Brasília – O processo de desaceleração da inflação se mantém. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), considerado a prévia do indicador oficial do custo de vida no país, subiu 0,19% neste mês, um reco frente a 0,23% no mês passado graças a algumas reduções de preços de itens importantes nos gastos dos brasileiros com alimentos e bebidas. Trata-se da menor taxa para o mês analisado desde 2009 e do percentual medido num único mês mais baixo desde agosto de 2014, divulgou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com o resultado, a carestia acumulada em 12 meses acumula variação de 8,27%, a menor desde maio de 2015.
Para analistas de bancos e corretoras ouvidos pelo Estado de Minas, o comportamento da inflação e do índice de difusão reforça um ambiente favorável para o corte da taxa básica de juros, a Selic, que remunera os títulos do governo no mercado financeiro e serve de referência para as operações nas instituições financeiras e no comércio. No entanto, o Comitê de Política Monetária do Banco Central está cauteloso em relação aos cortes. Se por um lado os preços administrados, aqueles que são estabelecidos por contrato ou controlados pelo governo,já não apresentam mais o mesmo perigo verificado no ano passado, os preços livres, que respondem às condições de oferta e demanda, ainda resistem a cair.
Na Região Metropolitana de Belo Horizonte, o IPCA-15 avançou 0,31%, ante 0,03% em setembro, na contramão da média nacional. A pesquisa do IBGE verificou que para a deflação do grupo de despesas com alimentação e bebidas, a principal contribuição para baixo foi a do leite longa vida, de 0,11 ponto percentual, que ficou 8,49% mais barato. Houve redução de preços também até meados de outubro para batata-inglesa (-13,03%), hortaliças (-6,18%) e o feijão Carioca (-6,17%).
A exceção ficou por conta das carnes, cujos preços subiram 2,45% e deram a contribuição mais elevada ao IPCA-15 de outubro, com 0,07 ponto percentual, ainda de acordo com o instituto. Outros dois grupos de gastos ajudaram a conter o IPCA-15: artigos de residência, com variação negativa de 0,31% e despesas pessoais, que caíram, em média, 0,12%. Para a prévia divulgada ontem, o IBGE coletou os preços no período de 15 de setembro a 13 deste mês e os comparou àqueles vigentes de 13 de agosto a 14 de setembro.
ALTA DOS SERVIÇOS De janeiro a outubro, o IPCA-15 acumulou variação de 6,11%. Para o acumulado em 12 meses, os preços administrados se destacaram, com aumento de 7,7%. Ainda assim, é a menor taxa desde janeiro do ano passado. Já os preços livres, na mesma base de comparação, subiram 6,8%. No mesmo período de 2015, a alta desses custos era de 6,9%. Em parte, essa pressão é atribuída aos gastos com serviços, que cresceram, em média, 7,1%.
O economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, destaca que, considerando-se que a participação geral dos serviços foi de 0,16 ponto percentual, cerca de um terço da participação desses preços ocorreu por pressão de itens que não
são sensíveis à recessão. “O grupo de serviços segue desinflando, mas há dúvida sobre se a velocidade e profundidade continuam”, observou. (Com agências)
O Q U E N O S I N T E R E S S A
Que deflação é essa?
O Brasil da deflação agora mostrada pelo indicador oficial do custo de vida, o IPCA – tanto quanto pela prévia do índice que serve ao sistema de metas do governo –, ainda não é visto na economia real com a mesma clareza dos números do IBGE. E não será vislumbrado tão cedo pela dona de casa que vai ao mercado todo dia, não ao financeiro, aquele dos bancos e de investidores privilegiados pelo lucro, mas o do arroz e do feijão, da carne e das hortaliças e frutas, que custam a levar a baixa dos indicadores às contas do açougue, do supermercado e da farmácia. De positivo, fica a expectativa deixada pelo IPCA-15 de uma generalizada queda de preços, capaz de fazer a diferença no orçamento nos próximos meses.