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Estado de Minas

Usimina se divide e aguarda decisão

Um mês após seu afastamento da presidência, Julián Eguren diz que saída é reflexo de planos diferentes para gestão e futuro


postado em 26/10/2014 06:00 / atualizado em 26/10/2014 07:17

Há mais arestas difíceis de aparar na disputa entre os sócios da Usiminas, o grupo ítalo-argentino Techint e a Nippon Steel & Sumitomo, do que aparenta a briga judicial motivada pela destituição dos executivos indicados pela Ternium/Techint. Passados 30 dias de seu afastamento pelo Conselho de Administração da Usiminas, o ex-presidente Julián Eguren cumpre agenda em Belo Horizonte e São Paulo, trabalhando para minimizar os efeitos do conflito sobre as equipes da Ternium e os relatórios de bancos e corretoras. Em entrevista ao Estado de Minas, ele afirma que o desentendimento é reflexo de projetos divergentes de gestão e para o futuro perfil desejado da siderúrgica de Ipatinga, no Vale do Aço.

O Conselho de Administração da Usiminas se reúne terça-feira, sem expectativas de indicação de uma diretoria consensual, o que poderá limitar a pauta à discussão dos resultados do terceiro trimestre. A falta de consenso na sociedade, de acordo com Julián Eguren, ficou evidente nos últimos dois anos e chegou a travar avanços no desenvolvimento de produtos e de tecnologias que poderiam fortalecer a capacidade de competição da empresa.

“Temos uma visão diferente do projeto atual. Eles (o grupo japonês Nippon Steel) querem uma Usiminas dependente dos sócios controladores e nós (a Ternium) queremos uma companhia forte e capaz para decidir usar os seus sócios quando achar que há necessidade”, disse o ex-presidente da siderúrgica ao EM. Sem esconder o desejo de voltar ao comando da empresa, Eguren sustenta que seu afastamento e o dos vice-presidentes Paolo Bassetti, de subsidiárias, e Marcelo Chara, industrial, não passa de uma cortina de fumaça que encobre o embate nas pretensões dos acionistas para a Usiminas.

A Nippon admitiu as divergências, mas tenta reduzir as consequências do conflito na condução da companhia. “É natural que os sócios tenham visões diferentes e isso não tem relação com a saída dos executivos”, diz um representante do grupo ouvido pela reportagem.

Um dos pontos centrais desse desencontro de visões, apontou Julián Eguren, consiste na vinculação de transferência de tecnologia e assistência técnica do grupo japonês à empresa mineira, o que impediria o acesso da Usiminas a fornecedores mais capacitados em determinados segmentos de produtos. Esse engessamento, diz Eguren, explicaria por que a usina de Ipatinga ainda não tem ótima performance em algumas das linhas de produtos. “São itens que a Nippon não produz, mas não podemos contratar assistência de outra empresa. Tem de ser necessariamente a da Nippon, por força de contrato. Essa é uma visão de passado”, critica.

O executivo do grupo japonês rebate, alegando que a Nippon não interfere na política de compras da siderúrgica mineira. “É natural transferir as nossas tecnologias para a Usiminas. A gente já está na empresa há mais de 50 anos”, afirma. Como demonstração de que o sócio japonês quer a independência de gestão e decisão da Usiminas, diz que a empresa japonesa defendeu em negociação com a Terninum relacionada a questões de governança corporativa, a maior autonomia dos chefes das usinas, a elaboração de um plano de sucessão para os brasileiros e procedimentos para análise e acompanhamento de investimentos.

Com extenso currículo de atuação na Usiminas, um consultor do setor siderúrgico que prefere se manter no anonimato reforça o questionamento de Julián Eguren sobre a longevidade do acordo de transferência de tecnologia da Nippon à empresa mineira. “A Nippon viu na Usiminas uma oportunidade para vender sua tecnologia e desde o ingresso dos japoneses na companhia tem sido assim, com a renovação automática do acordo de transferência de know-how”, afirma. O tema não é estranho aos sócios da Usiminas. A Ternium constituiu no México uma joint venture com participação da Nippon, a Tenigal.

EM XEQUE
Outro desconforto que os japoneses já não escondem resulta do que eles consideram um desequilíbrio de posições no quadro técnico qualificado da Usiminas. Há queixa de que alguns diretores da Ternium não ouviram as recomendações dos expatriados da Nippon. “A quantidade de expatriados tinha de ser quase a mesma na parte de cada sócio e antes de enviá-los a Ipatinga temos de verificar se esses cargos não podem ser oferecidos a brasileiros”, diz o representante do grupo japonês.

A Nippon informa ter 17 cargos qualificados na Usiminas e quatro na Unigal, enquanto os sócios argentinos teriam nomeado praticamente o dobro dessa equipe, descontados os executivos de diretoria. O ex-presidente Julián Eguren contesta, ao afirmar que a Ternium não teve o passaporte como critério, mas sim a experiência e atuação de seus indicados em outros projetos da companhia. O grupo é integrado por 21 argentinos, oito brasileiros, três venezuelanos, um mexicano e um colombiano.

Em contraposição aos argumentos da Nippon, o ex-presidente diz que sua gestão é reconhecida por ter dado à siderúrgica um sistema transparente de acompanhamento de indicadores de desempenho em várias áreas, aberto aos empregados. Cerca de R$ 15 milhões foram investidos nos últimos dois anos em capacitação e treinamento de pessoal, incluindo o intercâmbio das equipes das usinas de Ipatinga e Cubatão (SP).

Na noite de sexta-feira, a Ternium anunciou a nomeação do executivo Tulio Chipoletti para vice-presidente industrial da Usiminas. A decisão foi tomada por consenso pelo grupo de controle da companhia. Até então, o cargo vinha sendo acumulado pelo diretor-presidente, Rômel Erwin de Souza, que na semana passada fez pronunciamento aos funcionários na tentativa de tranquilizá-los sobre a situação da empresa. Ele foi indicado pela Ternium, conforme previsto no Acordo de Acionistas. No entanto, a nomeação, segundo nota, tem caráter temporário.


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