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Estado de Minas RISCO REAL DE RACIONAMENTO

Ainda existem brasileiros que não sabem o que é ter energia

Custo elevado de restrição no fornecimento e incerteza quanto à necessidade adiam decisão do governo


postado em 23/03/2014 06:00 / atualizado em 23/03/2014 08:20

Com falta de nuvens para trazer as tão esperadas chuvas, sobram dúvidas sobre o risco de desabastecimento de energia no país hoje. Para Jorge Trinkenreich, diretor da PSR Consultoria, as simulações oficiais subestimam a real probabilidade de ser decretado um racionamento. Na previsão do Ministério das Minas e Energia (MME), os reservatórios podem chegar a 15% em novembro, nível muito próximo do mínimo necessário para uma usina operar, que é de 10%. Em cinco das 81 séries históricas para a Região Sudeste; e em 36 das mesmas séries para a Região Nordeste, essa situação já se repetiu. “Ao contrário do afirmado pelo governo, há uma possibilidade real de racionamento caso ocorram afluências desfavoráveis, mas plenamente plausíveis, como as observadas no passado”, constata o Energy Report, relatório elaborado pela PSR para o mês de fevereiro.

Em Medeiros, o pecuarista Carlos Cunha, a mulher Eliana de Jesus e o filho Adryan Sobral vivem sem luz, mesmo morando a 2 quilômetros da rede de distribuição(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Em Medeiros, o pecuarista Carlos Cunha, a mulher Eliana de Jesus e o filho Adryan Sobral vivem sem luz, mesmo morando a 2 quilômetros da rede de distribuição (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Por outro lado, o custo de uma redução compulsória no consumo pode ser alto para a economia. “Existe um custo para as máquinas, tanto do setor elétrico como das indústrias, desacelerarem. Por isso, o anúncio de racionamento sem a certeza de que ele será realmente necessário é inviável”, avalia o diretor de uma concessionária paulista que pediu para não ter o seu nome divulgado. Ele garante que, se tivesse que tomar uma decisão neste momento, não haveria racionamento no país.

SEM LUZ
Enquanto isso, em muitas partes do Brasil ainda existem brasileiros que não sabem o que é ter energia em casa, como o pecuarista Carlos da Cunha, de 36 anos. Ele não vive em um rincão isolado nem tem de recorrer a métodos arcaicos de sobrevivência, mas amarga as dificuldades de não ter energia e saber que o cabeamento da rede elétrica passa a apenas 2 quilômetros dele, no distrito de Paiol Queimado, em Medeiros, no Centro-Oeste de Minas Gerais. Cunha é dono de uma fazenda de gado leiteiro que fica a 70 quilômetros da cidade, e onde vive há 3 anos com a esposa, Eliana de Jesus Sobral, de 31, e o filho, Adryan Sobral Aparecido Lemos, de 7. Ao se mudar para lá, a família tratou de comprar vários eletrodomésticos. Sem a energia, a geladeira virou dispensa, o fogão serve de armário e o forno de cristaleira.

Para o lavrador aposentado Manoel Caldeira Miranda, do município de Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, se o país vai enfrentar a falta de energia ou não, pelo menos por enquanto, não faz nenhuma diferença. Ele também não acompanha o noticiário sobre a crise energética. Manoel, junto da família, já vive em constante apagão.

Aos 73 anos, o aposentado nunca teve o benefício da energia elétrica em casa e ainda recorre à velha lamparina para iluminar as noites. “A gente vive no padecimento”, diz Manoel Miranda, ao reclamar da falta que a energia elétrica faz à sua família. “A gente não pode ver televisão nem ligar um rádio. Não tem nenhum conforto”, lamenta. Mas ele diz que tem a esperança de que não vai morrer sem acender uma lâmpada dentro de casa. “Eu queria ter a energia para ter pelo menos uma geladeira e poder tomar uma água gelada”.

Com a filha Natália, o aposentado Manoel Miranda confessa o desejo de ter energia e comprar uma geladeira. Mas, por hora, a luz na casa dele, em Araçuaí, vem da lamparina(foto: Sérgio Vasconcelos/Gazeta de Araçuaí)
Com a filha Natália, o aposentado Manoel Miranda confessa o desejo de ter energia e comprar uma geladeira. Mas, por hora, a luz na casa dele, em Araçuaí, vem da lamparina (foto: Sérgio Vasconcelos/Gazeta de Araçuaí)


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