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Estado de Minas

Na era digital, consumidores continuam usando carnê e cheque pré-datado

Ao todo, mais de um terço dos clientes recorrem ao antigo modelo do crediário


postado em 28/08/2017 06:00 / atualizado em 28/08/2017 08:42

Adepto dos carnês, Bruno Linhares comprou um caminhão com parcelas de R$ 450(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Adepto dos carnês, Bruno Linhares comprou um caminhão com parcelas de R$ 450 (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)

Em tempos de modernidade, quando quase tudo é pago por meio de cartões de crédito e débito, o antigo carnê e o cheque pré-datado resistem. Levantamento realizado pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) em todas as regiões do país aponta que 26% dos consumidores brasileiros têm o costume de fazer compras por meio dos tradicionais carnês de crediário e 8% ainda usam o pré-datado.


Os carnês são usados especialmente para a compra de eletrodomésticos ou veículos, pelas mulheres (31%) e moradores do interior do país (29%). A principal motivação para adquirir esse meio de pagamento é a possibilidade de fazer mais compras (32%), seguida de alguma necessidade ou imprevisto (21%) e do fato de não haver burocracia para adquirir (19%). Em média, cada entrevistado tem uma a duas compras atualmente realizadas no crediário.

“No caso do crediário e do carnê, há uma particularidade que merece atenção: frequentemente há juros embutidos nas parcelas, o que encarece a compra e pode torná-la desvantajosa. Por isso, o ideal é comparar o valor total da compra parcelada com aquele que seria cobrado na aquisição à vista”, afirma o educador financeiro do portal Meu Bolso Feliz, José Vignoli.

Para a economista da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH) Ana Paula Bastos, um outro fator que ainda estimula o carnê, principalmente nas cidades menores, é que uma parcela da população não faz uso até hoje de serviços bancários, incluindo cartões de crédito e débito. No interior também, destaca ela, a relação entre o comerciante e o comprador geralmente é mais próxima, o que facilita a compra pelo bloquinho de prestações.

Segundo Ana Paula, apesar de ser um modo não muito comum de fazer compras, ele vem crescendo por causa dos juros dos cartões de crédito, que somaram 399,1% nos últimos 12 meses. Nesse mesmo período até julho, a inflação oficial no Brasil, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), acumulou 2,71%, menor taxa observada desde 1999.

“Além disso, com o aumento do endividamento e inadimplência no cartão de crédito muita gente tem procurado outros meios de fazer suas compras”, relata a economista. Mas de acordo com ela, apesar de ser uma maneira alternativa de fazer compras, é preciso estar atento aos juros para não se endividar. A dica é a mesma para qualquer outra compra a prazo: pesquisar taxa de juros e verificar se a parcela não compromete o orçamento, tendo em vista possíveis imprevistos.

INADIMPLÊNCIA Pelo que revela a pesquisa, 27% dos usuários de carnê não analisaram as tarifas e juros cobrados quando realizam compras com esse meio de pagamento. Os mais cuidadosos somam 67% da amostra. A pesquisa destaca ainda que 39% dos compradores por meio de carnê já ficaram com o nome negativado devido a pagamentos pendentes nessa modalidade, sendo que 13% ainda estão nesta situação.

A manicure Cleonilde Oliveira é uma das usuárias de carnê. “Uso sempre que posso para fazer alguma compra, principalmente de eletrodoméstico. Acho mais prático que cheque, não tem essa coisa de limite, só precisa lembrar de pagar certinho todo mês”, conta. Cliente de uma grande rede de varejo que trabalha com carnê, ela diz que acabou virando uma consumidora fiel e que sempre é muito bem tratada na loja e ganha descontos se paga antes do prazo. Atualmente ela não tem nenhum carnê pendente. “Mas se aparecer alguma coisa pela qual me interesso faço um”, conta.

O mecânico Bruno Lopes Linhares, 37 anos, também é adepto dos carnês. Ele já comprou um veículo de passeio com carnê de pagamento e agora um caminhão, que está sendo pago em 48 parcelas de R$ 450. O único incômodo, segundo ele, é a cobrança. “A gente atrasa um dia e eles já começam a ligar cobrando”, reclama. Segundo ele, o carnê de prestações foi a forma usada para poder adquirir bens de valores mais elevados, já que a vista ele não teria condição de quitar a compra. Bruno confessa, no entanto, que não pesquisou as taxas de juros, por entender que seria “tudo igual”. “Todos cobram mais ou menos a mesma coisa.”

“Com o aumento do endividamento e a inadimplência no cartão de crédito, muita gente tem procurado outros meios para fazer suas compras” - Ana Paula Bastos, economista da CDL-BH

À MODA ANTIGA

Sistemas de compras tradicionais que o comércio não despreza


NO CREDIÁRIO

Usam carnê para fazer compras    26%
Usuários que vivem no interior    29%
Usam para poder fazer mais compras    32%
Não analisam tarifas e juros cobrados    27%
Já ficaram com o nome negativado
devido a pagamentos pendentes    39%
Ainda estão nessa situação    13%

BORRACHUDO

Usam cheque pré-datado para fazer compras    8%
Já ficaram inadimplentes    38%
Usaram o cheque devido a algum imprevisto    50%
Usaram para quitar alguma dívida    12%

Fonte: pesquisa CNDL/SPC

Talão do preconceito

O cheque também continua sendo usado, mas poucas vezes ao longo do ano. Na média, o cheque é utilizado nove vezes por ano entre seus usuários e os produtos que os brasileiros mais têm adquirido por meio do talão de cheque são alimentos em supermercados (34%), materiais de construção (20%) e móveis (18%). Ter prazo para pagar (28%), fazer compras mesmo sem dinheiro (23%) e a possibilidade de parcelar o valor (12%) são os fatores que mais levam ao uso do cheque, que quase não é mais aceito em estabelecimentos bancários.

Ao todo, 86% dos usuários de cheque garantem fazer algum tipo de controle quando usam esse meio de pagamento, ante 11% que não dão importância ao tema. A economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, afirma que ainda que seja uma modalidade de crédito pouco utilizada, negligenciar o controle pode ser arriscado.

“É importante destacar que a modalidade não é regulamentada por lei e, em tese, o cheque pode ser compensado antes da data indicada, gerando problemas se não houver o dinheiro na conta. Além disso, se o consumidor confunde ou se esquece das datas de pagamento, ou mesmo se ele assumir quantias acima de sua capacidade para honrar os compromissos, as consequências podem ser ruins”, afirma. 


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