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Estado de Minas

Crise barra reajustes do setor de serviços

Segmento que surfou na demanda aquecida e aumentou preços além da inflação, este ano, com alta acumulada de 5,04%, perde para o IPCA, que subiu 7,64% até setembro


postado em 11/10/2015 06:00 / atualizado em 11/10/2015 07:53

Marcelo Batista, que oferece serviços diversos para residências, diz estar assustado com a demanda fraca(foto: Sidney Lopes/EM/D.A Press)
Marcelo Batista, que oferece serviços diversos para residências, diz estar assustado com a demanda fraca (foto: Sidney Lopes/EM/D.A Press)
O orçamento apertado dos brasileiros pôs fim ao longo ciclo de fartos reajustes de preços que favoreceram os prestadores de pequenos serviços de manutenção e reforma de 2012 até o ano passado. Espremidos pelo aumento dos gastos com locomoção e material de trabalho, além de uma demanda que desabou nos últimos meses, os chamados “maridos de aluguel” suaram a camisa para corrigir suas tabelas em 5,04% de janeiro a setembro, enquanto subiu 7,64% o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador da inflação oficial medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísitica (IBGE).


Foi a primeira vez em quase quatro anos que o IPCA perdeu a corrida para as remarcações dos serviços de eletricista, bombeiro hidráulico, encanador, marceneiro e aqueles profissionais hábeis na infinidade de reparos necessários para manter a casa em ordem. Eles haviam se acostumado a repassar custos sem dó do cliente, tendo precificado sua mão de obra em até 5,7 pontos percentuais acima da inflação, como se observou em 2012. No ano passado, ainda de acordo com o IBGE, esses serviços encareceram 10,02%, ao passo que a inflação atingiu 6,41%.

Na Grande Belo Horizonte, os reajustes nos primeiros nove meses do ano somaram 4,78%, em média, ante um IPCA de 7,03%. A bonança para esses profissionais, geralmente autônomos, parece ter acabado e nem mesmo os especialistas em lidar com os índices econômicos arriscam palpite diferente de novos tempos difíceis para a categoria. Despesas não essenciais estão sendo cortadas e vão continuar nessa toada, para o economista Fábio Bentes, da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).


“Os prestadores de serviços serão obrigados a acompanhar a capacidade de consumo da população. Este ano ficará marcado por uma das inflações mais altas desde a estabilização da moeda (em 1994, com a adoção do Plano Real)”, diz Bentes. O alerta já soou para Marcelo Batista de Sales, que se intitula clínico do lar no negócio de reforma e serviços de eletricista e bombeiro em Belo Horizonte. “Sou um otimista, mas desta vez estou assustado com a crise”, afirma.


Desde o fim de 2014, as contratações estão minguando para o prestador de serviços, com larga experiência e que atende o cliente com o auxílio de um Doblò adaptado com ferramental suficiente para diagnosticar os problemas na residência. Os atendimentos caíram da frequência de três demandas por dia a dois ou três pedidos por semana. “Se reajustamos o orçamento além do mínimo possível, o cliente desiste do serviço”, conta. Essa nova postura passou a exigir que o prestador de serviços absorva parte dos aumentos de custos com deslocamento, que envolvem não só a alta da gasolina, mas também a hora de estacionamento.

O levantamento de dados do IBGE indica que a dificuldade de remarcação é generalizada pelo país, observa Luciene Longo, analista do instituto em Minas. “Numa situação de crise, de fato, as pessoas repensam os gastos”, diz. Outro fator importante é que, até mesmo por já terem reajustado seus preços acima da inflação, agora os prestadores de serviços vão ter de segurar os repasses.

Novos tempos

A demanda ativa nos últimos cinco anos até meados de 2014 foi decisiva para facilitar os reajustes de preços que são livres, lembra Eduardo Antunes, gerente de Pesquisas da Fundação Ipead, vinculada à UFMG. “A diferença, para o cenário atual, é que eles continuam reajustando porque os custos subiram”, afirma. A pesquisa da instituição, que calcula o IPCA de BH, verificou reajuste médio de 11,09% dos preços dos serviços de pedreiro, marcieneiro e eletricista de janeiro a setembro. A inflação alcançou 8,65% no período.

Trata-se de uma disparidade de percentuais modesta, quando comparada às correções de 25,58% dos serviços em 2013, mais de quatro vezes à frente da evolução do IPCA naquele ano, de 6,14%. Falar em tendência, no entanto, significa, ainda, tatear no escuro. “O fundo do poço está perto, mas a expectativa é de que haja uma melhora da demanda no ano que vem. Ainda assim, dificilmente os preços vão retornar, com a perspectiva de continuidade da alta dos insumos e elevação da carga tributária”, afirma Eduardo Antunes.


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