Viajar é o grande sonho dos brasileiros. Pesquisa divulgada no início deste ano pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e do portal de Educação Financeira Meu Bolso Feliz mostra que 26,8% da população querem torná-lo realidade. Desses, 15,3% desejam conhecer outro país. De acordo com dados do Ministério do Turismo, a cada ano cresce o número de turistas que viajam dentro e fora do Brasil.
Porém, o maior empecilho enfrentado pelos turistas, que viajam menos do que gostariam, é o preço das passagens aéreas. Claro, há destinos mais acessíveis, como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, onde é possível ir por pouco mais de R$ 100 o trecho, saindo de Brasília, na maior parte do ano, desde que se compre o bilhete com antecedência.
O analista de mídias sociais Rodrigo Grassi, 37 anos, não perde tempo e costuma viajar uma vez por mês pagando pouco. “Meus amigos gostam muito de viagens, então, pelos grupos que temos no WhatsApp, já fico sabendo de quase todas as promoções de passagens”, conta. No ano passado, ele conseguiu ir para o Rio de Janeiro durante a Copa do Mundo por apenas R$ 108 ida e volta. Rodrigo ainda levou o filho de 6 anos, que paga como criança, e fez o mesmo trecho por R$ 64,80. As taxas de embarque dos dois, que ficaram na capital carioca, de 3 a 7 de julho, foi de R$ 88,24. No total, com tudo incluso, eles gastaram R$ 261,04.
Em abril deste ano, Rodrigo aproveitou outra promoção e foi a Porto Alegre por R$ 59. “Normalmente, esse trecho custa em torno de R$ 200.” A maior dificuldade que muitos turistas enfrentam é não conseguir conciliar a viagem com o trabalho, pois muitas promoções são para passear no meio da semana. Por ter horários flexíveis, Rodrigo não enfrenta esse problema. Mas nem sempre consegue promoções para ir aonde quer e quando quer. Nesses casos, planejar com antecedência continua sendo o melhor caminho. “O ano-novo, eu começo a planejar seis meses antes e fico de olho diariamente nos preços das passagens. No carnaval, às vezes, viajo no meio do feriado, que é bem mais em conta que na véspera.”
Melhores dias
Não existe nenhuma solução mágica para saber qual vai ser o dia em que a passagem para o destino onde você quer ir estará mais barata. No entanto, é possível prever as datas mais prováveis para se pagar menos. É o que defende o diretor do Kayak, buscador de viagens on-line, na América Latina, Nicolas Scafuro.
Em um levantamento do site, foi constatado que, viagens nacionais com mais de sete dias de duração, o ideal é ir no domingo e voltar na quinta-feira. A economia pode chegar a 11%, comparada ao preço médio da passagem, calculado pela média de todos os dias da semana, para aquele destino. Se a viagem for de curta duração, o melhor é partir na sexta ou no sábado e voltar no domingo ou na segunda-feira. O desconto é maior e chega a 15%.
Para as internacionais com mais de sete dias, viaje na segunda ou na terça, dias em que os voos costumam estar menos cheios, e volte na quarta ou na quinta, economizando 6%. Mas a maior porcentagem vai para as viagens ao exterior com menos de uma semana de duração. Indo na sexta e voltando na segunda, o cliente pode pagar até 30% a menos. “Esse último caso é bastante comum por causa das viagens de negócios, que normalmente são no meio da semana e os passageiros têm pouca flexibilidade. Quem não está nesse grupo pode aproveitar bons preços.”
O Kayak possui uma ferramenta muito interessante, especialmente para quem não tem a menor paciência para ficar atrás de promoções aéreas, é a Tendências de Preços. “São vários algoritmos que usamos para produzir um modelo estatístico e, a partir desses dados, que considera, entre outros, o histórico de sazonalidade e a variação de preços recente, fazer recomendações aos usuários.” A função cria um alerta que monitora os preços da rota e identifica promoções, além de avisar se o preço tende a cair na semana seguinte, por exemplo.
Com relação ao tempo de antecedência para a compra da passagem, o ideal, segundo Nicolas, é começar a pesquisa três meses antes de viajar e adquirir um bilhete nacional cerca de 50 dias antes da partida. Para trechos internacionais, por volta de dois meses antes.
Para quem tem a possibilidade de viajar em qualquer época do ano, 2015 está oferecendo mais promoções com pouca antecedência do que de costume. Em meados de abril, a Aeroméxico chegou a oferecer passagens para a Cidade do México por R$ 78, para viajar na semana seguinte. Nicolas explica que esse tipo de promoção acontece quando as vendas do voo não estão como o esperado para o período. “Com a variação do dólar e a instabilidade econômica, o comportamento do consumidor mudou e acontece de as empresas mudarem o preço mais de uma vez ao dia.”
Há um aeroporto no meio do caminho
Um método para pagar menos na passagem aérea tem causado muita polêmica nos Estados Unidos — tanto que já foi parar na Justiça. Conhecido como “throwaway ticketing”, esse truque consiste em, em vez de comprar a passagem para a cidade onde você quer ir, adquirir um bilhete para um destino mais barato que faça escala ou conexão no local. Por exemplo, se você quer ir para Florianópolis, veja o preço do voo até Porto Alegre, que faça uma parada na capital de Santa Catarina. Se este estiver mais barato, basta comprá-lo, mas descer do avião em Florianópolis.
Claro que fazer essa busca por conta própria daria um trabalho enorme e pouco gente teria disposição. A novidade é que um rapaz de 22 anos chamado Aktarer Zaman desenvolveu um site que faz a busca pelo usuário: o Skiplagged. Zaman já foi processado pela United Airlines e pelo site de vendas de passagens Orbitz. Ganhou na Justiça, mas as empresas ainda podem recorrer. A prática em si não é ilegal, mas há empresas por lá que a restringem em seus contratos com os clientes (e todo comprador concorda com as restrições ao comprar a passagem). Portanto, se as companhias perceberem o que o passageiro está fazendo, podem restringir suas viagens futuras.
Mas seria ilegal usar essa artimanha no Brasil? Segundo a advogada e especialista em processo civil Juliana Arnêz, não é. “O que esse site fez foi expor uma brecha que sempre existiu nas companhias. Mas se os contratos não especificam que o consumidor deve voar o trecho inteiro, ele não é legalmente obrigado”, explica. Mesmo que as empresas insiram uma cláusula que obrigue os passageiros a voar até o fim, de acordo com Juliana, ela pode ser discutida no Judiciário, já que limita o direito do consumidor.
“Fato é que esse método gera um prejuízo para as companhias, pois o bilhete fica bloqueado para a venda da próxima conexão. O mais provável é que as empresas contornem a situação e alterem os preços, para que não seja mais barato descer no meio do caminho”, opina. Para quem quer aproveitar o Skiplagged enquanto o macete for vantajoso, vale lembrar que, para viajar dessa maneira, você não pode comprar a ida e a volta em conjunto, e sim separadamente. Além disso, deve viajar apenas com bagagem de mão, já que tudo o que for despachado irá para o destino final. E caso o voo seja cancelado e o passageiro colocado em outra aeronave, talvez o novo trajeto não inclua a cidade onde você deseja realmente ir.
Em boa companhia
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