(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas HORA DE ACERTAR DÍVIDAS

Brasileiros renegociam cerca de R$ 2,6 bilhões em dívidas mensalmente

Medo do desemprego e crise econômica alavancam preocupação com as contas


postado em 03/04/2015 06:00 / atualizado em 03/04/2015 07:27

"Prestações a longo prazo, de jeito nenhum. Só quero comprar o que for preciso", Bruno Felipe Santos, auxiliar administrativo (foto: Rodrigo Clemente/EM/D.A Press)
O medo do desemprego e a falta de confiança na economia tem levado milhares de brasileiros a renegociar dívidas em atraso ou caras demais. Por mês, a população renegocia, em média, R$ 2,6 bilhões. Segundo dados do Banco Central, somente nos dois primeiros meses do ano, as renegociações com instituições financeiras somaram R$ 5,3 bilhões, valor 14,7% superior em relação ao mesmo período de 2014.Quase 60% das famílias têm dívidas com cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, empréstimo pessoal, prestação de carro e seguro.


Nos últimos meses, o auxiliar administrativo Bruno Felipe Santos, de 27 anos, sentiu a desaceleração da economia e o encarecimento do custo de vida. Este ano, ele já tomou uma decisão: vai colocar a vida financeira em ordem e não pretende fazer nenhum tipo de dívida. Bruno resolveu evitar o cartão de crédito e crediários. “Prestações a longo prazo, de jeito nenhum”, garantiu. “Este ano só vou comprar o necessário. No máximo, vou gastar com vestuário”, afirmou. Ele pretende renegociar com o banco para quitar o cheque especial e terminar o ano com a vida finaceira bem organizada.

Renegociar a dívida pode ser uma boa alternativa para quem deseja sair do vermelho, desde que o consumidor tenha condições de honrar com o novo débito. “Não adianta negociar com o gerente do banco sem saber a quantia devida e o quanto do orçamento tem para pagar”, ponderou a economista-chefe do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), Marcela Kawauti. Dependendo do tempo de atraso da dívida, é possível conseguir descontos de até 70%.

Saber negociar com o gerente do banco pode definir o valor a ser pago no reajuste. “Se a instituição financeira cobrar acima do que a pessoa pode pagar, é interessante apresentar uma contraproposta”, afirmou Marcela. “Todo credor tem muito interesse em receber, mesmo que a quantia seja inferior às prestações do antigo crédito concedido”, acrescentou.

Entretanto, para o consultor financeiro Reinaldo Domingos, presidente da DSOP Educação Financeira, mais importante do que substituir a dívida é ter reservas financeiras para manter o orçamento familiar em uma eventual situação de desemprego. “Se o trabalhador é demitido, durante quanto tempo ele conseguiria manter o padrão de vida que tinha? É preciso ter reservas financeiras para sustentar as prestações assumidas e o custo de vida mensal. Caso contrário, antecipar ou renegociar débitos não resolverá nada”, avaliou.

"Estou focando os gastos só nas despesas necessárias, pisando no freio mesmo", Juliana Rabelo, assistente administrativa (foto: Rodrigo Clemente/EM/D.A Press)
Apesar da inflação corroer os orçamentos familiares, Domingos acredita que é possível economizar com serviços no dia a dia. Segundo ele, há um excesso de 20% a 30% em tudo que a família consome, dos gastos mais básicos, como água e luz, às despesas com supermercado e lazer. “É preciso apurar onde o aperto é maior e reduzir esse consumo. Para isso, é importante reunir a família para discutir quais serão os projetos de vida, sempre pensando a longo prazo”, afirmou.

Alerta Quem não renegociar a dívida ou se munir de mecanismos preventivos para proteger o orçamento familiar pode estar fadado a ficar inadimplente. Frente a atual conjuntura, a perspectiva é de que os consumidores encontrem mais dificuldades para limpar o nome. “Mesmo os consumidores que tenham o desejo de liquidar a dívida deverão enfrentar dificuldades devido ao avanço da inflação, que reduz o poder de consumo. Os juros vão continuar subindo e os débitos ficarão mais caros”, analisou.

Juliana Rabelo, de 30, trabalha como assistente administrativa. Ela está com a vida financeira em dia. Apesar de não ter nenhuma despesa com pagamento de juros ou dívidas, ela diz que está preocupada porque sentiu a redução de ritmo da economia o que pode fazer o desemprego crescer. Sendo assim, Juliana prefere ser cautelosa. “Esse ano não vou fazer compras. Estou focando os gastos só nas despesas necessárias, pisando no freio mesmo”, apontou.

