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Estado de Minas

Inflação acumulada em 12 meses é a maior desde 2011

Alta do IPCA no acumulado de 12 meses chega a 6,75% em setembro e ultrapassa o teto da meta prevista pelo governo, de 6,5%. Na Grande BH, a inflação para o período ficou em 6,4%


postado em 09/10/2014 06:00 / atualizado em 09/10/2014 07:55

O dragão da inflação ficou mais voraz em setembro. Ele passou pelo mês faminto e levou o custo de vida no país a ultrapassar o teto da meta do governo para a carestia. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) bateu em 6,75% em 12 meses, acima dos 6,5% previstos como limite para a inflação do ano e muito superior ao centro da meta, de 4,5%, de acordo com os dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com o atual cenário, aumenta o risco do IPCA fechar o ano acima do teto da meta, algo que não ocorre desde 2003. A alta do índice em setembro atingiu 0,57% no Brasil.

Os alimentos foram os produtos que mais pesaram no bolso no mês passado. A maior contribuição ficou com as carnes, que subiram 3,17%, a maior alta desde outubro do ano passado. Pastos mais secos em virtude do período de entressafra e produtores se dirigindo mais a atender a demanda externa, depois que a Rússia aumentou a importação, pesaram no índice. No ano, ao preço da carne sobe 12,23%.

Outros produtos alimentícios, como a farinha de mandioca e as frutas, também tiveram altas expressivas em setembro e surpreenderam: 2,52% e 2,11%, respectivamente. Por outro lado, produtos como tomate, batata-inglesa e feijão carioca tiveram quedas nos preços no período.

Rosana Almeida gastava R$ 100 por mês com a compra de carnes e agora desembolsa R$ 150(foto: Beto Magalhaes/EM/D.A Press)
Rosana Almeida gastava R$ 100 por mês com a compra de carnes e agora desembolsa R$ 150 (foto: Beto Magalhaes/EM/D.A Press)
Na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), o IPCA apresentou variação de 0,46% em setembro, e é a quinta menor entre as 13 áreas pesquisadas pelo IBGE. Com isso, os resultados acumulados em 12 meses atingiram 6,4% na Grande BH, também abaixo do registrado para o Brasil. Assim como no resto do país, na RMBH a alimentação e bebidas foram responsáveis por impactar o índice. A variação do grupo passou de uma queda de 0,16% em agosto para um crescimento de 0,79% em setembro.

Com os alimentos como vilões do orçamento, após terem caídos por três meses seguidos, muitos são os consumidores em BH que têm mudado hábitos para não ficarem apertados no fim mês. Na mesa da auxiliar administrativa Rosana Almeida, por exemplo, o bife tem perdido o lugar. Isso porque, segundo ela, o preço das carnes de primeira tem pressionado a renda da família e, por isso, ela tem optado por comprar frango. “Antes, gastava R$ 100 por mês no açougue, hoje, com alta nos preços, chego a gastar R$ 150”, compara. Outra forma que também encontrou para driblar os aumentos, foi a redução da quantidade do que compra. Segundo o IBGE, no IPCA, a carne, tanto no Brasil, quanto em Belo Horizonte, é a líder dos impactos e chegou a ter um aumento de 3,18% em setembro na capital mineira, contra 1,14% no mês anterior. No Brasil, o quilo ficou, em média, 3,17% mais caro.

Os clientes do açougue de Orlando do Amaral estão assustados com os reajustes dos cortes bovinos(foto: Beto Magalhaes/EM/D.A Press)
Os clientes do açougue de Orlando do Amaral estão assustados com os reajustes dos cortes bovinos (foto: Beto Magalhaes/EM/D.A Press)
Para Orlando Costa do Amaral, dono do açougue Rei da Carne, no Mercado Central de BH, há 17 anos, o alto valor tem espantado a clientela. “Tem caído o consumo e os clientes estão ficando mais assustados”, observa. Ele destaca que sua conta em frigoríficos tem ficado 30% mais cara: a carne de primeira está entre as que ficaram mais caras. Antes, o quilo do filé mignon, por exemplo, ficava em torno de R$ 20. Hoje, custa R$ 31,90, uma variação de quase 60%. “Mas não é algo raro. Todo ano há o período da entresafra e, antes, de junho até dezembro, a carne subia muito. Este ano, está cara, mas está estável. A exportação é um fator que contribui para isso, uma vez que o que sobra nas mãos dos produtores é vendido a preço alto no mercado interno”, comenta.

