Paulo Henrique Lobato - Enviado especial
São Bernardo do Campo – Ao longo das últimas décadas, as montadoras de automóveis reduziram drasticamente seus quadros de funcionários. “A montadora em que eu trabalhava contava com 42 mil empregados. Hoje, são em torno de 13 mil”, recorda Waldomiro Ferreira dos Santos, de 67. Natural de Brasília de Minas, no Norte do estado, ele chegou a São Bernardo do Campo em 1969, aos 22 anos. “Se fosse hoje, ficaria em minha cidade, pois a região está mais desenvolvida. Naquela época, não havia empregos. Hoje há”, justifica. Ele se refere ao polo industrial no entorno de Montes Claros.
Retorno José Emílio de Souza, de 59, também quer voltar para Minas. Nascido em Braúnas, no Vale do Rio Doce, deseja morar no sítio em que cria um campolina bom de cela, como garante. “Cheguei ao ABC em 1974, quando minha região não oferecia muito emprego. Consegui uma vaga na Arteb, que produz autopeças. Se fosse hoje, ficaria por lá, pois tudo mudou muito.” Hoje, ele ganha a vida na Associação dos Metalúrgicos Aposentados do ABC, onde também trabalha Dimas Aleixo Filho, natural de Timóteo, no Vale do Aço.
Seu Dimas, de 66, chegou a São Bernardo do Campo em 1972. “Tinha 24 anos. Vim em busca de emprego.” Ele conseguiu trabalho na Borg Warner, fabricante de embreagem e, mais tarde, na Rolls Royce. Conheceu a mulher na cidade e tem um filho, que é formado em educação física. “A região está bem diferente de quando eu cheguei. Hoje, se eu tivesse a mesma idade, ficaria no Vale do Aço, porque agora há emprego lá. O ciclo mineiro, de gente que nasce em Minas e vem para cá em busca de emprego nas montadoras, praticamente acabou”, garante.
OUTROS TEMPOS
A força dos operários
Das empresas de metalurgia do Grande ABC, surgiu o sindicato da categoria, uma entidade cuja organização e força política criaram duas situações. De um lado, projetaram diretores a cargos importantes na política nacional. De outro, afastaram investimentos. O ex-presidente Lula, por exemplo, é ex-sindicalista mais famoso do ABC. Luiz Marinho, ex-funcionário da Volkswagen e atual prefeito de São Bernardo do Campo, foi presidente do sindicato e da CUT, além de ministro do Trabalho no governo Lula. O deputado federal Vicentinho também ocupou a presidência de ambas entidades. Por outro lado, algumas empresas deixaram de aportar por aquelas bandas para evitar a força do sindicato. (PHL)