Somado à alta dos preços e o crédito encarecido, o desemprego será o principal desafio na decisão do brasileiro em renegociar a dívida. O brigadista Ricardo Pereira dos Santos, de 37, foi dispensado em dezembro e, até o momento, não conseguiu retornar ao mercado de trabalho. Com dívidas da mensalidade da faculdade, da moto e do cartão de crédito em atraso desde fevereiro, ele estima que, juntas, elas já somam mais de R$ 1,3 mil. “Quero arrumar logo um serviço para não deixar os débitos acumularem. Se não, vai virar uma bola de neve e aí a situação vai ficar mais complicada”, disse.

 

Crise no país eleva traição financeira

 

Vera Batista

Brasília – As incertezas econômicas e a instabilidade no mercado de trabalho podem causar sérios problemas na vida dos casais. Diante da crise financeira, a tendência, segundo analistas, é as discussões aumentarem, na medida em que diminui a quantidade de dinheiro no bolso. Estudo do SPC Brasil aponta que 23% dos casais endividados brigam por causa de dinheiro e que 35% dos brasileiros não informam ao parceiro todos os gastos pessoais. Omitir quanto ganha, patrimônio ou montante das dívidas é “traição financeira”, na análise de Dora Ramos, diretora da Fharos Contabilidade & Gestão.

“Contar com a ajuda e a confiança do parceiro, abrir mão de gastos desnecessários, dividir as despesas de forma justa e, acima de tudo, conversar são fatores que garantem um orçamento planejado e, ao menos no ponto de vista financeiro, uma vida saudável ao casal”, afirmou Dora Ramos. Mas dividir as contas nem sempre é fácil, principalmente quando se está desempregado.

“Às vezes, gera discussão porque um de nós quer comprar um produto de um valor que poderá fazer falta meses depois. Mas, apesar do desentendimento, prevalece o bom senso”, garantiu o ajudante de obra Tadenes Ferreira Campos. É do salário de R$ 900 da esposa, Edilene Monteiro, que trabalha como operadora de caixa, que eles tiram o sustento. “É o bastante para sobreviver. Então, todo fim de mês, sentamos juntos para levantar os valores das despesas e analisarmos se há sobras para o consumo”, explicou a mulher.

Todo cuidado é pouco para não cair em armadilhas, alertou Wilson Justo, diretor de Marketing e Relacionamento da Sorocred. Segundo ele, mentiras podem destruir o casamento ou o convívio familiar. “Compartilhar informações é fundamental. Só fazendo os cálculos, é possível apurar o tamanho do rombo e encontar em conjunto uma saída”, disse. Se for preciso, o casal pode até buscar uma linha de financiamento. E, nesse caso, não basta apenas ver o percentual dos juros.

“O mais importante é o Custo Efetivo Total (CET), que inclui todas as taxas. Pesquise bastante, não aceite a primeira oferta”, reforçou Justo. Outro elemento que inquieta a maioria é o mimetismo social – na busca por ascenção e aceitação, a pessoa é capaz de qualquer coisa para ter um objeto igual ao do vizinho. “Não adianta comprar o que não pode pagar. É fundamental se adequar às suas condições”, destacou Justo.

O momento é de redução radical dos gastos, complementou Paulo Ferreira Barbosa, professor de economia e empreendedorismo do IBE/FGV. “É claro que ninguém vai abrir mão totalmente do prazer. Mas não adianta ambicionar o carro do vizinho, de R$ 60 mil. Quem estiver em dificuldade, ao contrário, terá que trocar o seu automóvel de R$ 30 mil por outro pela metade do preço”, revelou Barbosa. Os maiores riscos de desembolsos por impulso, disse, está nas datas festivas, como Páscoa, Dia das Mães, Dia dos Namorados, entre outras.

Nesses momentos, disse Barbosa, parece que o conceito de amor se altera e o trabalhador se sente obrigado a cumprir o ritual da irracionalidade. “Todo mundo praticamente exige presentes caros. Quando não recebe, acusa o outro de falta de romantismo e atenção, de desleixo ou de pão-durismo. Soa estranho pensar que alguém acha que o parceiro ama mais ou menos quando tem muito ou pouco dinheiro na carteira”, criticou.

Na prática, concordam os analistas, não é sensato os homens esconderem despesas com automóveis e com a cerveja de fim de semana com os amigos, e nem as mulheres omitirem que não resistiram àquelas roupas e sapatos expostos na vitrine. A escassez de recursos, ao contrário, principalmente nesse 2015 de ajuste fiscal e corte de gastos do governo, deverá fazer com que a transparência sobre o dinheiro se torne um procedimento fundamental para manter o orçamento equilibrado.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)