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Estado de Minas

Estiagem prolongada aumenta lucro de empresas

Com escassez de chuvas, empresas que vendem produtos e prestam serviços para aliviar a falta de água registram aumento de mais de 40% no faturamento nesta época em Minas


postado em 30/09/2014 06:00 / atualizado em 30/09/2014 07:25

Com demanda de caminhões-pipa em alta, Fabiano Bretas diz que empresa está vendendo 44% mais em função do clima (foto: Beto Magalhaes/EM/D.A Press)
Com demanda de caminhões-pipa em alta, Fabiano Bretas diz que empresa está vendendo 44% mais em função do clima (foto: Beto Magalhaes/EM/D.A Press)
A seca prolongada que atinge praticamente todo o estado e gera perdas para vários setores faz transbordar o caixa das empresas com produtos e serviços que aliviam o calor e amenizam a escassez de água. Da venda de ventiladores à perfuração de poços artesianos, passando pela contratação de caminhões-pipa e de cisternas de captação da chuva, empresas registram até 40% no faturamento em função do clima. O serviço de caminhão-pipa, em alguns casos, passou a demorar mais de dois dias para atender à demanda, que triplicou.

Em dias normais, a empresa Água Peixe Vivo faz cinco viagens diariamente do caminhão-pipa. Hoje, em média, são 15 por dia. Geralmente, o volume solicitado é de 10 mil litros, o que custa R$ 230. “A demanda aumentou muito. Nos últimos 10 anos esse tem sido o melhor momento de vendas”, afirma o proprietário da Água Peixe Vivo, Fabiano Palma Procópio Bretas. Segundo ele, sem a estiagem prolongada seu faturamento mensal girava em torno de R$ 18 mil. Hoje, são R$ 26 mil, aumento de 44%. “A demanda está tão alta que peço prazo de dois dias para fazer o serviço. Caso contrário, não damos conta.” Ele ressalta que um dos bairros que mais o aciona em BH é o Buritis, na Região Centro-Sul.

A região, conforme já mostrou o Estado de Minas, tem sofrido com a falta de água desde junho, devido, segundo a Copasa, à variação acentuada do nível do reservatório Barreiro. “É uma população que está sempre solicitando esse serviço”, comenta Fabiano, reconhecendo que, com a seca, os poços artesianos de onde a empresa retira a água para o caminhão-pipa estão também com baixo volume. “Antes, conseguíamos tirar 10 caminhões por dia em um poço em Contagem. Hoje, são oito. A solução que temos é, muitas vezes, comprar água para atender os consumidores”, afirma.

Segundo a administradora da empresa de locação de caminhão-pipa Lokarsena, Angélica Sena, nesse período do ano as encomendas praticamente dobram na Grande BH. Por dia, a empresa tem feito 30 entregas, sendo que o normal seriam 15. “Essa alta ocorre todo ano de seca”, diz.

Arthur Melgaço afirma que demanda por poços artesianos cresceu 40%, mas burocracia trava maior rapidez nos serviços (foto: Beto Magalhaes/EM/D.A Press)
Arthur Melgaço afirma que demanda por poços artesianos cresceu 40%, mas burocracia trava maior rapidez nos serviços (foto: Beto Magalhaes/EM/D.A Press)
No poço No mesmo ritmo, as empresas que fazem poços artesianos em Minas também estão com demanda cerca de 40% maior. “A alta procura vem desde o começo de julho. Antes, pedíamos prazo de até 20 dias para iniciar as obras; hoje, estamos pedindo de 30 a 40 dias”, conta o dono da Àgua Poços, Árthur Pereira Melgaço. Ele ressalta que os órgãos ambientais mantêm as burocracias para liberação da construção de um poço e, por isso, ele não consegue aumentar o número de serviços feitos por mês. “Faço 15 obras mensais e continuo nessa média, mesmo com essa alta demanda. Além da burocracia ambiental, há ainda a falta de mão de obra especializada”, queixa-se Arthur.

