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Estado de Minas

Avenida Afonso Pena volta a receber escolas de samba e blocos caricatos

Via tem tradição de ser palco de manifestações carnavalescas desde o início do século 20


postado em 18/01/2014 06:00 / atualizado em 18/01/2014 07:14

Escola de samba desfila na Afonso Pena na década de 1960. Na época, os desfiles eram espontâneos e os foliões se espalhavam pelas ruas e avenidas do Centro da capital(foto: ARQUIVO em/d.a press)
Escola de samba desfila na Afonso Pena na década de 1960. Na época, os desfiles eram espontâneos e os foliões se espalhavam pelas ruas e avenidas do Centro da capital (foto: ARQUIVO em/d.a press)

A história do carnaval de Belo Horizonte dá samba. E no enredo não podem faltar fantasias, confetes e as sucessivas mudanças no endereço da folia, que começou no verão de 1897 antes de a capital ser inaugurada. Como ninguém é de ferro, trabalhadores saíram às ruas poeirentas para brincar e tomar umas e outras até o sol raiar. O povo tomou gosto pela farra e, já na primeira década do século passado, surgiram as grandes sociedades com seus carros alegóricos, conta o pesquisador Marcos Maia, formado em história na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Agora, com a volta do desfile oficial de escolas de samba e blocos caricatos à Avenida Afonso Pena, no Centro, a trajetória de ritmo, lantejoulas e serpentinas ganha novos contornos, entusiasmando os súditos do Rei Momo.

As mudanças no local dos desfiles contradizem a tradição da capital para o samba, diz Marcos Maia, lembrando que, ao longo do século 20, eles sempre ocorreram nas vias centrais – os primeiros foram na Avenida João Pinheiro e Rua da Bahia. “Mas a história do carnaval de BH é também de resistência. O atual número de bloco arrastando milhares de pessoas, com a explosão em 2013 de forma espontânea, mostra que a brincadeira está mais viva do que nunca e mantém a vocação dos belo-horizontinos para a festa em espaços públicos”, afirma o pesquisador.

Quem for compor um samba-enredo sobre essas idas e vindas terá que fazer, necessariamente, reverência às décadas de 1920 e 1930, quando as grandes agremiações saíram de cena para dar lugar ao corso ou desfiles de carros ornamentados. “A brincadeira era típica das famílias”, explica o pesquisador. Como criatividade e agitação não têm limites, os moradores criaram, na mesma época, os cordões ou grupos fantasiados, que podem ser considerados, guardadas as devidas proporções, os “vovôs” dos atuais bloquinhos, responsáveis por dar corpo e alma novos ao carnaval da cidade. Conforme reportagem do Estado de Minas, “os corsos partiam da Praça Rio Branco, em frente à Feira de Amostras (já demolida) até a Álvares Cabral (…). Os que tiveram oportunidade de conhecer o descrevem como sendo a vida do carnaval de rua, à noite, de Belo Horizonte”.

Ainda na década de 1930, os blocos caricatos, genuinamente belo-horizontinos, saíram dos bairros para animar a população e, na sequência, chegou a hora de as escolas de samba, inspiradas no carnaval carioca, mostrar sua ginga. A pioneira a desfilar foi a Pedreira Unida, formada por moradores da Pedreira Prado Lopes, na Região Noroeste.

Até os anos 1970, os clubes “bombavam”, com bailes movidos ao som das marchinhas; faiscantes, com fantasias, trajes de gala e máscaras coloridas; e refrescantes, com o tubo de lança-perfume Rodouro, esguichado nas costas dos foliões – ou cheirado discretamente pelos moderninhos. Mas o povo gostava mesmo é de rua. Em 1975, a Banda Mole primou pela irreverência e deu uma turbinada na folia, fazendo a linha “vai de qualquer jeito”, embora sem atravessar o samba ou desafinar na gandaia.

