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Estado de Minas DUAS RODAS E QUILÔMETROS DE DESAFIOS

Para duas rodas serem opção de transporte, BH tem de vencer muitos obstáculos

Aposta da Prefeitura de BH nas bicicletas como alternativa de transporte precisa vencer mais que a topografia. Ciclistas apontam avanços e listam obstáculos a serem contornados para que bikes possam ganhar as ruas em definitivo


postado em 21/11/2013 06:00 / atualizado em 21/11/2013 09:20

Uma cidade que ainda se move contra o ciclista: excesso de veículos motorizados, esforço para pedalar na subida e desrespeito a faixas reservadas são só parte do problema(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A.Press )
Uma cidade que ainda se move contra o ciclista: excesso de veículos motorizados, esforço para pedalar na subida e desrespeito a faixas reservadas são só parte do problema (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A.Press )


A aposta da BHTrans no projeto de bicicletas compartilhadas, que prevê 30 estações para aluguel de bikes em Belo Horizonte, reabre a discussão sobre a viabilidade do meio de transporte e sobre as condições de implantação de ciclovias na capital. O edital de licitação, lançado anteontem, deixa clara a política de incentivo da prefeitura para o uso da bicicleta em trajetos curtos e em rede com o transporte público. A intenção é motivar mais pessoas a adotar a alternativa nos deslocamentos diários, já que apenas 1,5% da população da cidade se diz adepta dessa solução, fazendo cerca de 100 mil viagens diariamente nos 50 quilômetros de pistas exclusivas disponíveis atualmente, segundo representantes de ciclistas. O último estudo oficial, feito em 2001 pela BHTrans, mostrou percentual ainda menor: 0,6% de adeptos e 25 mil viagens por dia. Entusiastas das duas rodas afirmam que é possível, sim, adotar a bike como meio de transporte em BH, que planeja chegar a 2020 com 380 quilômetros de corredores para ciclistas. Entretanto, ainda criticam pontos como a lógica de implantação das faixas exclusivas, o descumprimento de normas técnicas, a falta de educação no trânsito e a inexistência de fiscalização.

Comparativamente, a bicicleta larga em vantagem em relação a outros meios de transporte. É um veículo de baixo custo de aquisição e manutenção, não poluente, silencioso, flexível nos deslocamentos e ainda ajuda na melhoria da saúde. Mas a combinação dos problemas ainda existentes em BH faz com que muita gente ainda não se convença desses benefícios. É o que explica o estudante Augusto Schmidt, membro da Associação de Ciclistas Urbanos de Belo Horizonte - BH em Ciclo, que desde o ano passado integra um grupo de trabalho com a BHTrans. “Estamos trabalhando em conjunto na revisão de projetos, porque há casos em que a largura da faixa não é respeitada ou a ciclovia está entre o estacionamento e a pista de rolamento, o que expõe o ciclista ao risco de acidentes”, diz.

Como exemplo, ele cita pelo menos dois percursos: as avenidas Tancredo Neves, na Pampulha, e João Pinheiro, no Bairro Funcionários, Região Centro-Sul de BH. Em ambos, segundo Augusto, a largura de 1,5 metro não foi respeitada. No segundo caso, carros precisam passar sobre a faixa exclusiva para estacionar. “Essa falta de padrão também dificulta o entendimento dos motoristas sobre como se comportar em relação às ciclovias”, critica.

Militante do movimento pelo uso da bike e ciclista há três anos, Augusto destaca também a forma como as ciclovias foram implantadas. “Há um projeto que interliga as rotas, mas não foi dada prioridade a percursos. Eles estão sendo feitos sem ligação entre si e isso desanima quem deseja andar de bicicleta no dia a dia”, argumenta.