FACADA NA CARNE

Na avaliação do analista do IBGE-Minas, Antonio Braz, de fato, a carne, é a grande vilã e a entresafra pode ser um dos fatores para isso. “Há ainda a situação da seca, que pode ter impulsado a alta.” Ele diz que o IPCA da Grande BH variou de -0,02% em agosto para 0, 46% em setembro. “Houve uma reversão puxada, principalmente, pelo setor alimentício e de bebidas. E foi o que ocorreu em todos os lugares do país”, comenta. A alimentação fora de casa, apesar de ter caído um pouco, ainda exerce forte pressão no grupo de alimentos e bebidas. Em BH, comer em restaurantes e lanchonetes ficou 0,32% mais caro, contra 0,41% em agosto. A queda, na visão de Antônio Braz, é pequena. O lanche, por exemplo, passou de -0,09% em agosto, para 0,82%. Já o café da manhã sofreu movimento contrário: teve variação de 0, 31% em setembro, contra 2,2% em agosto.

As refeições tiveram queda de 0, 01% neste mês, sendo que no mês anterior, tinham subido 0, 53%. Nayara Torrane da Silva Alves já sentiu isso no bolso. Nos últimos meses, ela tem evitado comer fora de casa porque tem achado que os preços nos restaurantes estão salgados demais. “Estou pagando por esse prato feito R$ 17,90. É muito caro. Tempos atrás, pagava 20% a menos pelo mesmo prato. O jeito é deixar os restaurantes só para as ocasiões especiais”, diz.

Outros alimentos que sofreram variação na capital foram aves e ovos (1,92% em setembro contra -1,80% no mês anterior), leites e derivados (2,60% em setembro, contra 1,26% no mês de agosto) e panificados (0,86% contra -0,13%). A variação de 0,86% no grupo habitação está associada aos aumentos de 1,99% no gás de bujão (contra queda de 0,48% no mês de agosto) e 1,34% na energia elétrica (contra queda de 2,68% em agosto). No grupo despesas pessoais, a variação de 0,68% dos Serviços pessoais continua elevada, mas foi inferior à verificada em agosto (0,92%). Já o item recreação passou de uma queda de 3,17% para um aumento de 0,65%. Por outro lado, no grupo transportes houve uma redução de preços de 0,02% devido à queda de 0,70% nos combustíveis.

O jeito é mudar o cardápio

Brasília – Diante da inflação crescente, puxada pelos preços dos alimentos, o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland, aconselhou os consumidores a mudar o cardápio doméstico, trocando itens caros por outros mais em conta. Durante a entrevista para comentar os números do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de setembro, pressionados pelo aumento da carne bovina, ele ressaltou que o brasileiro tem várias opções de produtos com tabelas mais comportadas, como ovos, frango e outras aves.

Holland explicou que a estiagem prolongada, a atual entressafra e o avanço das exportações deram impulso adicional ao valor das carnes no mercado interno. Elas subiram 3,17% no mês, contribuindo de “forma relevante” para aumento do grupo alimentação e bebidas. O secretário ainda destacou a deflação de itens importantes como a farinha de mandioca, que recuou 26,54% no ano. Sua expectativa é que os alimentos apresentem nos últimos três meses do ano comportamento melhor que igual período de 2013, ajudando o IPCA a ficar abaixo da margem de tolerância da meta (6,5%).

O secretário tentou minimizar o estouro do teto da meta de inflação, que segundo o IBGE atingiu 6,75% em setembro. “A meta de inflação é para o ano e não para o mês”, reagiu. Sua aposta é de que a expansão do custo de vida deve fechar o ano em 6,2%. Ele também minimizou o impacto da alta recente do dólar sobre a carestia. “Como o câmbio é flutuante, é difícil avaliar”, disse, sem responder se o IPCA mais alto tira espaço para reajustar a gasolina.


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