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Estado de Minas

Minas estuda mecanismos para enfrentar concorrência de outros estados

Governo admite estudar a entrada mais agressiva de Minas na guerra fiscal, inclusive com a proposta de parceria público-privada. Ideia é reduzir tributos para voltar a atrair investimentos e gerar empregos


postado em 11/05/2015 06:00 / atualizado em 11/05/2015 07:26

Na Aperam, apesar da recessão no setor siderúrgico, plano é de elevar tecnologia da linha de aços elétricos HGO, com procura em alta no mundo(foto: Daniel Mansur/Divulgação 2013 6/7/12)
Na Aperam, apesar da recessão no setor siderúrgico, plano é de elevar tecnologia da linha de aços elétricos HGO, com procura em alta no mundo (foto: Daniel Mansur/Divulgação 2013 6/7/12)

Disposto a remar na contramão das projeções de queda dos investimentos da iniciativa privada neste ano, o secretário de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais, o empresário Altamir de Araújo Rôso Filho, estuda mecanismos que admitem a entrada do estado na guerra fiscal e propõe o modelo da parceira público-privada para solucionar gargalos na logística de distribuição da produção. As medidas são cogitadas para compor a política desenvolvimentista do novo governo estadual, com a pretensão de descentralizar o crescimento da economia, estimulando o interior.

A infraestrutura deficiente no Brasil é um dos problemas a serem vencidos, assim como uma política tributária desigual em relação a outros estados, na avaliação de Altamir Rôso. Ele estuda propor a equalização da carga do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) de Minas para setores afetados pela concorrência dos vizinhos. Um bom de exemplo de correção dessas assimetrias, para o secretário, foi a redução da alíquota do imposto estadual de 19% a 14% para o etanol, negociada no governo passado. “O setor retomou sua competitividade (agora tem a segunda menor alíquota do tributo no país, perdendo só para São Paulo) e hoje se apresenta como um dos ramos da indústria que poderá fazer novos investimentos”, afirma.

Se o cenário da economia não é o melhor que se poderia esperar para a tarefa da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, até que o conjunto das políticas públicas esteja definido, para gerar efeitos a partir de 2016, a meta em 2015 é trabalhar pela atração de aportes financeiros do setor privado em cifra superior aos R$ 12 bilhões anunciados no ano passado, com a geração de 81,7 mil empregos diretos. A meta já implica esforço redobrado, tendo em vista que o balanço de 2014 representou corte de 36% dos recursos que as empresas haviam anunciado para o estado em 2013 (cerca de R$ 19 bilhões).

Fachada da Ferreiro em Poços de Caldas: aumento da produção na fábrica do Sul de Minas e abertura de novas vagas (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
Fachada da Ferreiro em Poços de Caldas: aumento da produção na fábrica do Sul de Minas e abertura de novas vagas (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
Onda contrária

Neste ano, o Brasil surfa na onda de baixa expectativa, ante uma taxa de investimento de 16,81% do Produto Interno Bruto de 2014 (o PIB é o conjunto da produção de bens e serviços no país), o menor percentual dos últimos cinco anos. A boa notícia é que como a engrenagem da economia não pode parar, em Minas Gerais empresas de diversos setores anunciam que vão manter ou até ampliar investimentos para 2015. De um lado, aproveitam oportunidades de ganhar mercado, inovar em produtos e processos, e melhorar a produtividade, a exemplo da Itambé, Embaré, Pif Paf Alimentos e Aperam. Em outros casos, visam ao aumento da capacidade de produção, como as expansões da fábrica da Ferrero do Brasil em Poços de Caldas, no Sul de Minas, e da produção cimenteira da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) em Arcos, no Centro-Oeste mineiro e Romaria, no Alto Paranaíba.

“A economia desaquecida prejudica de uma forma geral, mas o setor privado tem visão de longo prazo. Sabemos que um grande investimento não se faz de um dia para o outro”, afirma o secretário Altamir Rôso. É também o que orienta o orçamento de investimentos da Itambé, terceira maior empresa do setor lácteo no Brasil. A companhia vai investir R$ 75 milhões neste ano, com foco em inovação, redução de custos e otimização da produção, informa o diretor de relações institucionais, Ricardo Cotta.

Concorrência

Os recursos reservados pela Itambé para 2015 serão distribuídos entre as unidades de Pará de Minas, na Região Central do estado; Uberlândia, no Triângulo Mineiro; Guanhães, no Vale do Rio Doce, e Goiânia (GO), para modernização industrial, automação de equipamentos e lançamentos considerados inovadores pela empresa, principalmente na área de produtos refrigerados, com destaque para os iogurtes. Serão lançados 50 produtos neste ano e, de acordo com Ricardo Cotta, a mais completa linha de lácteos sem lactose. “Nossa vida, sem dúvida, está mais difícil do que num cenário em que a economia estivesse indo bem. Mas a empresa está totalmente preparada para cumprir seus planos e fazer frente aos concorrentes”, afirma.

Em 2014, a Itambé investiu R$ 70 milhões, concentrados na ampliação da sua capacidade produtiva de itens com maior valor, particularmente os iogurtes e requeijão. A meta já começou a ser cumprida de disputar o concorrido consumo de São Paulo e ampliar a sua participação no Nordeste, sem descuidar de consolidar a liderança em Belo Horizonte e restante de Minas Gerais.

