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Estado de Minas

População rejeita demolição do Mercado Distrital do Cruzeiro

Representantes de moradores, arquitetos e urbanistas atacam o projeto que muda o perfil do centro de compras, enquanto a prefeitura corre para viabilizar a obra


28/04/2011 06:00 - atualizado 28/04/2011 06:20

Manifestações de indignação na reunião na sede do Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural, no Bairro da Serra
Manifestações de indignação na reunião na sede do Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural, no Bairro da Serra (foto: Jorge Gontijo/EM/D.A press)

Ao tentar dar o próximo passo para mudar o perfil do Mercado Distrital do Cruzeiro, a Prefeitura de Belo Horizonte viu que não será tão fácil derrubar o tradicional centro de compras da Região Centro-Sul de BH e transformá-lo em um empreendimento que abrigará dois hotéis, lojas, restaurantes e 1,9 mil vagas de estacionamento. Sob enxurrada de críticas da comunidade, arquitetos e urbanistas, o Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural de BH adiou a votação da proposta para o dia 18, com o objetivo de discutir melhor o assunto. Um empecilho a mais aos planos da prefeitura, que agora corre contra o tempo para conseguir protocolar o projeto até 31 de julho.

Esse é o prazo para o empreendimento se beneficiar da lei municipal que concede incentivos a empreendimentos hoteleiros, culturais e na área de saúde para atender demandas da Copa do Mundo de 2014. A decisão do adiamento foi tomada nessa quarta-feira, em reunião que mostrou claramente a resistência e insatisfação de moradores do Bairro Cruzeiro com a proposta feita por um consórcio formado por uma construtora, duas associações e uma universidade, única apresentada em um procedimento de manifestação de interesse (PMI) aberto em junho do ano passado.

A prefeitura prevê para julho a abertura da licitação das obras no mercado, na qual buscará outros interessados em bancar o projeto. O Executivo não vai investir verba pública no empreendimento. Mas, antes de licitar, terá que passar pelo crivo dos conselhos de patrimônio (que pede que sejam consideradas no projeto questões levantadas pela comunidade), ambiental e de políticas urbanas.

A diretora de Patrimônio Cultural da Fundação Municipal de Cultura, Michele Arroyo, explica que, por se tratar de um imóvel em área de proteção da Serra do Curral e que abrange o Parque Amilcar Viana Martins, área tombada, o projeto precisa ser considerado pelo patrimônio histórico. “Além disso, o mercado é um bem indicado como registro documental. Então, antes de definir se os conselheiros aprovam ou não o projeto, é preciso definir qual será o nível de proteção do imóvel”, afirma. Parecer técnico apresentado na reunião já indica a necessidade de mudanças na altura dos prédios, com a manutenção da vista do parque e na retirada dos vidros como revestimento da fachada.

O projeto do novo Mercado do Cruzeiro, orçado em R$ 200 milhões, prevê dois hotéis, com 387 quartos, estacionamento para 1,9 mil veículos, área de eventos e convenções e cerca de 60 lojas, com espaço garantido para os atuais feirantes. O mirante do parque Amilcar Viana Martins, que abriga caixa d’água tombada, seria transferido para o topo de um dos hotéis, mas continuaria aberto ao público. Na avaliação da prefeitura, a proposta resolve três problemas da região: risco de extinção do mercado, o trânsito caótico – principalmente pelo fluxo de veículos em torno da Universidade Fumec, vizinha ao mercado – e a baixa frequência no parque.

Obras de arte

O consultor Rodrigo Gouvêa, contratado pela prefeitura para analisar o projeto, acredita que a região sairá ganhando. “Estudo mostrou que, no pico, o empreendimento atrairá 1,1 mil vagas, sendo que a capacidade do estacionamento é de 1,9 mil. Ou seja, ajuda a dar mais fluidez ao trânsito.” Ele ressalta que, caso o projeto não seja aprovado até 31 de julho, terá que ser totalmente revisto, pois foi concebido à luz da lei da Copa. O arquiteto que assina o projeto, Paulo Roberto, explica que o mercado abrigará na fachada uma grande estrutura para a exposição de obras de arte. “A área que vai ocupar é a mesma, mas procuramos transformá-la num espaço turístico”, esclarece.

Com 996 metros de altura, o empreedimento aumentará a área edificada, hoje em torno dos 11 mil metros quadrados, para 111 mil metros quadrados. A proposta foi apresentada por uma construtora, em parceria com a Universidade Fumec (que assumiria 800 vagas do estacionamento e cumpriria pendência junto à prefeitura), a Associação de Comerciantes do Mercado Distrital do Cruzeiro (Acomec) e a Associação dos Moradores do Bairro Anchieta (Amoran), vizinho ao Cruzeiro, na época do PMI, única entidade de moradores na região.

Não ao concreto

 

Apesar da defesa, a comunidade e entidades representativas de arquitetos e urbanistas não se convencem dos atributos dados ao novo mercado. Pelo contrário, consideram que o projeto apaga uma história construída há 36 anos, com a assinatura do arquiteto Éolo Maia. “A memória da cidade não se constitui apenas de arquitetura. O mercado faz parte de um patrimônio imaterial, das tradições do bairro e das famílias. Defendemos a reabilitação do Distrital do Cruzeiro e não sua demolição”, afirma a diretora de patrimônio do Instituto dos Arquitetos do Brasil, Luciana Feres, adiantando que a entidade defende um concurso público para criar um projeto para o mercado.

Durante a reunião do conselho, moradores deixaram clara a oposição à obra. “Nossa indignação é proporcional ao grande problema que agora enfrentamos”, reiterou o músico Chico Amaral. A presidente da Associação dos Cidadãos do Bairro Cruzeiro (Amoreiro), Patrícia Caristo, afirma que a comunidade quer um espaço que presenteie a população com uma área de lazer, e não com mais concreto. “O mercado não está à mingua como a prefeitura insiste em dizer. Ele tem um papel social. Queremos nosso céu e não esse projeto.” Os permissionários do mercado apoiam o projeto por falta de opção. “O mercado precisa de ser revitalizado urgentemente e essa foi a única proposta”, afirma o presidente da Acomec, Wayne Stochiero.


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