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Estado de Minas CRISE

Sem reação, indústria estica férias coletivas

Iveco amplia parada de dezembro para 30 dias e Mercedes-Benz escalona dispensa temporária. Calçadistas de Nova Serrana antecipam paralisação e mobiliário de Ubá concede três semanas


postado em 23/11/2015 06:00 / atualizado em 23/11/2015 07:17

Empregados da indústria de calçados do Centro-Oeste do estado vão descansar mais cedo(foto: Marta Vieira/EM/D.A Press 17/5/11)
Empregados da indústria de calçados do Centro-Oeste do estado vão descansar mais cedo (foto: Marta Vieira/EM/D.A Press 17/5/11)
A redução ou absoluta falta de encomendas para o fim de ano e o início de 2016 forçam indústrias de variados setores – de fabricantes de móveis e calçados ao setor automotivo – a antecipar ou estender o período de paralisação das linhas de produção durante as festas de Natal e ano-novo. O agravamento da crise brasileira também leva mais empresas de alguns segmentos, a exemplo de fábricas de mobiliário da Zona da Mata mineira, a suspender as atividades nesta época, diferentemente do ano passado.

Com a forte retração das vendas da indústria automotiva, em Minas Gerais, Iveco, do grupo Fiat, e Mercedes-Benz devem diminuir a produção, respectivamente, nas unidades de Sete Lagoas, na Região Central de Minas, e Juiz de Fora, na Zona da Mata. A Iveco comunicou ao sindicato dos trabalhadores que concederá férias coletivas aos empregados da unidade de veículos comerciais de 14 de dezembro a 12 de janeiro, período mais extenso que os adotados nesta época em anos anteriores, de 10 a 20 dias.

A fabricante de caminhões e comerciais leves da montadora italiana inicia também no mês que vem uma nova fase de lay-off na fábrica, mas ainda sem prazo definido, de acordo com a empresa. O sistema consiste na dispensa temporária dos empregados, que passam a receber o seguro-desemprego e a complementação do salário pela empresa durante a vigência do acordo, não superior a cinco meses. Parada semelhante foi adotada em setembro para parcela dos empregados, lembra o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Sete Lagoas (Stimmesl), Ernane Geraldo Dias.

“A situação está bastante adversa. Em plena crise, as férias coletivas podem até ser prorrogadas”, afirma. Na fábrica da marca Mercedes-Benz, as férias coletivas serão escalonadas. A cada período, os trabalhadores de determinado setor ficarão sem trabalhar. O primeiro e mais extenso começa no próximo dia 30. A unidade de montagem bruta e pintura deve dispensar o pessoal durante 30 dias, segundo o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Juiz de Fora, João César da Silva. O maior setor é o de montagem, com aproximadamente 300 pessoas. Eles ficarão em férias de 21 de dezembro a 6 de janeiro, como nos anos anteriores.

No polo calçadista de Nova Serrana, Centro-Oeste de Minas Gerais, parte das empresas decidiu conceder férias coletivas a partir do dia 30, antecipando em cerca de 15 dias o calendário típico de dezembro. “Algo que nunca se viu na cidade. Foi um ano muito difícil, afinal, as empresas estão trabalhando com 60% a no máximo 70% da sua capacidade produtiva”, observou o presidente do Sindicato da Indústria de Calçados da cidade (Sindinova), Pedro Gomes da Silva, que trabalha com previsão de queda das vendas no acumulado do ano entre 20% e 25%, ante 2014.

A maioria das 300 fabricantes de móveis de Ubá e região vai dispensar os empregados por três semanas, quando no ano passado a paralisação foi de 15 dias, informou Michel Pires, presidente do Sindicato Intermunicipal das Indústrias do Mobiliário de Ubá. Algumas das fábricas vão adotar férias coletivas de 30 dias a partir de 17 de dezembro, em razão da total impossibilidade de programar a produção. “Nesta época, era normal programar as entregas de janeiro, mas nem as encomendas de dezembro ocorreram como em anos anteriores. Se algum pedido do Nordeste chegasse hoje, teríamos como entregá-lo na semana que vem”, afirma o industrial.

Desaquecimento
Segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Calçados e Bolsas de Minas Gerais, Rogério Jorge de Aquino e Silva, empresas que não costumavam paralisar a produção deram sinal à entidade de que precisam suspendê-la agora, devido à crise da demanda de clientes duramente afetados pelo desaquecimento da economia. “Algumas empresas já definiram férias coletivas a partir de 17 de dezembro, quando em novembro de anos anteriores nem se falava nas paralisações de fim de ano”, afirma. O sindicato estima entre 600 e 700 demissões efetuadas de janeiro a outubro tendo a queda das vendas do setor como motivação.

Nas indústrias têxteis, mesmo depois de uma série de ajustes feitos pelas empresas para se adaptarem à retração do consumo, que resultaram no corte de 1.380 empregos desde o começo do ano, de acordo com o sindicato dos tecelões da Grande Belo Horizonte, pelo menos duas empresas, a Tear Têxtil e a São Geraldo, vão adotar férias coletivas. O presidente do sindicato dos trabalhadores, Carlos Roberto Malaquias, diz que as paralisações devem se estender de 10 de dezembro a 3 de janeiro, envolvendo 1.280 empregados.

Cenário hoje é de pessimismo

Enxergar os rumos que a produção industrial vai tomar na virada para 2016 é tarefa impossível para a indústria. “Tudo o que a gente imagina envolve um grau de pessimismo muito grande. Nós temos uma crise política violenta e tanto o consumidor quanto o lojista ficam com medo de fazer negócios”, afirma o presidente do Sindicato da Indústria de Calçados de Nova Serrana (Sindinova), Pedro Gomes da Silva. O polo calçadista da região de Nova Serrana reúne cerca de 1,2 mil empresas e ao redor de 20 mil empregados.

Michel Pires, presidente do sindicato dos fabricantes de móveis de Ubá, diz que as perspectivas com as quais as empresas trabalham são de retração de vendas superior a 25% neste ano, comparadas às de 2014. Trata-se do pior resultado que o industrial já viu nos 25 anos de atuação no ramo. “Vivemos o dia a dia. Não há como programar, principalmente, as compras de matérias-primas”, afirma.

Para Michel Aburachid, presidente do Sindicato das Indústrias do Vestuário de Minas (Sindvest), o alento nas vendas observado em outubro pela indústria do vestuário só provocou alterações das projeções de fechamento de 2015, sem indicar saída dos balanços de vendas no vermelho. As previsões subiram de perdas de 40% dos negócios até junho para queda de 20% até outubro.

Retomada A reação das vendas da indústria do vestuário surpreendeu em outubro e poderá ser suficiente para manter em atividade linhas de produção de empresas do setor que adotavam férias coletivas nesta época do ano. Aburachid conta que o sinal de recuperação das vendas reflete uma aparente acomodação da indústria ao espaço aberto no mercado interno por empresas que se voltaram às exportações, com o benefício recente da valorização do dólar, e aquelas que acabaram deixando o mercado devido à intensidade da crise no começo do ano. Além disso, chama atenção o fato de que alguns clientes voltaram a comprar das fábricas de uniformes.

“Não se trata de algo a comemorar neste momento. É um chuvisco neste período de seca”, afirma o presidente do Sindivest. Aburachid destaca a expectativa de que a reação das vendas seja contínua e de que o câmbio favorável aos exportadores estimule novas encomendas. As empresas dos segmentos de moda fashion e de roupa íntima estão concentrando os bons resultados nas exportações. O sindicato reúne 5 mil fabricantes e 150 mil trabalhadores em Minas Gerais.


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