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Estado de Minas

Veículos responsáveis pelo transporte nas indústrias passam por teste

Objetivo é aumentar a produtividade e reduzir o impacto ambiental


postado em 22/10/2014 06:00 / atualizado em 22/10/2014 06:53

Dentro e fora das fábricas, das minerações aos pátios das indústrias de alimentos, nas rodovias e nas estradas de ferro, iniciativas visando ao aumento da produtividade do transporte e à redução do consumo de combustíveis fósseis tendem a ganhar corpo num cenário de gastos mais altos com energia em 2015 e de expectativas de baixa taxa de crescimento da economia brasileira. As transportadoras discutem como participar desse esforço, por meio de um programa nacional de eficiência energética no escoamento de carga por rodovias, que está sendo formatado pela Confederação Nacional do Transporte (CNT). O projeto entra na pauta de prioridades do setor e será entregue ao próximo presidente da República.

A instituição pretende estender a proposta ao transporte ferroviário, logo depois de avaliados os resultados dessa etapa inicial, informou o coordenador de projetos especiais da CNT, Vinícius Ladeira. “Há um sinal claro de que as transportadoras têm interesse no tema e desejam participar. Nossa proposta consiste num programa voluntário, com olhar na redução do consumo de diesel, dos custos operacionais e das emissões de poluentes ”, afirma.

Em discussão desde o ano passado, a concepção de um projeto nacional de eficiência do transporte de carga rodoviário envolve treinamento permanente para os motoristas e adoção de tecnologias voltadas à redução do consumo de diesel em veículos novos e em uso, além de melhorias de logística. Depois de avaliar experiências em vários países, a CNT busca inspiração no programa norte-americano SmartWay, criado em 2004 e considerado um dos mais avançados no mundo desenvolvido, que, de acordo com Vinícius Ladeira, se engajou tarde nesse tema, há não mais de 10 anos.

Na indústria da mineração, as ações dedicadas a uma gestão sustentável também exibem iniciativas pela eficiência no transporte. A mineração Casa de Pedra, da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), encampou recomendações de um estudo feito no ano passado, com a parceria da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), que traçou estratégia para a redução de 5,9% do consumo de óleo diesel na frota mecânica da mineradora e de 6,4% por aqueles equipamentos movidos a diesel e motores elétricos. A pesquisa foi proposta como tese de mestrado em engenharia mineral pela Ufop do engenheiro de desenvolvimento da companhia Walter Schmidt Felsch Junior.

Orientador da pesquisa, o professor Adilson Curi, do Departamento de Engenharia Mineral da Ufop, conta que o levantamento indicou as melhores rotas dentro da mina adequadas aos dois tipos de caminhões. “Durante os três meses em que os testes foram feitos, 134,8 mil litros de óleo diesel deixaram de ser queimados, sem que a produtividade da frota fosse afetada”, afirma Curi. O estudo comparou o consumo energético dos caminhões carregados em deslocamento para cotas superiores e inferiores da mina, identificando as rotas mais econômicas. Participaram da pesquisa os engenheiros Edmo da Cunha Rodovalho e Bruno Prado Meireles.

Consultor na área da mineração e presidente do Conselho Empresarial de Mineração e Siderurgia da Associação Comercial e Empresarial de Minas (ACMinas), José Mendo Mizael de Souza diz que é necessário a qualquer empreendedor definir medidas de eficácia ambiental como prioridade de gestão. Isso independentemente, inclusive, do ambiente da economia, é impulsionado em momentos de restrição ao crescimento do país ou do setor. “É parte crucial e permanente do negócio, com todos os desafios que a logística apresenta”, afirma. Ele observa que a eficiência passa pela questão da oferta de energia e de malha de transporte bem estruturada no país. E lembra que as empresas tornam-se competitivas dos portões para dentro.

Metas audaciosas

A Política Nacional sobre Mudança do Clima, promulgada em 2009, estabelece o compromisso voluntário do Brasil com medidas para mitigar as emissões de gases de efeito estufa (GEE), para redução entre 36,1% e 38,9% das emissões estimadas até 2020. Inventário elaborado pelo Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) mostra que mais de 90% das emissões do setor são provenientes do uso de combustíveis fósseis. As principais empresas produziram inventários próprios de emissões, informando os resultados, o que serviu como referência de um esforço de toda a indústria mineral, agora complementado pelo Plano Setorial de Mitigação na Mineração e o Inventário de Gases de Efeito Estufa do Setor Mineral.

A análise de mais de 80% das emissões, segundo Ibram, está contida nesses documentos. No estudo Gestão para a sustentabilidade na mineração: 20 anos de história, o instituto destaca que a gestão do uso de energia é uma prioridade para o setor, pelo fato de representar impacto direto nos custos da produção. Associado a isso, o nível de eficiência deverá avançar no setor em razão do tratamento mais efetivo de destinação e destruição de resíduos.

Teste para o biodiesel
Desafio tão marcante quanto o desenvolvimento de tecnologia para a redução do consumo de combustíveis não renováveis, o uso de biodiesel no transporte de carga enfrenta um dos seus primeiros testes com o projeto da mineradora Vale de transformar o óleo de palma em energia para mover os trens das estradas de ferro de Carajás e Vitória a Minas. A companhia informou que está trabalhando nos projetos de construção da usina que produzirá o biodiesel a partir do segundo semestre de 2016. A mistura vai alimentar inicialmente as operações de escoamento de minério do Pará, para numa segunda etapa ser testada na ferrovia que liga as reservas mineiras ao litoral do Espírito Santo.

A estratégia da Vale é usar o óleo de palma, mais conhecido como dendê, para suprir a demanda de biodiesel adicionando o B25 (25% de biodiesel e 75% de diesel comum) nas locomotivas da Estrada de Ferro Carajás e o B20 (proporção de 20% de biodiesel e 80% de diesel comum) nos equipamentos das minas no Norte do país. Por meio de sua controlada Biopalma SA, instalada no Pará, a companhia prevê uma produção de 540 mil toneladas da fonte alternativa em 2019, período em que a lavoura deverá entrar na maturidade. Desse volume, 70% da parte da mineradora no negócio serão transformados em biodiesel. O projeto consumirá investimentos de US$ 633 milhões na Biopalma e na planta do combustível verde. Das cinco usinas extratoras do óleo do dendezeiro previstas, a primeira entrou em operação no município de Moju, distante 150 quilômetros de Belém.

O biodiesel já usado no Brasil, obtido principalmente da soja, passará em novembro a ser misturado ao diesel na proporção de 7%. O percentual havia subido de 5% para 6% em julho, como parte da política nacional de estímulo ao combustível renovável, mas ainda é cedo para imaginar seu uso em grandes proporções na indústria ou nos veículos pesados. A Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e de Lubrificantes (Fecombustíveis) divulgou, recentemente, que a instituição vê a necessidade de ajustes na especificação técnica do produto, da mesma forma que defende a revisão das normas de manuseio e armazenagem.

Cerca de 70% do biodiesel produzido no país é proveniente da soja, enquanto 20% têm origem em sebo bovino, 4%, em óleo de algodão e 6%, em outras matérias-primas. A mistura ou substituição do diesel comum ainda não está contemplada nas discussões conduzidas pela CNT para criação de um programa nacional de eficiência energética, devido à necessidade de estudos sobre o uso do biodiesel. O coordenador de projetos especiais da instituição, Vinícius Ladeira, trabalha na tabulação dos dados de uma pesquisa feita em junho com 292 empresas de transporte de carga. O levantamento tem como objetivos avaliar a percepção do setor sobre o tema e o nível de eficiência energética nas empresas. (MV)

 


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