Disputa por espaço

(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A.Press )
(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A.Press )
A falta de educação no trânsito também acirra a disputa entre bicicletas, carros, ônibus, caminhões, motos e pedestres por um espaço na via pública. O economista José Roberto Botelho, de 45 anos, tenta garantir seu espaço todos os dias, quando sai de casa, no Bairro Planalto, Região Norte, rumo à Rua da Bahia, na Savassi, Região Centro-Sul. O percurso inclui as avenidas Antônio Carlos e Afonso Pena, onde encara trechos perigosos. São 13,5 quilômetros, percorridos em cerca de 50 minutos. “Resolvi arriscar e unir o útil ao agradável, pois o trânsito está horrível. O tempo que perdia no ônibus uso para fazer exercício físico. Vou tranquilo e, nos pontos mais perigosos, vou empurrando a bicicleta na calçada”, conta. A experiência revelou muitas dificuldades, como a falta de hábito dos motoristas em dividir a via com os ciclistas. “O motorista não aceita, ele se apossou da rua. É difícil pedalar em uma cidade que não tem essa cultura.” A solução é se fazer notado, com sinalização e o uso de equipamentos de segurança, como capacete, farol, refletores, entre outros.

Integrante da Associação Mountain Bike de BH e da Associação BH em Ciclo, Vinícius Mundim avalia que haverá ganhos para a cidade com as medidas anunciadas pela prefeitura. O funcionamento das estações até as 23h, por exemplo, facilitará a integração com o metrô e os ônibus. Ele considera a cidade viável para o uso de bicicletas, mas diz que os incentivos ainda são “tímidos”. “Em uma cidade onde sempre se divulgou o mito do relevo desfavorável e com carros demais, todo dia há mais alguém pedalando. A cada dia as pessoas começam a vislumbrar isso como uma opção”, avalia.

Mundim diz que o relevo não é problema, já que o pontos mais usados pelos ciclistas, como a área hospitalar, a Savassi e o Centro, são predominantemente planos: “A questão do morro só é problema para quem nunca subiu em uma bicicleta. Isso não atrapalha”, defende. Mas o ativista também reclama da falta de educação de motoristas que fecham ciclistas e causam acidentes sem receber punição. Segundo ele, a BHTrans não tem campanhas efetivas de mudança de consciência, além de não apertar o cerco na fiscalização. “O Detran e o DER se recusam a passar as multas, o que nos leva a crer que nenhum motorista jamais foi multado por desrespeitar o ciclista”, desconfia.

Responsável pela implantação das ciclovias na cidade, a BHTrans defende que a bicicleta é uma realidade recente em Belo Horizonte e que é necessário fazer um trabalho de conscientização de longo prazo. Segundo a assessoria de imprensa da empresa, a expectativa é de que, à medida que o projeto avançar e com campanhas educativas feitas periodicamente, haja uma mudança cultural.

O desafio da conscientização se refere tanto à maior adesão às bikes quanto ao entendimento de que as ciclovias são um espaço público a ser respeitado e preservado na cidade. Sobre o relevo, a BHTrans explica que as ciclovias só estão sendo implantadas em locais planos ou com declividade inferior a 10%. As críticas sobre a implantação das faixas estão sendo levadas a reuniões periódicas com representantes de ciclistas e as ordens de serviços para construção de novas ciclovias ou intervenções em rotas já construídas só são liberadas após discussão dos projetos com quem pedala, segundo a empresa municipal.

5 BARREIRAS PARA IR DE BIKE

1 - relevo e clima

Subidas e descidas íngremes, características do relevo de Belo Horizonte, e as altas temperaturas, são vistas como fatores desanimadores para quem deseja pedalar. O Projeto Pedala BH privilegia trechos planos ou com inclinação máxima de 10%.

2 - Interligação

Projetos estão sendo implantados ainda sem ligação entre as ciclovias e com isso quem anda de bicicleta precisa passar por trechos sem faixas exclusivas. A BHTrans garante que lógica de implantação está sendo revista e que ao fim, todas as rotas serão interligadas.

3 - Padronização técnica
 
Alguns dos trechos das ciclovias foram implantados com largura inferior ao padrão de segurança, de 1,5 metro, além de haver trechos em que a faixa exclusiva está entre o estacionamento e a pista de rolamento

4 - Educação de trânsito

A relação entre ciclistas e os outros agentes do trânsito ainda é conflituosa, porque falta compreensão de muitos condutores de que a bicicleta é também um meio de transporte e deve ter seu espaço no trânsito.

5 - Fiscalização

Falta rigor no cumprimento das regras de trânsito para proteger o ciclista e as ciclovias, que são espaços delimitados para bicicletas. Casos de carros bloqueando essas faixas e motos e pedestres passando por elas ainda ficam impunes.

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