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Estado de Minas MAIS ESCOLA E SALÁRIO MENOR

Mulheres têm mais tempo de estudos, mas recebem 34% menos do que os homens em Minas

Enquanto o salário médio de um homem branco em MG era de R$ 1.875, em 2010, 52% maior que o da mulher branca de R$ 1.228,02, o da mulher negra era menos da metade alcançada pelo homem branco, de R$ 704,64 no período, diz IBGE


postado em 01/11/2014 00:12 / atualizado em 01/11/2014 07:51

Ana Paula dos Reis engrossa contingente de mulheres sem renda. Ela são o dobro dos homens nessa situação (foto: Marcos Michelin/EM/D.A Press)
Ana Paula dos Reis engrossa contingente de mulheres sem renda. Ela são o dobro dos homens nessa situação (foto: Marcos Michelin/EM/D.A Press)


A mulher brasileira está estudando mais, representa o maior contingente entre os estudantes universitários do país e aumentou sua participação no mercado de trabalho formal. Ainda assim, apesar do tempo maior no banco da escola, continua recebendo menos que o homem. A disparidade salarial é grande e firme no país: em média elas ganham 68% do que eles recebem. Os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) comparam números de uma década (2000 e 2010) e mostram que as diferenças salariais se aprofundam quando comparados negros e brancos.

O ritmo vagaroso de queda da desigualdade salarial surpreendeu especialistas que esperavam uma redução mais rápida, Isso porque, em 2010, o percentual de mulheres entre os universitários, considerando a faixa de 18 a 24 anos, era de 57,1% e no período cresceu também a taxa de atividade do sexo feminino. . Em 2000 as mulheres recebiam 65% do salário médio de um homem, saltando para 68% em 2010. Em Minas Gerais a relação é de 66%, menor que a média nacional, embora no estado, assim como no restante do país elas sejam a maioria do contingente com curso superior, 12,3% contra 8,72% do sexo masculino. Em Belo Horizonte as mulheres recebem em média 63% do salário do homem, percentual abaixo da média do estado e do país.


“As mulheres ainda ocupam menos cargos de chefia e de destaque, principalmente nas corporação privadas que preferem os homens. Esse é um tabu que ainda não conseguimos superar, está mais relacionado a uma questão cultural que a formação, já que as mulheres acumulam mais anos de estudo. A redução da diferença ocorre em ritmo muito lento”, avalia Roberto Piscitelli, professor de economia na Universidade de Brasília (UnB). Segundo ele, o nó tende a continuar se desfazendo nas próximas décadas.

A diferença salarial entre homens e mulheres brasileiras se aprofunda ainda mais, chegando a patamares alarmantes, quando observado a disparidade entre a média salarial de pretos, pardos e brancos. Enquanto o salário médio de um homem branco em Minas Gerais era de R$ 1.875, em 2010, 52% maior que o da mulher branca de R$ 1.228,02, o da mulher negra era menos da metade alcançada pelo homem branco, de R$ 704,64 no período.

Apesar de estarem em maior número no bancos da escola e terem salários mais baixos que o rendimento dos homens, Luciene Longo, demógrafa do IBGE, ressalta que isso não significa que as mulheres ganhem menos dentro de uma mesma empresa exercendo a mesma função deles. Mas sim porque elas estão mais representadas em profissões que pior remuneram como serviços domésticos e educação. “Mas de 90% das pessoas que exercem serviços domésticos são de mulheres”, afirma. No caso das pretas ou pardas, a situação é pior, porque a alta concentração de negras nas profissões que pagam menos é ainda mais alta e puxa a média para baixo, diz a especialista.

Entre 2000 e 2010 taxa de atividade cresceu mais entre as mulheres, porém, o crescimento da formalização entre elas (de 51,3% para 57,9%) foi inferior ao dos homens (de 50,0% para 59,2%). “Isso mostra que as mulheres estão concentradas em ocupações mais precárias”, diz Luciene. Entretanto, a demógrafa explica que a situação deve mudar daqui para frente por causa da lei das domésticas, que estendeu os direitos trabalhistas aos empregados de casa. “Não havia uma legislação muito segura. Ainda tem uma parcela que não está formalizada, mas antes de 2010 isso era ainda mais evidente”, revela. O professor de economia da FGV/IBS, Mauro Rochlin, concorda: “Esse fato está relacionado também ao mercado de trabalho doméstico, que emprega um grande contigente de mulheres e teve regras como a carga horária, definidas só recentemente".

Sem renda

Por todo o país, ainda é alto o número de mulheres sem qualquer rendimento. O percentual atingia 30% em 2010. No Sudeste a taxa alcançava 31,2%, o dobro da população masculina na mesma situação, que era de 16%. Ana Paula dos Reis, 31 anos, é mãe de três filhos com idades entre 12, 8 e 2 anos. Ela mora na periferia de Contagem, na Grande BH, e faz parte do percentual da população que não tem renda. Segundo a dona de casa, não encontrar escola e creches em horário integral dificulta sua entrada no mercado de trabalho. “Não tenho com quem deixar os meus filhos para trabalhar.” Em 2010 o nível de ocupação (razão entre a população ocupada e a população em idade ativa) das mulheres com filhos até três anos de idade que frequentavam creche (65,4%) é superior ao daquelas cujos filhos não frequentavam (41,2%).

Palavra de especialista

Luciene Longo, demógrafa do IBGE

Maior disposição para os estudos

“A explicação para as mulheres estarem em maior número nas salas de aula do ensino superior pode ser entendida com base nos dados de evasão escolar. De acordo com o levantamento do IBGE, os homens saem mais precocemente da escola em Minas Gerais. A taxa média de abandono (proporção de pessoas que não haviam completado o ensino médio e que não estavam estudando) é de 44,1% entre eles, contra 31,8% entre as mulheres. Isso ocorre porque, de modo geral, os homens se voltam para o mercado de trabalho, ao contrário das mulheres, que, na média, dão importância maior aos estudos. Entretanto, quando analisada a questão de cor, homens e mulheres pretos ou pardos estão em menor número nas universidades. Enquanto 17,8% das mulheres têm acesso ao ensino superior, o percentual cai para 7% entre as de pele escura. É uma questão histórica e cultural. Os negros, ao longo do tempo, tiveram menos oportunidades de acesso à universidade.”





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