Ele explica que o valor dessa intervenção vai depender da região onde o poço será instalado, a capacidade e quantidade de material usado na obra. “Tem gente que pede poço com capacidade de 500 litros por hora, atendendo uma família de quatro pessoas, e tem gente que quer água para o plantio. Um poço de 60 metros, por exemplo, vai chegar a custar em torno de R$ 15 mil”, comenta. Para a sua empresa, a procura tem sido maior nas cidades de Betim, Caeté, Sabará e Ravena, todas na região metropolitana. Em outras empresas pesquisadas pela reportagem, o metro cobrado para a construção de um poço chega a R$ 300. Assim, um poço de 100 metros custa R$ 30 mil.

Ganhos com calor e a baixa umidade do ar

Com a umidade do ar perto dos 30%, nível de alerta segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a saída para muitas pessoas é a compra de umidificadores para melhorar a respiração. De tamanha procura, a oferta dos aparelhos não é suficiente para suprir o consumo. Nas unidades do Hipercentro de Belo Horizonte das principais redes varejistas, o estoque esgotou. Segundo a vendedora da Casas Bahia Lorrane Juliana Dutra, basta chegar um carregamento que imediatamente acaba tudo. “Está em falta no mercado. Não dá nem tempo de repor o estoque”, diz ela. A saída é anotar o telefone do cliente e avisar quando chegar para que o consumidor garanta o seu. O mesmo cenário se repete em todos os concorrentes.

Sem umidificadores de ar, a procura por ventiladores é que teve alta para o período em relação a outros anos. Na unidade das Casas Bahia, por dia, cada vendedora tem comercializado entre 15 e 20 ventiladores.

Na rede Furacão Ventiladores, os negócios estão melhores que no mesmo período do ano passado, mas o topo se dá entre meados de novembro e de fevereiro. O gerente geral Paulo Leandro Coelho afirma que o vento da primavera ajuda a refrescar, enquanto no verão tem-se um calor abafado, mormaço, que força o consumidor residencial a ter um ventilador. “Quando o bicho pega, chega a vender 2 mil peças por semana”, diz ele. O balanço do mês mostra média de 500 aparelhos.

Além disso, o período é marcado pelas encomendas de empresas e escolas com a verba orçamentaria do novo ano letivo, mas com as incertezas sobre a situação econômica, uma pisada no freio pode segurar o setor mesmo se o calor persistir em alta até a virada do ano. De uma só vez, o comprador de uma empresa de ônibus, Róbson Leonel, levou quatro ventiladores para o almoxarifado de uma nova unidade da companhia. “A partir de agora, quase toda semana a gente compra”, afirma ele.

Cisternas multiplicadas

A necessidade de socorrer as famílias atingidas pelas secas e garantir o abastecimento delas durante o período da estiagem atraiu a multinacional Acqualimp para Montes Claros. Uma fábrica de cisternas de captação de água da chuva, feitas de polietileno, foi implantada no Norte de Minas. O empreendimento gerou cerca de 100 empregos diretos e indiretos e funciona de vento em popa, a fim de atender à demanda, cada vez mais crescente.

Depois de vencer a licitação, a indústria firmou contrato com a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf) para entrega de 27.506 cisternas em 47 municípios do Norte de Minas e do Vale do Jequitinhonha, dentro do Programa Água para Todos, do governo federal. Foi firmado contrato para o fornecimento de outras 10 mil cisternas para serem distribuídas pelo Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), pelo mesmo programa.

Cada cisterna tem capacidade para armazenar 16 mil litros de água, o suficiente para uma família de cinco pessoas beber e cozinhar os alimentos durante seis meses de estiagem. A água é captada durante o período chuvoso, sendo aparada no telhado das casas e conduzida até a cisterna por um sistema de calhas e canos até o interior do reservatório.

As cisternas trouxeram a tranquilidade para milhares de famílias que sempre sofreram com a escassez da água durante os períodos críticos da seca. É o caso da aposentada Geralda Gonçalves da Silva, de 79 anos, moradora da comunidade de Rio da Serra, na zona rural de Montes Claros. “Essa caixa (cisterna) foi uma coisa maravilhosa. Antes, a gente sofria muito com a falta d’água’. Só tenho que agradecer a Deus por isso”, diz Geralda, que vive num lugar isolado, a 46 quilômetros da sede do município. Na localidade, foi perfurado um poço tubular, mas os moradores reclamam que a vazão do poço é pequena, sendo insuficiente para atender às necessidades das famílias no período critico da estiagem. (LR)


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