Enobrecer seus produtos e melhorar a produtividade são também os principais objetivos em 2015 da fabricante de aços inoxidáveis Aperam South America (antiga Acesita). A empresa conduz um programa de inversões de US$ 17 milhões na fábrica de Timóteo, no Vale do Aço, para elevar o conteúdo tecnológico da linha de aços elétricos HGO, com demanda em crescimento no mundo, devido à alta permeabilidade e à maior eficiência energética. Segundo o presidente da companhia, Frederico Ayres Lima, a estratégia consiste em ganhar competitividade frente aos custos mais altos no Brasil e adotar uma política mais agressiva de atendimento dos clientes, com inovação em produtos e processos. O projeto dá mostras de que mesmo no setor siderúrgico, um dos mais sacrificados pela crise dentro e fora do Brasil, há empresas que mantêm investimentos, além daqueles destinados à manutenção de suas operações.

Centro de distribuição da Itambé: aportes serão mantidos com o objetivo de inovar e conquistar novas fatias de mercado(foto: Ricardo Fonseca/Divulgação)
Centro de distribuição da Itambé: aportes serão mantidos com o objetivo de inovar e conquistar novas fatias de mercado (foto: Ricardo Fonseca/Divulgação)
Demanda retraída é desafio

O potencial de expansão do consumo ou a perspectiva de retomada de vendas, a despeito da retração da economia brasileira e das apostas num PIB menor neste ano, serão decisivos para os planos de investimentos do setor privado, desde que as empresas mantenham fluxo de caixa suficiente para bancar as suas operações num ambiente de demanda retraída e contingenciamento de crédito barato, como as linhas de empréstimo oferecidas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), observa Guilherme Veloso Leão, gerente do Departamento de Economia da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg). “A expectativa é de queda dos investimentos neste ano, mas sempre haverá uma visão mais estratégica e de longa duração, desde que o mercado sinalize para uma decisão acertada de investir”, afirma.

Não é por outro motivo que a fabricante italiana de chocolates Ferrero Rocher concluirá ainda neste ano aporte de R$ 200 milhões para dobrar a capacidade produtiva de sua fábrica de Poços de Caldas, no Sul de Minas, que atende ao Brasil e a mercados no exterior. Os recursos serão aplicados em novas linhas de itens como Kinder e Tic Tac, na ampliação da produção das marcas Nutella e Ferrero Rocher e em um centro de distribuição. “O Brasil é considerado estratégico para a Ferrero. E esse investimento nos permitirá acompanhar o crescimento na demanda por produtos de qualidade superior”, tem afirmado o diretor-geral da Ferrero do Brasil e do Cone Sul, Carlos Magan.

A Ferrero informou que o projeto deverá gerar mais de 100 empregos diretos. Ainda no segmento de alimentação, a Pif Paf, sétima maior empresa brasileira no setor de processamento de aves, suínos, massas e vegetais, anunciou em abril um plano para aplicar R$ 54 milhões neste ano para ampliar a infraestrutura de seu parque industrial e os investimentos em pesquisa e desenvolvimento, melhorar a capacidade produtiva de itens industrializados e construção de aviários.

No varejo das grandes marcas, o Walmart.com vai destinar ao estado recursos de R$ 150 milhões nos próximos 14 meses para construção de um terceiro centro de distribuição. A empresa opera, hoje, com CDs em Betim e Vespasiano, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Principal executivo da companhia no Brasil, Paulo Sérgio Silva informou que o reforço da logística é fundamental para melhorar a qualidade dos serviços e reduzir o tempo de entrega dos produtos. A ampliação em Minas permitirá a criação de 2 mil postos de trabalho diretos e indiretos durante os três primeiros anos do empreendimento. O site da marca é visitado por cerca de 11 milhões de pessoas por mês.

Territórios mapeados

O modelo das parcerias público-privadas e programas de concessões tendem a ser usados em diferentes setores pelo atual governo de Minas como parte da tentativa de solucionar problemas eventualmente identificados como entraves aos investimentos da iniciativa privada. Segundo o secretário de Desenvolvimento, Altamir Rôso, uma experiência que deve servir de exemplo são as PPPs firmadas no Triângulo Mineiro com empresas do segmento sucroalcooleiro para pavimentação de estradas. Com os acordos, as usinas investiram e compensaram os aportes feitos no recolhimento do ICMS.

“O modelo é importantíssimo porque os recursos do estado estão limitados e a própria atuação do setor privado demonstrou maior eficiência em alguns setores, mas precisamos ter contratos benfeitos e regras claras”, afirma. A ideia agrada aos industriais do estado, com a ressalva, segundo Guilherme Leão, da Fiemg, de que as PPPs necessitam de regulação forte e estável para dar segurança ao empresário e proteção à sociedade contra o abuso de poder ou de monopólios.

O próprio estudo dessas possibilidades está associado à construção da política pública do governo mineiro para induzir o desenvolvimento em diferentes regiões do estado, na qual os técnicos da pasta dirigida por Altamir Rôso estão trabalhando. “Existia um privilégio da Região Metropolitana de Belo Horizonte em iniciativas indutoras de crescimento, mas o estado é cheio de diversidades. Queremos trabalhar em políticas regionais de desenvolvimento, sem nos esquecer da Grande BH”, afirma.
O primeiro passo foi dividir Minas em 17 regiões batizadas de territórios de desenvolvimento. Para cada área estão sendo colhidas informações de várias fontes da administração pública, para compor um mapeamento de características próprias, vantagens competitivas e desvantagens. O programa contará com apoio de instituições de empresários, como a própria Fiemg e o Sebrae, e deverá ter resultados em 2016.


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