PASSARELAS Instituído pelo Decreto Municipal 3.676, o desfile oficial das escolas de samba e blocos caricatos começou em 1980 na Avenida Afonso Pena e permaneceu nessa passarela por 10 anos. Com o fim, muita gente achou que BH tinha se transformado, como São Paulo, em túmulo do samba. Para não perder o pique, as administrações regionais promoveram bailes populares, de olho principalmente nas crianças e terceira idade. Em 2004, os desfiles foram levados para a Via 240, na Região Norte, e, seis anos depois, transferidos para o Bulevar Arrudas, na Região Centro-Sul, até que, em 6 de dezembro passado, um entendimento entre Belotur/Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), escolas de samba e blocos permitiu o retorno do desfile à Afonso Pena.

Carlos Alberto, da Canto da Alvorada, festeja retorno dos desfiles ao Centro da cidade(foto: EULER JÚNIOR/EM/D.A. PRESS)
Carlos Alberto, da Canto da Alvorada, festeja retorno dos desfiles ao Centro da cidade (foto: EULER JÚNIOR/EM/D.A. PRESS)


Satisfeita com a novidade, a presidente da Associação da Velha Guarda do Samba de BH, Lúcia Santos, de 67 anos, se orgulha de nunca ter perdido um desfile. “Vou para a arquibancada e torço muito”, diz a moradora do Bairro Planalto, na Região Norte, que, em julho, gravou o CD Dama mineira do samba. Para Lúcia, que ainda não decidiu em qual escola vai desfilar –“vai ser surpresa” –, o carnaval na Afonso Pena é importante e necessário. “Quando os desfiles deixaram de ser realizados, a gente ficou perdida e a cidade, morta. Nasci no samba e sei que o carnaval é um momento alegre. Nos anos 1980, vinha gente do Rio de Janeiro desfilar aqui, havia estrangeiros nas arquibancadas aplaudindo e belos figurinos nos destaques.”

Certo de que a folia é paixão que nasce com o sambista, o presidente da tricampeã Canto da Alvorada, Carlos Alberto Damasceno, também festeja a volta. “Isso mostra que estamos evoluindo. A avenida recupera os anos dourados do nosso carnaval”, acredita. E mais: “Todas as vezes que mudam o local do desfile, a nossa escola ganha o carnaval de BH”, diz o dirigente com a experiência de quem “brinca no asfalto” há mais de 30 anos. Com o reino de Momo se aproximando, Carlos Alberto está dividido entre o trabalho e o barracão da escola, no Bairro Cabana, na Região Oeste. E não perde a vontade de vencer novamente num cenário de tradição.


ELEIÇÃO DA CORTE MOMESCA

Hoje tem eleição da corte momesca, evento que abre oficialmente a folia. Quarenta e um concorrentes disputam os títulos de rei, rainha e princesa do carnaval de Belo Horizonte, numa festa promovida pela PBH, via Belotur, que começa às 20h, no Music Hall (Avenida do Contorno, 3.239, perto da Praça Floriano Peixoto, no Bairro Santa Efigênia). Os eleitos (rei e a rainha) receberão o prêmio de R$ 5 mil, enquanto a princesa, de R$ 3 mil. A corte estará à frente da programação oficial e será embaixadora da folia belo-horizontina. Haverá apresentação de Gustavo Maguá, com participação especial da cantora Aline Calixto, e da bateria show do bloco caricato Academia do Samba por Acaso.


LINHA DO TEMPO

1897 – Foliões fazem o seu carnaval em Belo Horizonte, antes mesmo da inauguração da capital
Década de 1910 –Começa o desfile das grandes sociedades, que saíam com carros alegóricos – na verdade, caminhões – pelas ruas da cidade
Década de 1930 –Escola de Samba Pedreira Unida, formada por moradores da Pedreira Prado Lopes, é a primeira agremiação a desfilar em BH
1975 – Banda Mole faz sua estreia no Carnaval de Belo Horizonte
1980 –Escolas de Samba e blocos caricatos saem pela primeira vez na Avenida Afonso Pena. Desfile oficial do carnaval foi instituído pelo decreto municipal 3.676/1980
1990 – Blocos caricatos e escolas de samba desfilam pela última vez na Avenida Afonso Pena
2004 – Desfile das escolas de samba é transferido para a Via 240, na Região Norte
2011 – Desfile das escolas de samba é transferido para o Bulevar Arrudas, na Região Centro-Sul
2013 – Em 6 de dezembro, entendimento entre Belotur/PBH, escolas de samba e blocos leva de volta o desfile para a Avenida Afonso Pena


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