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Estado de Minas PARA ONDE VAI O EMPREGO

Profissões que resistem ao tempo

Apesar da evolução que passou a fazer parte dos dias atuais, alguns profissionais não perdem a necessidade. Ainda assim, o formato do serviço ficou diferente e eles tiveram que se adequar


postado em 03/05/2015 07:00 / atualizado em 03/05/2015 07:37

O sapateiro Marciel da Silva não produz mais calçados, mas se especializou no conserto e
O sapateiro Marciel da Silva não produz mais calçados, mas se especializou no conserto e "não falta trabalho" (foto: Gustavo Moreno/CB/D.A Press )

Brasília
– Com o comércio mundial cada vez mais globalizado, é inevitável e esperado que surjam novas técnicas de trabalho. “É uma demanda da sociedade, que vai se renovando com o tempo. As profissões têm que se encaixar no contexto do momento”, explica a professora de administração da Universidade de Brasília (UnB), Débora Barem, especialista em mercado de trabalho. “A partir do momento que uma máquina consegue fazer o que um trabalhador faz, esse trabalho se torna desnecessário”, explica.

 

Na corrida contra o tempo, muitas profissões se perderam. Os cocheiros, que transportavam as pessoas nas carroças e carruagens, não demoraram a ser substituídos por motoristas, quando os carros se popularizaram. Perderam a corrida, e, sem ninguém para transportar, tiveram que procurar outros caminhos. Na mesma estrada, com a chegada do computador, os datilógrafos foram para o acostamento. Estacionaram e, em vez de datilografar, precisaram passar a digitar.

Mas, na contramão dos ofícios esquecidos, existem aqueles que resistiram aos encantos das tão aclamadas profissões do futuro, mas também se recusam a entrar no grupo dos trabalhos do passado. Eles optaram por permanecer no presente. Sapateiros, alfaiates, chaveiros, ferreiros. Para Débora Barem, as profissões que conseguem sobreviver à modernidade são aquelas cujo trabalho as máquinas são incapazes de imitar: “Os profissionais dos quais a gente sempre vai precisar não vão desaparecer”, acredita. O que acontece é uma mudança estrutural dessas profissões. “Para não serem substituídos, eles precisam se reinventar.”

DIFERENCIAÇÃO Segundo o consultor de empresas Jasson Firme, hoje o mercado tem dois tipos de clientes. Enquanto o primeiro fica satisfeito em pagar barato por um serviço não muito bom, o segundo, mais exigente, prefere investir mais, desde que o serviço saia exatamente como ele gostaria. “É uma questão de sobrepor o valor ao preço”, resume. O objetivo é que, de uma dessas duas formas, o cliente fique satisfeito. Para o pequeno empresário mais tradicional, como os sapateiros e os alfaiates, o público-alvo passou a ser o segundo. “Agora eles, que são os diferentes, são gourmet. Então, precisam adicionar valor ao trabalho e oferecer um serviço personalizado”, explica.

O alfaiate Nélio Cunha acredita nessa premissa. “Tem que ter um diferencial para se manter nesse mercado hoje em dia”, conta ele, que, aos 59 anos e 40 de profissão, nunca reclamou por falta de clientes. “Se eu fosse três, ainda sobraria trabalho”, conta.

No ateliê, a especialidade é camisa social, feita sob medida. “É o carro-chefe aqui, vende bastante. As pessoas costumam relutar em comprar, porque acham camisas bem mais baratas nas lojas e até na internet, mas, quando vêm, sempre voltam”, garante.

Além do tecido, que ele garante ser de qualidade muito superior aos usados nas grandes lojas, ele acredita que a indústria nunca vai conseguir copiar o cuidado do produto feito à mão. “Nem todo mundo cabe nos padrões das lojas e muitas pessoas buscam algo personalizado”, conta. Se antes até os mais jovens usavam roupas feitas sob medida, hoje o público é mais restrito, e as demandas também. Ternos, por exemplo, ele deixou de fabricar. “Acaba saindo muito caro e as pessoas não compram.”

Da mesma forma, para o sapateiro Marciel da Silva, de 33, não vale mais a pena confeccionar calçados. O custo de produção faz com que eles fiquem bem mais caros que os encontrados nas lojas. O sapateiro, que antes era procurado para produzir calçados, hoje se especializou em consertá-los.

As ferramentas sempre foram as mesmas e, ele acredita, não vão mudar. Alicate, faca, tesoura e pé de ferro são instrumentos encontrados ao longo da árvore genealógica de Marciel, desde o avô, que ensinou o ofício ao pai, até ele, que aprendeu a profissão quase 15 anos atrás. Desde então, nunca faltou trabalho.

Os preços baixos nas lojas atraem os consumidores, que logo precisam de um sapateiro para consertar os produtos de baixa qualidade. “O problema é que hoje em dia as coisas ficaram descartáveis. Muitas pessoas preferem comprar um sapato novo ao consertar um mais velho”, lamenta. Mas garante: quem investe em produtos melhores sempre vai precisar de um sapateiro para fazer reparos.

Seguindo mudanças

O consultor Jasson Firme observa que roupas e sapatos feitos antigamente tinham uma qualidade muito superior aos de hoje. “Atualmente, eles são feitos para durar pouco, para que o consumidor precise comprar um novo em breve”, explica. Quem instaurou esse ciclo foi o próprio cliente, ao perceber que era mais barato comprar outro produto do que consertar. Em resposta, a indústria passou a investir em mercadorias com expectativa de vida menor, para que sejam rapidamente trocadas.

Ao longo dos 56 anos de carreira, o chaveiro Almir Anacleto de Almeida, mais conhecido como Fumanchu, também não trocaria de profissão. Hoje, com 70 anos, ele se dedica à mesma técnica de décadas atrás. Ele deixou o trabalho de modernizar os negócios para o filho, que adicionou à loja fechaduras biométricas, que agora convivem, parede com parede, com as chaves de Fumanchu. “Eu prefiro ficar no manual, mesmo. Sou fascinado pelo trabalho mecânico.”


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