catuçaí, a bebida do amor, que é uma mistura de catuaba com açaí. “É afrodisíaco”, garante a vendedora Gabriela Corrêa, de 32.

Nem mesmo o pé quebrado impediu o representante comercial Gustavo Nowak, de 25, de ir à festa. “Já estou no ritmo do carnaval ”, disse. A terapeuta ocupacional Amanda Carolina de Souza, de 26, saiu no Baianas Ozadas na folia do ano passado e marcou presença no ensaio. “Só troco o carnaval de Belo Horizonte por Salvador, mas o Baianas Ozadas consegue trazer a Bahia para perto da gente.”

Como manda a tradição, o Baianas Ozadas vai repetir o trajeto que sai da Praça da Liberdade e desce a Avenida João Pinheiro até a Praça da Estação. Por esse mesmo caminho passaram os trabalhadores da construção da nova capital mineira no carnaval de 1889, conta Geo. 


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